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sábado, 23 de outubro de 2010

O problema é o nosso silêncio

É querido. Quantas coisas cabem nos nossos silêncios? Quantos beijos não dados, quantos abraços quentes em noites febris? É nosso silêncio que me assusta. Não nossas palavras.


Como é relativo o tempo, afinal, ele passa rápido quando nos abrimos: confidentes um do outro, conhecedores de nossos respectivos medos. Mas, como ele brinca de se atrasar, como ele parece enorme e esmagador naqueles instantes em que fico muda a fitar seus olhos e esperar algo que sei você não pode me dar.

Nosso silêncio me faz pensar naquele dia, em que inocente rocei minha mão na sua nuca. Faz-me lembrar, do arrepio que nasceu no seu braço e veio aos meus dedos, inertes, parados no seu pescoço enquanto debruçava-me sobre você, carente e entregue a um enlace que nunca viria. Era eletricidade, e ela não estava nada estática.

AH! Porque nos devora o silêncio, não de palavras não ditas, mas de sensações não vividas? Porque olhá-lo é tão penoso, e não vê-lo é igualmente difícil? Você é meu doce, que está numa prateleira alta