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segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Eu estive no Limbo

Ando procurando em muitas bocas algo que minha própria boca não tem.
Encosto meus lábios vermelhos, secos de vontade, em outros lábios vermelhos e também secos de vontade, mas eu não sei do que.

Me embriago em cheiros. É um êxtase de novas sensações, é testar novos limites. É testar o meu limite. O limite que tenho, mas que não me imponho. É o limite traçado por meus sonhos, meus ideais e minhas ideias, não por medo ou insegurança.


Ando procurando entre línguas e dentes um equilíbrio que não há mais em mim. Ando procurando com volúpia e sofreguidão a boca que calará a minha boca, e a língua que me fará perder palavras e usar jargões. E principalmente os olhos que com seu suave dançar despertarão o que de melhor há em mim.

Procuro entre dentes, irregulares e destoantes, a simetria absurda de sentimento e razão. Ouso procurar entre seu marfim, a pedra preciosa de um sorriso sincero, a luz ofuscante que deixará minhas pernas bambas e minhas mãos suadas. Borboletas no estômago.

A verdade é que perdi a bambeza das pernas: enlaçam minha cintura, beijam minha boca, enroscam os dedos em meus cabelos, mas não chegam a minha espinha dorsal. Não há arrepio que vá além de minha epiderme. Não há amor que dure mais que alguns instantes. E vou me viciando nestas pequenas doses, que cada vez estão menores em satisfação, e maiores em vontade.

Fiador

Pensei que tudo começaria e acabaria no instante em que nossas bocas se encontrassem e nossas línguas procurassem uma à outra, no calor enregelado de teus braços envoltos aos meus. Ingênua, pensei que conseguiria apagar dentro de mim essa chama trêmula, que insiste em arder e colocar meu coração em trabalho dobrado. Mas não.


Não consigo esquecer aquele castanho inominável que são seus olhos, e que até então eu nem tinha reparado bem. Uma mistura zombeteira e impossível de mel e fel, tendenciado ao chocolate. Seus olhos já eram dessa cor quando te conheci?

Foram apenas nossas bocas que se tocaram? Acho que você, por breves instantes, teve acesso a alguma parte de mim que eu não conhecia, e em sua incursão ao meu âmago, apertou algum botão que desencadeou uma erupção interna. Estou um caos por dentro, e nunca me senti mais confortável do que no meio dessa bagunça.

O que acontece agora? O que acontecerá depois que descobri que não era uma solução, mas o início de um problema? Quanta prepotência a minha, imaginar que resistiria a meu próprio coração que sempre apontou uma seta de neon para você. As luzes piscavam, o letreiro gritava uma mensagem de cuidado e eu não me importei.


Por sermos tão francos um com o outro, posso te falar abertamente: Pintou um enorme receio. Receio de fazer a coisa errada. Medo de destruir algo que acredito tanto, e que me faz tão bem. Mas acho que não posso mais te olhar da maneira de antes. É que meus olhos dançam risonhos procurando os seus, e meus sorrisos hoje tem um brilho a mais: estão cheios de lembranças. Lembranças de você... E pasme. Agora há lembranças de ‘nós’.

Estou chutando pequenas pedrinhas na rua, como criança que não sabe o rumo pra voltar pra casa. E minha casa é o instante silencioso em que teus olhos encontraram os meus, e descobri o gosto que sua boca tem. E ao mesmo tempo, este é meu inferno. É minha certeza de fazer o certo e errar profundamente ao fazê-lo.

Se eu ainda não te amo, Deus sabe que isso é uma questão de tempo. E de pouco tempo. Será que devo colocar meu coração de fiador dessa história?

Talvez

Menino pára de me torturar e  me deixa sentir o cheiro que tem seu pescoço quando você acorda de manhã! Para de complicar tudo e me deixa beijar essa tua boca grande e esse seu ouvido feito pra ouvir minhas mais doces palavras.


Deixa, que eu to cansada de sentir sua pele arrepiar embaixo dos meus lábios, quando tocam sua bochecha. Deixa, porque eu não vou conseguir prender nem com super Bond essa minha vontade de ter você, de enlaçar seu pescoço e fazer minha mão direita se encontrar com a esquerda bagunçando seu cabelo.

Para de complicar tudo com o talvez, porque eu poderia te amar bem mais do que já amo; se não tivesse que fingir o tempo todo que não ligo. Se não tivesse que disfarçar meus olhares e controlar a ênfase dos meus abraços e sorrisos.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Chove lá fora

Fecha a janela amor, que a chuva está entrando. Entrando sem que eu permita, e molhando com suas gotas geladas a minha face, misturando-se arteira às minhas lágrimas quentes e te confundindo. Eu choro, não é só a chuva. Choro porque aqui dentro há algo que não consigo transmutar em palavras.


Pela fresta aberta o vento uiva, trazendo em seu bailar as palavras que se entravaram em minha garganta. Garganta seca, ressequida. E as palavras que eu falo nem sempre tem o sentindo que eu queria que tivessem.

Fecha a janela, porque a chuva me trás lembranças, me acentua os medos, me angustia, e hoje eu quero deixar toda essa multidão de aflições do lado de fora. Quero dizer um eu te amo descompromissado, e sem peso. Quero colocar pra fora o que pesa em mim, o que eu queria dizer e não sei como.

Palavras não me bastam, e preciso transgredir minhas sílabas e letras e torná-las palpáveis. Preciso te abraçar forte e na curva dos teus braços encaixar minha miudeza e minha alma de menina. Quero envolver seu pescoço com todas as minhas fantasias, e tornar sua alma um playground de alegria, amor e cumplicidade.

Fecha a janela, que aqui dentro há uma música baixinha, uma prece silenciosa para que o mundo gire no sentido contrário. Para que tudo que é difícil não mais o seja. E, se for pra poder te beijar sempre que eu quiser, eu perco até esse medo de adjetivos.

E enquanto chove lá fora, deixa que o Sol reine aqui dentro, brilhando seu amarelo- acácias no seu sorriso de algodão. Brilhante como estes olhos que se encontram no silêncio das promessas não feitas, mas que serão cumpridas.

Fecha a janela e se aconchegue nos meus braços.

O problema sou eu

Antes de chegar a esse clímax eu tentei achar uma justificativa dentro de mim, mas não encontrei nada nesse escuro breu. Como é que se acorda depois de uma vida inteira dormindo ao lado de alguém, dizendo ‘eu te amo’, comendo a comida e se percebe que preferia estar em outro lugar, qualquer lugar do que ali?


Ainda lembro, com certa nostalgia e enternecimento, o dia em que te vi atravessar a passarela de olhares e dirigir seus olhos azuis e fugidios aos meus. Um sorriso de certeza nos lábios, um vestido branco cobrindo suas curvas jovens. Ninguém se casa pensando que vai dar errado. E 25 anos depois, a gente pensa que tudo deu certo.

E então, acordar depois da nossa festa de bodas de prata, com glacê de bolo no canto da boca percebendo que minha cabeça girava e não tinha nada a ver com a champagne barata bebida na véspera, teve um peso que nenhum halterofilista conseguiria carregar. Você não saberia o quanto foi difícil, o quanto ainda é. Me perdoe, mas não dizem que casamento foi feito pra mulher? O nosso foi feito pra você.

Vi seu corpo magro e sua pele branca dormindo gentis ao meu lado, e no seu rosto o mesmo sorriso de sempre. Antes eu me encantava ao te ver dormir, e agora eu queria sair de fininho antes de você acordar. Sair do quarto, da casa, da sua vida e da minha vida. Não ressone; não acorde. Eu suplicava no mesmo instante em que tentava remover meu corpo da cama, e ele não saia do lugar com o peso da minha culpa e do meu remorso a quadruplicar os meus 80 kgs.

No quarto ao lado nossos filhos dormiam, e, antes de me mover na cama pensei em todos os nossos planos pra eles, nos nossos sonhos pra reforma da casa, trocar o carro, e pensei em como burocratizamos e institucionalizamos o nosso amor. Era uma questão de nós, e eu não sabia onde ficava o “eu” dentro disso. Tinha medo de pegar minha identidade e ver uma foto andrógena, uma mistura da minha figura agigantada com seus traços diminutos. Eu não sabia mais que cara eu tinha, e não tinha cara de nada.

Não pense você que tirei aquelas fotos por paixão ela moça ou por vaidade. Era puramente covardia. Deixar um celular estourando de fotos comprometedoras, de números comprometedores e de SMS comprometedoras era minha maneira de impor a você uma decisão que eu fui covarde demais pra tomar. Então era fácil demais deixar você ver o que no fundo já sabia: Que fidelidade ficou uns 10 anos pra trás na nossa história. Mas se me perguntasse hoje se troquei por outra mulher, eu te diria que te troquei por mim. Talvez na época eu soubesse disso apenas de maneira subjetiva.

Então, quando cheguei em casa dias antes com a cueca do avesso, não pense que foi sem querer. Eu premeditei tudo nesse homicídio. Eu pensei em cada detalhe que te deixaria no limite, a ponto de tomar a sua decisão. A decisão que já era minha e que eu não tinha coragem. Cueca do avesso pode ser golpe baixo, mas no meu caso eu pensava que seria golpe de misericórdia. Mas você viu, olhou, fez que não viu e desviou os olhos pra revista. Tem coisas que era melhor não notar, né? E então eu tive que usar o estratagema das fotos.

Matei nosso casamento. Foi um crime qualificado e com intenção, mas foi um crime onde eu fui agente passivo. Deixei em suas mãos a competência de arrancar nossas alianças e atirá-las pela janela. Deixei para seu gênio fêmeo todo o drama e te deixei uma imagem minha que eu não queria que ninguém tivesse.

Fosse eu mais homem e podia ter dignidade, mas covardia só se alia com amor próprio, e preferi por muito tempo cantar o mantra de que você bem que merecia aquelas coisas todas. Fosse eu mais homem, e terminaríamos como tudo começou: com a certeza de fazer a coisa certa.

De consolo me resta o fato de que você sempre foi mais gente do que eu, e que amor pra você era coisa séria. Eu disse consolo? Perdoe. Essa é a dor.

Hoje tenho outra casa, outra mulher, outro corpo deitado ao lado do meu. Outra vontade de sair correndo, outra necessidade de encontrar coragem pra fazer diferente. E outra certeza de que vou acabar fazendo tudo igual.

O problema não era você, a institucionalização, a globalização. O problema era eu. E esse problema continua sem solução.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Não era amor de estação; era chuva de verão

Eu nunca quis te espremer. Nunca achei que ia chegar a seu sumo, sua essência te apertando, balançando as mãos e estendendo uma coleirinha dourada com um ‘F’ lustroso. Eu sei que amor é liberdade e nunca estive disposta a gastar a minha para tornar alguém meu refém. Sei que quem aprisiona, torna-se algoz de si, e transforma sua própria vida num cárcere. Eu sou de amar livremente, mas sou de amar. Entendeu?


De imperdoáveis ficarão a sua benquerença pelo cara da Tropicália ao invés do rapaz de olhos azuis; sua alma taciturna e seus anos que pesavam em dobro. Às vezes acho que você tem a alma mais velha que o corpo. Sua falta de imprevisibilidade, sua necessidade de ter rota certa; que contrastavam tão grandemente com meus 24 anos e minha necessidade de surpresa e chocolate em horas inesperadas. Eu quero muito o inesperado. De imperdoáveis ficarão as palavras não ditas e o bis daquela canção que você tocou pra mim e não me deu o gosto de ouvir uma segunda vez. Mas nossa vida é cheia de promessas não cumpridas, e não vou manchar a capa com detalhes do capítulo final.

Amores de verão são como canções inacabadas: sempre falta alguma coisa, e isso é literal. No nosso caso faltou vontade. Vontade de ter coragem, vontade de querer mais. Eu não quis, você não quis, e fizemos um acordo mudo de não nos querermos mais.

Faltou vontade de mais torradas e chá, chorinho. Faltou seu medo ser menor e meu desejo de fazer dar certo ultrapassar a minha apatia por romances mornos. Eu te disse que não sou de purgatório e você quis me entregar uma passagem só de ida pra lá. E se você é bom em se esquivar de substantivos, eu sou ótima em fugir da falta completa deles.

Nossas afinidades são imensas, mas nossas diferenças são apoteóticas também. Minha melhor amiga senta na frente no táxi, eu estico a mão e peço o garçom outra cerveja. Eu não me indigno com essas coisas, eu acho normal. E você se choca tanto com pequenos detalhes! E assim, de certa forma, sua letra muito rebuscada não coube bem na minha melodia cheirando a samba.

Você gastou muito tempo e energia em me manter a distância do seu coração, e não percebeu que pouco a pouco perdeu o espaço que tinha ganhado no meu. ‘Querer’ precisa ser regado para florescer, e você se preocupou em colocar cerca antes da semente germinar, matando qualquer chance de ir além do que para você era seguro e palpável.

Não se zangue por eu querer bem mais que uma estação chuvosa. Eu tenho tempo, mas não estou disposta a gastar com amores que não cheguem a virar letras de manhã, poemas de tarde ou sussurros de madrugada.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Transgressões

Sentada sob o encosto do banco naquele parque, apoiando os pés no verdadeiro assento, eu me sinto transgredindo regras. O ipê, antes amarelo, me parece pálido e distante. Suas flores, de cor viva, me são tão apáticas quanto seu tronco. E transgrido seu espaço, gosto e meu tempo.


Eu preciso de alguma transgressão. Preciso de uma insubordinação possível para dosar minha vontade de cometer absurdos, com minha razão atrapalhada. Para me servir de válvula de escape, na impossibilidade de escapar de me perder mais profundamente em tudo que realmente me tem valor. E olha, eu sou daquelas que não vê problema algum em ficar “fora de si” de vez em quando.


É certo que algumas pessoas pensam que as regras foram feitas para serem cumpridas, mas estou quase certa de que elas existem para serem quebradas, não é mesmo? Eu não mereço fugir dos padrões algumas vezes?


Eu tenho que percorrer meus dedos sobre sua pele para te arrepiar. Você me arrepia só com sua presença. Perturbador. Você bagunça meu ciclo lunar, me causa tsunamis, derruba encostas e destrói algo em mim no caminho pelo qual passa. E se eu tivesse juízo, dava as costas e sairia correndo, mas quem disse que tenho?

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

O mundo é tão complicado

Quando você me disse o nome daquela banda completamente desconhecida, eu juro, minha órbita foi alterada. Não poderia existir no planeta inteiro um único individuo que gostasse das mesmas coisas que eu, tivesse lido os mesmos livros, gostasse do mesmo doce e, por um descuido do destino, cruzasse o meu caminho. Eu, que jogava sempre nos números de azar recebi a maior bolada da sorte quando conheci você.


Sei que as aparências enganam, sei que é dificílimo acertar em todas as escolhas e imagino que o preço de tanta afinidade seja alto. Mas eu fiz várias reservas nesta minha vida, e agora estou disposto a colocar as cartas na mesa e jogar do seu jeito, mesmo que para isso precise aprender regras novas (ou até esquecê-las por completo).

Eu já te disse tudo que eu podia te falar, mas é estranho que este nó na minha garganta continue seco e apertado cada vez que engulo a saliva não gasta em um beijo que não te dei. E molho meus lábios ressecados com esta língua amolecida e dormente que não é usada para formar aquelas duas palavrinhas que eu queria te falar todas as vezes que nossos olhos se cruzam e meu nariz gelado encosta-se a suas bochechas quentes.

O mundo é tão complicado, e nós dois conseguimos fugir de alguns parâmetros e complicar ainda mais algumas coisas. Você parece que usa camuflagem nesse seu coração, eu nunca o encontro embaixo de sua armadura fria. E eu nem saberia por qual palavra começar se precisasse te falar o que se passa nesse meu músculo bombeador de sangue. Não sei ser distante, eu quero tudo ao alcance dos meus olhos e dos meus sentidos

Você me espanta com suas palavras, que muitas vezes não condizem com gestos. Me desnorteia ao ponto de não possuir mais um pólo magnético nesse meu planeta, e algumas vezes me tira o brilho de Sirius, os faróis que são seus olhos. Falta-me coragem para arriscar, e para desistir: entrego-me a inércia de esperar pelo seu primeiro passo. E me deixo corroer na ansiedade de que esse primo-passo nunca venha.

Antes de você eu tinha um plano bem traçado e pontuado. Que pretensão a sua, chegar e bagunçar todos os meus cronogramas, gráficos e mapas!

Quando foi, que sem perceber, abri a porta para o tufão devastador que é aquele ventinho quente que sai de seus lábios entreabertos enquanto você ressona dormindo?

Recostando-me em sua cama, escuto a água do seu chuveiro que brinca no seu corpo da mesma maneira que eu gostaria de brincar. Sou feliz só por compartilhar, mesmo que apenas auditivamente desse momento com você. Mas porque tanta reserva? Deixe-me entrar nessa sua vida e bagunçar tudo do mesmo jeito que você fez comigo!

Arrisque-se a perder a simetria complexa de suas linhas, e misture-se nas minhas cores.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Mineirinha

Não é que tenha desacreditado no amor, ou coisa do tipo. Na sua casa há um altar com rosas vermelhas, dedicado a todos os amores que passaram por ali. Com forro rendado e vela de alcaçuz, para na tessitura da renda caber todas as memórias e alcaçuz pra deixar no ar aquele cheiro doce de coisa boa que passou.


Banha-se em alecrim, e põem uma rosa no cabelo. Canela na carteira pra atrair dinheiro e novo amor. Mas não atrai é nada. Fim do mês e ela tá sem grana, em casa: com altar cheio e coração vazio.

Mas não desiste. Porque em algum lugar desse mundão de Deus deve haver alguém pra ficar junto. Alguém pra rir, derramar chocolate e brincar de lamber a bochecha. Tem que haver um tiquitinho de loucura nesse seu mundo tão lúcido. De lucidez, já chega a sua.

Vestido novo, cabelo novo, pulseira nova. Mas o coração é velho. Tá cansado de buscar alguma coisa inteira no meio desse tanto de retalhos, de remendar pedacinhos de pano tom-sob-tom para ver se vira uma coisa só. E num vira nada!

Essa moça não se esforça pro amor chegar, mas se chegasse ouxi. Que bom seria! E vive na expectativa de que, sem esperar ele apareça. E no fim, vira tudo uma expectativa ansiosa que só, e no fim ela espera, que espera. Namoradeira na janela. Senta, pés soltos no ar e namora a vida passar.

Mas do amor verdadeiro não desacredita. É igual cabeça de bacalhau: Nunca viu, mas que existe,existe.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

O dia em que perdi você

No dia em que perdi você o sol estava resplandecente no céu, e a tarde parecia coisa de cinema, daqueles filmes de mulherzinha que você tanto gosta, e isso me passou completamente despercebido na minha necessidade de ver tudo, menos você e as coisas que te importavam. Terminamos o dia deitados um ao lado do outro, assistindo meu seriado favorito e nem parei pra reparar que sua pele não tinha mais o calor habitual, e que você não havia jogado a perna direita sobre as minhas. Havia tempo que carinhos desse tipo tinham entrado no lugar-comum das coisas corriqueiras.


No dia em que perdi você, eu já havia perdido-a a muito tempo, nesse dia eu só ganhei consciência de que aquela morena espetacular, de covinhas e sardas não tinha mais nenhuma pinta de minha.

Fui ignorante em pensar que manter nosso amor significava te dizer ‘eu te amo’ automaticamente, e te ligar uma vez ao dia no trabalho pra ver como você tava. Isso era cuidado, e não, não bastava. Eu não parei pra pensar que você tinha todos os seus sonhos e desejos e que havia me dito, lá no comecinho, mexendo aquela boca rosada, que queria bem mais do que um amor ligado no 110. Você era 220 v, e não tinha qualquer adaptador que fizesse funcionar em outra voltagem.

Quando te perdi, dei de ombros e pensei que pior pra você, eu era um solteiro cobiçado, desejável, com milhões de baladas e amigos. Era jovem, bem empregado, falava inglês, lia tudo que o Stephen Hawking escrevia e conhecia o nome de umas 5 constelações, o bastante pra conquistar uma loira que desse de 10 nessa sua falta de modéstia, e nocauteasse o seu amor próprio – ingênuo, eu pensei que bastava me ver bem pra te fazer ciúmes e você voltar correndo. Mas isso passa morena, e eu sei que passei.

No dia em que me dei conta que te perdi, ignorei tudo que dizia a música do barão vermelho e chorei como menino pequeno. Debulhei minhas lágrimas em cima da sua camiseta rosa que ficou esquecida no meu guarda roupa, tinha seu cheiro flor, tinha você ali em cada detalhe de tudo: na cortina que você escolheu, nas meias novas que comprou pra mim, nas cuecas Box que você achava sexy, e até então eu não tinha aberto os olhos pra te ver em nenhum desses detalhes. Eu não te vi nas coisas pequenas, como veria nas grandes?

Naquela última vez que nos entregamos um ao outro. Você de olhos fechados o tempo todo. Achei estranho: você, que fazia amor com os olhos também, não querer ver? Seu brilho estava apagado, não tinha nesses lagos castanhos aquele ziriguidum que elevava minha testosterona a estratosfera e que era tão excitante quanto a loucura do seu quadril à brasileira. Só agora penso que você devia ter feito amor não com quem eu era naquele instante, mas com a lembrança do que eu tinha sido antes: O cara bacana e romântico que te agarrava pelos corredores, e punha flores no seu cabelo, que mordia sua cintura e fazia café da manhã pra você. Sabe, acho que deve ter sido brochante dormir com esse outro cara que eu me tornei. Eu ali te consumindo, e já tinha sido consumido há muito tempo dentro de você.

Quando tive que engolir meu choro, secar as lágrimas na minha camisa do Mengão, e aceitar que nosso time não passava agora de uma fotografia na gaveta, percebi que não me importava nenhum pouco com as toalhas molhadas que você deixava na minha cadeira. E não ligava se você cozinhasse sempre macarrão e/ou strogonoff, nem de perto tinha importância você ter cortado o cabelo curto e eu gostar dele comprido. Eu nem ligava pra suas amigas que diziam que você merecia coisa melhor: elas estavam certas, você merecia mesmo. Mas eu podia ser esse melhor pra você, é sério, eu podia.

Hoje vi suas coxas passando por mim, encimadas por aquele seu vestidinho de babados. Fui educado, e cumprimentei-as mas, não saberia dizer como você estava: me faltou coragem pra ver nos seus olhos meu reflexo e minha frustração. Acabou que disse ‘oi’ ao seu pezinho 37, tão pequeno para sustentar esse mulherão que me deixou sem eira nem beira. Suspirando toda a minha autoconfiança, te vi passar. Mais linda do que nunca, vestindo sua certeza de que da próxima será diferente.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Eu quero um substantivo

Essa falta de substantivo me assola. Sou coesa demais com meus sentimentos para ter um deles na prateleira sem a etiqueta de nome. Incomoda-me não ter a certeza de um contorno conhecido. Eu sei o quanto você gosta dessa dança solta, e embora eu não seja de coreografias decoradas, gosto de saber qual é o ritmo.


Tá, eu gosto de você. Gosto com tranquilidade e com aquele tom suave que tem uma camiseta branca. O que preocupa é que isso tem um sabor diferente, e como prato novo, não foi possível categorizá-lo em nenhuma das cozinhas que conheço.

Você me acha muito confusa, e é verdade eu sou. Nasci com direito a confusão, é uma questão de gênero: Sou mulher, sou confusa. Mas é você quem me confunde não dando nome pra essas coisas que a gente sente. Eu posso rotular? Ou você etiquetará nosso frasco?

Eu durmo com você. Eu durmo, você não. Eu te disse que era um péssimo indicativo, e você riu da minha maneira matemática de cotar suas reações como indicadores da bolsa de New York. É que racionalizar sentimento é impossível, então pego as beiradas que me sobram nesse cobertor curto e tento entender o que acontece nessa nossa aventura. Será esse o nome?

Sim, eu tenho alguns superpoderes. Sou elástica, tenho riso fácil. Não sei o que é obturar dente, falo de amor como quem fala de química: tenho a pretensão de conhecer todas as reações. Sou obtusa às vezes, e tenho um medo imenso de não compreender seus sinais. Mas nenhum dos meus superpoderes inclui saber o que está na sua mente, e eu nem sei se consegui chegar ao seu pericárdio, que dirá me instalar nesse seu coração?

Na minha contemplação muda, percebo bem mais do que você imagina. Desenho em minha mente o quadro clínico dessa nossa história, e vou rascunhando sua ‘ficha de personagem’. Você tem habilidades de destreza, carisma, esquiva – nessa você tem até bônus - e tem ganhado muitos pontos no corpo-a-corpo, que, aliás, sempre foi uma especialidade. E de armas, bem: só não quero que use a bat-corda e desapareça do meu palco; de resto sinta-se a vontade para fazer seu jogo.

Do outro lado da minha taça de vinho vejo seu sorriso, e, se não é um amor tipo o da cinderela, já visualizo alguém que conquistou essa minha estação chuvosa, e minhas tardes mais preguiçosas. Mas que nome tem isso? Como se chama essa vontade? Porque não damos um nome? Você sabe o quanto gosto de substantivos.

Sei que tudo que tem forma pode ser mapeado, e consequentemente destruído. Eu li com avidez ‘a arte da guerra’ e entendo bastante sobre em que terreno lutar, e quais as circunstancias me garantem maiores chances de vitória. A questão é que você foge dos meus parâmetros e escapa do meu rigoroso controle de qualidade. Na verdade, o que mais gosto em você, são justamente os defeitos.

Close, foco: fecho o diafragma, pisco mais rápido que o obturador, e leio nas entrelinhas a brevidade de tudo. Não, não quero um amor pra vida inteira, não tenho qualquer impulso reprodutivo-corporativo: pra isso eu tenho tempo. Eu só quero a certeza de um de seus verões, e poder dar nome para isso. Quero que este pequeno instante-tempo seja pleno e substantivado.

A falta de nome me assusta mais que o fato de fazermos planos. Planos pertencem ao voluntarioso futuro, e de nosso, nós dois sabemos, só temos o presente. Não estou preocupada com o que imaginamos. Com o que sonhamos ou planejamos. Não ter um agora me parece bem mais assustador do que não ter um depois. Você conseguiu me acompanhar? É que me parece tão difícil de explicar, e você vive dizendo que eu tenho palavras pra tudo. Eu tenho teoria pra tudo, mas na prática é tão mais difícil. Invariavelmente complicado.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

De minhas, nem as palavras.

De minhas, só as palavras. Nenhuma bolsa onde levar apenas o que posso carregar, nenhum castelo, ou espada para defendê-lo. De minhas, só tenho as palavras.


E nunca as trato bem. Não tenho compromisso com o erudito, e não conheço palavras rebuscadas. Uso jargões já cansados e clichês desbotados.

Mas não as roubo. As que tenho serão usadas para explicar, exemplificar e pontuar o que sinto e vejo. E de pontos, só o final e pequenas vírgulas. Desconheço as exclamações, e sou inteira interrogações, que de tão usadas vão tornando-se afirmações.

De minhas palavras não recebo abandono ou critica. Somos amantes ferozes para os quais não há espaço ou tempo. E minhas palavras amantes costumam querer um enlace em momentos impróprios. E vão crescendo em mim até me sufocar e ser quase impossível não transbordá-las ao papel, a minha mão, e a qualquer superfície que se permita marcar. São exigentes e cruéis, me fazem perder o sono sistematicamente.

De minhas só as palavras, e há momentos em que penso que eu é que sou delas, refém fiel e estolcombatizada de seus desejos caprichosos.

Gostam que eu as enfileire e organize, e adoram surgir em mim de forma complicada e desordenada. Pegam-me pelo calcanhar e me fazem beber do fel, e provar o mais doce néctar. Tudo é uma questão de vontade e desejo.

De minhas, só as palavras, e no final, eu é que sou delas. Receptáculo para suas danças e canções, sou coreografa de uma dança pré-conduzida.

Minhas palavras me possuem me comandam. Neste momento mesmo, são elas a lhes falar, não eu. As frases me acontecem no instante em que as escrevo. E me possuem gananciosamente. Nada deixam de meu: tudo são elas.

Não posso sequer dizer que somos ‘nós’. Sou eu e mim, e elas. Algumas palavras são eles. E a grande maioria não se encaixa em gênero, só em grau e fato.

De minhas, nem as palavras. Afinal elas só me possuem no instante em que as uso, e depois não me possuem mais. E eu as possuo apenas enquanto ainda não saíram de mim, e quando estão em mim, elas não tem força.

Quero todas as palavras e sua ânsia voluptuosa por ser. Não por estar.

domingo, 7 de novembro de 2010

Várias formas e tamanhos

Eu já conheci muitos amores. De várias formas, de vários tipos, de inúmeras cores. Alguns amores me tocaram profundamente, e por algum tempo mereceram espaço, cheiro, saliva e suor de meu corpo e minha alma.


Apaixonei-me por diversas etnias,  muitos ritmos e pessoas de vários sexos. Por que paixão é o antônimo de conjunção carnal, é uma conjunção de idéias.

Já me apaixonei por pessoas que não sabia o nome, e por coisas que não sabia a cor ou o gosto. Apaixonei-me por músicas, letras, palavras, pinturas, retratos, livros, fatos e por mim mesma, várias vezes.

Às vezes enquanto espero o trem, me apaixono perdidamente pelo céu e seu azul de miosótis. Pelas nuvens e seu aspecto de algodão. Pelas obras do homem, pela eletricidade e pelo simples fato de ser envolvida em todos os lados por oxigênio.

Encanto-me constantemente com as rugas nos rostos dos transeuntes, com o velho que vende jornal, com as tintas do jornal. Por um pé na frente do outro e andar para onde quiser me inebria e entontece. É mesmo uma fascinação.

Aprendi a provar o mundo com olhos, boca, ouvidos, tato, olfato e com o coração. Sinto tudo em mim, e experimento a mágica de fazer parte desse tudo. Sou como uma célula: a parte pequena que compõem o tudo.

E adoro o sabor que viver tem.

sábado, 6 de novembro de 2010

Nunca o purgatório

O fato é que não gosto de nada morno.


Leite morno, filme morno, romance morno, amor morno? Nem pensar. Faça-me arder, ou tenha a compaixão de ser uma suave calmaria. Mas não me desperte para o mais ou menos.

Eu quero o inferno ou o Céu. Não me contento com nenhum purgatório. Ou me devore inteira ou não tire nenhuma fatia: ou seja gula ou recolhimento, nunca moderação.

Se for pra me fazer voar, que seja entre as nuvens. Caso contrário me deixe no meu chão estável e conhecido. Não me pinte com tintas pardas, eu sou vermelho. Nunca bege.

Bagunce meu cabelo, beije minha nuca, me arranhe com sua falta de modéstia. Mas saiba que meu coração não é um cofre fechado, e que se é, não sou eu quem possui a chave: A senha de entrada está a seu bel prazer.

Não use imoderadamente seus olhares comigo, não me conquiste para ser um belo apetrecho ao seu estilo básico, me ame intensamente e te amarei da minha forma louca e insensata.

Fuja comigo. Ou me leve com você. Mas não me deixe pra trás enquanto você acena: não estou acostumada a ser um porto seguro, eu sou o mar agitado, não o lago tranqüilo.

Me ame no chão, que seja. Mas não me deixe calar meus gemidos em palavras, não me deixe trocar meus arrepios por banhos frios. Seja intenso, não eterno. Não preciso de nada imutável.

Eu não nasci para o 'mais ou menos'.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Minha lucidez está louca por você

A minha lucidez anda tão louca por você, que às vezes me pergunto se minha loucura é que ficou sã.


De noite, antes de dormir, lembro tua voz de travesseiro e teu sorriso gostoso: o som quente e ritmado da tua risada me tira a sanidade, o sono e me trás a saudade daquele fogo cálido, nosso velho amigo.

Quando acordo, é a fanfarronice de seu jeito de menino que me atormenta o café da manhã. E entre pãezinhos, torradas e minha xícara de chá quente eu percebo o quanto te conhecer me fez bem. E em quantas xícaras de chá tomarei até essa vontade de você se aquietar em mim.

Na minha urgência de conhecê-lo, atropelo palavras e uso clichês. E até perdoo o pecado mortal que é gostar mais de Caetano do que do Chico: por você eu abro algumas exceções.

E fico rindo ao longo da manhã pensando no seu desafio de viajar para lavar roupa, em dormir com secador de cabelo e no seu medo de chuva. Chuva torrencial, que fique bem claro.

Na nossa busca por equilíbrio, vamos dosando esse sentimento sem nome com bossa nova e chorinho. Temperando tudo com presença e ausência, delimitando nossos espaços e criando a interseção que é nosso espaço comum, e que, me parece, está sendo feito pra durar mais que o verão que chegou junto.

Nesse pouco tempo em que teu mundo se achegou ao meu, posso ver que meu pitaco sobre afinidade está mesmo certo, e de pedaço em pedaço vamos descobrindo o quanto minha teoria é infalível. Uma de minhas poucas certezas.

Rememoro sem ter porque o fato de você não poder comer frutos do mar, e penso na graça que é ser canceriana, com ascendente em virgem. Tudo sem sentido, num mundo tão cheio de razão. Mas, é sutilmente provocante, como as coisas boas tem que ser.

Agora cá entre nós, se fosse outro a colocar dedo, palavras e cheiro no meu universo, não sei não. Mas você interferiu diretamente na minha gravidade e minha órbita foi um tanto afetada por sua atenção despretensiosa e sua companhia de ideias.

Percebo que as cores andam mais vivas, mais brilhantes e apetitosas: Sinal de alerta! Uma mulher de um metro e oitenta não se emociona facilmente com a cor das coisas. Tem que ter um prisma novo nesse olhar castanho, e este prisma reflete nuances novas em olhos já cansados das cores habituais.

A minha lucidez ficou louca realmente, e tenho certeza que a loucura está lúcida. E a pergunta é, como é possível tudo ter mudado tanto e o equilíbrio ser perfeito?

domingo, 31 de outubro de 2010

A mulher que Sou

A mulher que sou hoje, não tem medo de escuro. Ri do que realmente acha graça, e fala ‘uhum’ sem abrir a boca.


A mulher que sou hoje gosta de romantismo e inteligência nas mensagens e cartas de amor. Alguns clichês indispensáveis e a intimidade que só as paixões nos dão.

A mulher que me tornei, sabe que não se pode ficar a margem: é necessário um mergulho profundo, se realmente queremos fazer algo verdadeiro. A mulher que habita meu corpo deseja profundamente o contato com esse fogo cálido que são seus braços envolvendo esta cintura.

Essa mulher morena que vejo pelo reflexo, se preocupa com o que se espera dela, mas se preocupa mais com o que vai pensar de si própria nos instantes em que sua alma não é tomada por outras presenças.

É uma mulher grande e pequena.

Insights de Bailarina

As velhas sapatilhas, esquecidas num canto qualquer da alma dela foram novamente vestidas. A música lenta, suave e velha conhecida, foi substituída por um ritmo novo e cadenciado. Era uma canção sobre saudade, chuva, sobre o que viria. Uma canção que, acorde a acorde, era desvendada em música e em dança.


A bailarina dentro dela despertava e era o equilíbrio perfeito entre sua lucidez e sua loucura. Era nova e velha. E era completamente devastadora.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Prosa e Poesia

É tão estranho que eu seja prosa, você poesia, e nossa rima case bem. Eu que sou olhares, e você, que é tão olho, tão ver. Eu que danço, e você que se balança sem compromisso.
Eu poso você registra. Eu canto você faz coro. Se eu chorasse, você riria. E no fim nós dois acharíamos graça.

O que eu encontraria se brincasse com meu tarot? Que lua fará nos próximos dias? Qual é a cor que mexerá com sua vontade de me ver de novo? Quantos olhares devo te jogar antes que você perceba que duas palavras valem mais do que três?


E sim, quero você. Mesmo.

sábado, 23 de outubro de 2010

O problema é o nosso silêncio

É querido. Quantas coisas cabem nos nossos silêncios? Quantos beijos não dados, quantos abraços quentes em noites febris? É nosso silêncio que me assusta. Não nossas palavras.


Como é relativo o tempo, afinal, ele passa rápido quando nos abrimos: confidentes um do outro, conhecedores de nossos respectivos medos. Mas, como ele brinca de se atrasar, como ele parece enorme e esmagador naqueles instantes em que fico muda a fitar seus olhos e esperar algo que sei você não pode me dar.

Nosso silêncio me faz pensar naquele dia, em que inocente rocei minha mão na sua nuca. Faz-me lembrar, do arrepio que nasceu no seu braço e veio aos meus dedos, inertes, parados no seu pescoço enquanto debruçava-me sobre você, carente e entregue a um enlace que nunca viria. Era eletricidade, e ela não estava nada estática.

AH! Porque nos devora o silêncio, não de palavras não ditas, mas de sensações não vividas? Porque olhá-lo é tão penoso, e não vê-lo é igualmente difícil? Você é meu doce, que está numa prateleira alta demais.

Sim, já dormi na sua cama e você já dormiu na minha. Não é estranho que nunca tenhamos dormido nelas ao mesmo tempo? Não é estranho que em tantos beijos que o vi distribuindo, eu não tenha me antecipado para receber algum? E você, não é estranho que não tenha roubado nenhum dos que eu gastei em bocas erradas?

Branca. Amo sua pele alva e seu cabelo rebelde. Não é intrigante que sua cútis não tenha, até hoje, conhecido o calor da minha? Que eu tenha gastado minha saliva e meu bom humor, para alegrar um rosto que não fosse o seu? Que seu cabelo não tenha se misturado ao meu e se molhado em nosso suor?

Me diz homem, você tão mais vivido, tão mais gente... Porque não foi? Porque simplesmente não aconteceu. Podia ter sido naquele dia em que dormi com sua camisa canarinho, frágil completamente vulnerável naquela imensidão amarela.

Podia ser nas inúmeras noites de bebidas geladas e conversas quentes. Deus sabe quanto eu gostaria que tivesse sido!

Muitas vezes, ao invés de sermos um, escolhemos em nossa matemática absurda sermos três, algumas vezes quatro. E seguimos somando é claro, mas muitas vezes dividindo demais uma coisa que era tão minha e sua!

Agora com o benefício do passado, posso dizer que sempre soube que íamos chegar a esse impasse. Acho que foi a forma que você andou, da porta até a mesa na primeira vez que te vi. Ou quem sabe em todas as pizzas de bacon que comemos, e nas cervejas quentes que tomamos, nos perfumes ruins que sentimos ou nos sambas que dançamos. O fato querido, é que eu sempre soube que nossa escola tinha um bom enredo, uma ótima comissão de frente... o que nos falta mesmo é a coragem para entrar na avenida.

Ainda acredito em promessas

Antes de abrir esta porta me prometa que nunca me achará gorda. Prometa que sempre estarei bem vestida pra você, mesmo que sejam pijamas e pantufas. Se for possível, me faça acreditar que nunca haverá mentiras entre nós, e que nossas verdades sempre nos aproximarão.


Antes de chegar de mansinho, tomando nos braços esse corpo, que já tem tempo não me pertence mais, saiba que no pacote vai junto uma mulher com passado e um coração mole: apaixono fácil, mas não nasci ontem.

Antes de me fazer tua, tente ser um pouco meu. Não me ache complicada por não saber o que quero: o que não quero, eu sei de cor.

Não exagere minhas virtudes, não menospreze meus defeitos. Sou feita de um equilíbrio, perigando de pender para um lado só (e nem sempre é pro lado bom).

Nunca diga que meu quadril é largo, ou que minhas pernas são finas. Na dúvida comente sobre meus olhos e meu cabelo.

Antes de colocar as malas no batente da porta, saiba que eu choro às vezes, Que tenho medo de escuro, e odeio dormir sozinha. Não entendo muito de futebol e amo livros. Não consigo manter minhas violetas vivas.

Se for entrar, que seja rápido. Feche a porta contra as intempéries do tempo e me aqueça no seu corpo.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Isso é sobre o que nem foi

Isso não é mais sobre você e sua dificuldade de entender que Um mais outro representam dois. Isso não é sobre sua dificuldade de entender minha alma e meu sorriso franco. Isso não é se quer sobre minha fraqueza em dizer não para você e muito menos sobre a maneira como eu, sempre acabava achando que a culpa era minha.


Isso é sobre mim. Sobre minha mania de querer tudo pra ontem, ou anteontem quem sabe. É sobre minha dificuldade de entender que o que aconteceu foi realmente grande. De compreender que tenho direito à aquela lágrima que brota dos cantos dos meus olhos e teimo em dizer que é efeito da luz, fobia de claridade, mas que é raiva de você.

Isso é sobre me compreender, e saber que sou mais que a nora que sua mãe queria ter, mais que aquela que planejava ser mãe dos seus filhos, e mais do que aquela que você não soube saber o quanto te amava.

Isso é sobre minha alegria que se esvai como areia entre meus dedos calejados. É sobre minha alergia a músicas românticas e poemas de papel de bombom. É sobre quem eu sou quando você não está perto.

É sobre a mágoa que nasceu, e que de repente ocupa o espaço que até pouco tempo era tomado pelos nossos sonhos e pela confiança cega, surda e muda que eu depositava em você e no que sentia por mim.

Essas palavras são como tintas azuis, roxas e lilases, só que em tons funebres. Dão-me a sobriedade que preciso para entender que não há nós, há você e há eu. Essas palavras trazem minha nota inicial, para compor a melodia que serei daqui pra frente.

Passei os últimos tempos tentando usar um Band-aid florido para tampar a fratura exposta que tenho, e que você me deixou. E percebi agora que tenho todo o direito de ficar triste e magoada. De me sentir vazia e sem sentido, como pacote de biscoito depois que o último desce com leite pela garganta, como flores secas dentro de uma caixa esquecida: Quem foi que me deu essa flor mesmo? Que cor ela tinha quando ganhei? Flores secas sempre têm a cor do passado.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

É, Cansei.

Ando tão cansada de ser sempre sexy e irresistível, que me acho no direito desse desabafo.


Estou cansada de usar vermelho e preto, somente por serem cores que realçam minha pele clara e me dão ares de ‘banquete’. Estou cansada de me preocupar com o perfume que devo usar, e se meu rímel borrou ou não. De ter minhas pernas depiladas com furor, e de usar lingerie cara, cheia de laços complicados e rendas, e que na verdade, nunca são tiradas.

De preocupar com o jeito do cabelo, e não transpirar o estritamente necessário para me mostrar animada. Aliás, estou cansada de ser animada, quero uma tarde de chocolate quente e cobertor, e alguém que fique do meu lado sem querer meu corpo quente e minhas mãos hábeis.



Cansada estou, de conhecer amigos-de-amigos-de-amigos que não tem outra afinidade comigo além do estado civil no RG. Que não sabem quem sou e me julgam pelo pouco que seus olhos alcançam. AH! Eles não sabem quantas intrigas uma cintura fina esconde. Quantas tristezas encontram-se entre meus quadris e o desenho de minhas pernas. Não imaginam o que existe dentro dessa cabeça coroada com uma cabeleira negra e ondulada, eles se concentram na minha boca rosada e no meu movimento, programado para seduzir.



E seduzo sim, sem perceber. Ouço constantemente um murmúrio de inquietação a esse respeito. Mas o fato é que de sorrisos e olhares é que se fazem as mulheres.



Mas não se engane, não estou aqui para isso.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Anestésico

A urgência dos teus beijos, às vezes, me tira o ar. Não que não me agrade à forma suave e apressada que nossas bocas se encontram, mas me parece que há tanta sofreguidão na maneira de sua língua procurar a minha!
O que acontece de tão complicado quando me abraça? Eu não vou fugir. Parei com este estratagema há  muito tempo. Entreguei a você toda capacidade de sentir que ainda me resta. Parece pouco? Talvez seja.
Realmente não respondi aquele SMS. Mas amor não é feito também de ausência? De saudade? E eu sou mesmo desligada para essas coisas. E frequentemente respondo no meu cérebro e me esqueço de externar para você.
Não se afobe de me ver todo dia. Haverá aquele instante que realmente não quero te ver, faz parte da minha alma taciturna e meu alter-ego mal amado.
Se que ser  ‘o cara certo’, não me apresse a curar minhas feridas e voltar a ser só sorrisos. Não é assim que a minha banda toca, e não tenho a ampulheta do tempo nas mãos.
Não brinque de ser meu anestésico, pois a dor passa, e com ela vai se embora a necessidade de remédio e fossa.
Fique apenas ao meu lado, e não se engane pensando que isto é um grande amor. Ainda não estou pronta para estrelar os grandes atos. Minha vida de atriz amorosa é uma falência completa de sensações, vivo como bicho: sou toda instinto de preservação.
Devo mesmo agir como quem tem medo de se molhar e olha a chuva pela janela. Mas por falta de uma desculpa melhor: Eu te avisei que meu coração estava em frangalhos, e disse que ia demorar a curar.

domingo, 3 de outubro de 2010

É, Amarga sim.

O vento na minha janela parece o ruído do choro molhado de alguém que passou por tudo. Do lado de dentro, meu único acalento é minha própria companhia e minha imagem refletida no espelho. Olho e procuro ver além dos meus olhos. Procuro toda aquela minha velha confiança e a certeza de que o amor é pra sempre e a dor é passageira.


Você me ensinou a lição mais dura que já aprendi. Ensinou que meus pés não devem parar de tocar o chão, e que meus olhos devem sempre permanecer abertos, e meus braços selados. Ensinou-me que a melhor forma de tornar alguém cego é fazê-lo confiar indubitavelmente em tudo que se diz, e me fez esquecer tudo aquilo que eu gostava e prezava de verdade.

Sei que quando amamos procuramos nos moldar ao que o outro espera de nós, mas em que momento eu deixe de apenas aceitar resignadamente e comecei a achar que ser como você esperava era a única maneira de ser alguém?

Espero me encontrar, soterrada entre nossas fotos amarelas e nossos sorrisos falsos. Entre meu novo medo, recém adquirido e entregue por você via encomenda postal. Espero que em algum momento eu consiga tirar memórias boas de tudo que vivemos, e que eu não pense que tudo foi uma imensa perda de tempo, espaço e alma.

Agora não. Agora não quero você, nem sua voz, nem as lembranças que tentam escapar da porta que fechei e trancafiei-as.Não quero suas palavras mentirosas e vazias, nem sua ironia toldada a hipocrisia e falta de amor próprio.

De você, eu esperava apenas a verdade. E até isso você me negou.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Alice - Anne Rice Inspiration

O céu daquela noite era cinzento e inóspito. O brilho da lua sob o capô do Dodge era a melhor fonte de luz daquela rua escura. A jovem encostada no carro ouvia a música que saia pelos vidros entreabertos do carro, em um volume baixo demais para que qualquer outra pessoa que passasse por ali ouvisse.
O jeans rasgado de sua calça preta deixava transparecer a pele alva, e a blusa preta de gola alta era encimada por um rosto bonito e no momento inexpressivo. Aparentava 20 e poucos anos,embora seus olhos mostrassem a verdade.
Os olhos da jovem, negros como o céu de uma noite sem estrelas varreram o escuro a sua frente e identificaram uma forma na escuridão. Era humanamente impossível ver qualquer coisa a um palmo do nariz, mas Alice podia ver perfeitamente o homem a sua frente. Claro que era simples afinal, ela era uma criatura da noite.


- Você era mais pontual no século passado – brincou a jovem com um sorriso jocoso no rosto de porcelana.


Albuquerque olhou a pequena a sua frente. Não fosse conhecê-la a séculos, poderia pensar que ela era realmente a mulher indefesa que a aparentava ser.


- No século passado você não estaria tão apressada- O homem alto, de sobretudo preto e chapéu respondeu em tom de brincadeira – Não posso dizer que consegui o que você queria. Afinal, não pude abrir a caixa.


Esticando a pequena mão, ela recebeu a diminuta caixa que o vampiro entregava-lhe. Séculos e séculos atrás daquela preciosidade, e ela não podia sequer acreditar que enfim havia conseguido-a.


- Isso – disso apontando para a caixa – Ficará absolutamente entre nós. Você sabe muito bem qual a moeda paga por aqueles que me são desleais.


O vampiro de mais de 300 anos teve que abaixar a cabeça, erguer levemente o chapéu a pequena, e lhe sorrir. A custo. Não gostava de negociar nestes termos. Sempre foi fiel a Alice e seus planos incompreensíveis, e não era o tipo que receberia ordens.


Mas, por outro lado, Sandro Albuquerque era extremamente inteligente. Sabia que não poderia enfrentá-la, e que era sempre melhor ficar do lado vencedor. Embora ele fosse mais alto e aparentasse ser mais forte que a pequena mulher a sua frente, nunca seria mais forte ou rápido que ela.


O homem por fim se virou e voltou andando pela rua. Ainda era cedo, e a noite era da caça.


Alice fechou a mão envolvendo a caixa e enfiou-a no bolso do jeans. Observou o homem afastar-se e sumir na escuridão. Passou a mão pelos longos cabelos ondulados e colocou-os atrás da orelha. Lembranças inundaram sua mente, e o motivo para procurar tão avidamente aquela caixinha sobrepôs-se a todos os demais pensamentos. Dentro, um segredo que poderia salvá-la do absurdo que vivia a mais de 8 séculos.


 
Este texto foge um pouco da proposta do blog, mas é algo para o qual tenho dedicado tempo e carinho :)  Espero que consiga continuar rs.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Quem sou eu?

Eu sou a complexidade do que é simples. A inexorável idéia da imutabilidade da alma. Eu sou a loucura da lucidez. Eu sou o silêncio e o turbilhão!


Eu tenho o dom de ser eu mesma, mesmo quando tudo, todos e meu 'id' me impulsionam a ser algo que não eu. Eu sou a junção perfeita do meu super ego e meu desencanto. Sou aquela que sonha quando a luz não existe. Eu sou a minha própria luz.

Eu busco meu caminho em cada curva. Eu sou meu próprio norte, a bússola errante de um destino não traçado, um caminho não trilhado.

Eu sou o medo de escuro, de não saber. Eu sou a ignorância, mãe da tranquilidade. Saber é estar sempre descontente.

Eu sou o riso solto, o cantar alto, o voar sem asas.

Eu acredito na revolução. Eu sou filha de marx, voltaire, platão e sócrates. O mundo é uma idéia imperfeita. Cópia rascunhada do mundo das idéias.

Eu sou o pincel sujo de tinta à deslizar pela tela em branco. E minha tela em branco é meu universo. Minha música, minha guitarra, minha solidão, minha companhia.

Eu me busco entre dezenas, centenas, milhares de outras almas que não sabem o porque continuam a escralavarem suas mãos ao sol das 11. Que não entendem o porque da comida fria, e do suco aguádo que desce como fel, lembrando à todos aqueles que o provam, que a vida é uma doce mistura de amargo, doce e água, pra neutralizar o sápido, e fazer render a solução para que seja dividida com a humanidade.

Eu sou a tristeza estampada no meu irmão, que caminha ao lado. Eu sou a alegria da vida que surge no ventre.

Eu sou esquerdo e direito, mas sou muito mais apenas pelo 'social'. Eu sou pelo comum.

Eu sou parte do mundo. E o mundo é parte de mim.

Para o Amor que tenho

Em casa. No meu quarto. Ouvindo sei lá que música. As notas chegam ao meu ouvido, batem à porta do meu cérebro e simplesmente voltam, sem produzir nenhum efeito que me tire desse meu estado quase morimbundo de saudade.


Tive muito medo de entrar nesse estágio dessa doce loucura que os sábios chamam de amor. Tive medo e receava enlouquecer mais uma vez, me perder, e dessa vez sem volta, nos labirintos sem saída que a paixão nos impoem.

E agora eu te chamo pra fugir comigo. Fugir pra qualquer lugar, onde o som do seu riso seja a balada interminável que me leve a dançar. Meu suave ópio em cujo peculiar efeito me leve a conhecer outras dimensões. Quero não ter dimensão. Sentir que abraço o mundo quando enlaço meu corpo ao teu.

Não ter uma cor pra definir o brilho dos meus olhos espelhados aos seus. Eu quero ser o instante errante e improvável que separa o "agora" do "talvez". Eu quero ser a certeza dos resultados obtidos, e quero sentir tua mão à minha, quando temerosa eu pisar na estrada do futuro incerto, do amanhã duvidoso.

Quero ser o seu mergulho no espaço, o não obstáculo que conduza tuas mãos aos caminhos oblíquos da minha anatomia duvidosa.

Eu quero ouvir o som que Deus produziu ao Criar a Terra. Eu quero ser o silêncio doce dos teus lábios junto aos meus.

E não há medo, incerteza ou temor: Teu olhar sincero e suas promessas sempre cumpridas me dão a confiança que eu preciso para tornar esse amor cada vez maior.

Vem comigo. Seja twist ou jazz, quero seu corpo e o meu seguindo o ritmo dos nossos corações acelerados.

Vou bagunçar seu cabelo. Arrancar sua blusa. Vou ser mais sua do que jamais fui.

Quero sentir sua respiração arfante, quero sentir seu suor junto ao meu.

Pra que em um segundo, num milésimo de segundo, o tempo não exista. Para que não exista nada além da comunhão perfeita da tua boca a minha.

E talvez nesse segundo, eu encontre a palavra certa. Pra não ter que repintar o já gasto 'eu te amo' e poder te dizer com clareza o que é esse sentimento que me faz querer estar perto, cheirar as suas blusas que ficaram no meu guarda roupa, que me fazem chorar por fora e rir por dentro, lembrando os segundinhos em que não existia nada... só eu e você.

Talvez nessa hora eu possa apenas te abraçar e deixar que essas lágrimas rolem, e se misturem ao riso, ao suor, que se misturem a nós, aos sentimentos, as loucuras e as saudades; pois é da mistura de todas essas coisas que nasceu a nossa união, os nossos votos, os nossos sonhos e a força que temos para torná-los realidade.



Obrigada por existir no meu mundo,

Obrigada por me fazer sorrir quando eu mais preciso

Obrigada por enxugar minhas lágrimas quando elas teimam em rolar

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Medo de bailarina

A bailarina anda tão medrosa. Medo de girar e cair. Medo de chover e não saber se manter equilibrada nas poças d'água.

A bailarina acordou de repente e viu que o mundo mudou, que ela mudou e que algo no encanto de tudo se perdeu.

Ouviu falar de semente, de flor, de terra. De germinar, crescer, crescer.E ela pensa se não é o tempo de já ser terra, e deixar uma sementinha pequenininha germinar dentro de si.

Pensa no que essa sementinha pode se tornar quando crescer. Um lindo carvalhinho? Uma pequena flor de lótus?

A bailarina não dança por agora .Rodopiar te deixa tonta, e ela precisa pensar. Pensar em cores e olhares, em sementes e em água.

Pensar nas coisas que a vida lhe destina, e no destino que ela mesma tem que escrever.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Difícil é ficar junto.

É tão difícil ficar junto, né?
Fácil é ficar sozinho.
Ninguém deixa a toalha molhada na sua cama. Só você mesmo para culpar de não pôr o lixo pra fora, ou de não varrer a casa.
Os fios de cabelo no chão são apenas de solitário tom castanho.Nada daquele preto lustroso e que teima em ser mais liso que o seu só pra te irritar.

É difícil ficar junto: Apaga luz, acende a luz, apaga a luz.
Deixa o ventilador ligado – não, desliga.
Posso tomar banho com você? – Eu queria tomar sozinho.
Vamos comer lasanha? – Eu não to com fome.
Ficar sozinho é tão fácil! Oh meu Deus, como é fácil não ter pentelhos no seu sabonete. Não ter ninguém pra errar e usar sua toalha.

Como é fácil matar a fome com chocolate e não ter ninguém para dizer que isso vai te engordar.

Chega a ser ridículo de tão fácil não ter que explicar pra ninguém porque você tem 20 sandálias parecidas, ou porque você tem que ter 5000 bolsas se usa apenas uma.

Como é fácil poder atrasar as contas e comprar aquela buginganda que você queria.

É tão fácil escolher as músicas você mesma. Nada daquela barulheira horrorosa que ele gosta.

É tão simples poder chorar e não ter que explicar pra ninguém.

Mas é tão ruim não ter ninguém pra acalantar você. Pra enxugar suas lágrimas e te fazer deixar seu tom melodramático de lado.

É tão difícil o silencio avassalador que faz qualquer pequeno ruído parecer o início de uma invasão militar.

É horrível não ter ninguém pra notar quando você compra uma bolsa nova, ou quando sua sandália combina com a roupa.

Comer desmensuradamente por causa de nervosismo e não ter quem te fale que vai engordar – mesmo que na hora você fique puta da vida.

Como é terrível não ter ninguém pra levar a toalha pra você no banheiro quando você esquece. E ter que aceitar com dignidade o chão ensopado e o frio que percorre seu corpo molhado na luta até chegar ao quarto e pegar a toalha molhada em cima da cama. “olha, esse mau hábito também é meu?”

É tão ruim não ter seu calor, seu corpo, sua voz... sua presença, que nem consigo imaginar porque, em algum tempo, eu achei que fosse bom ficar sozinha... sem você!

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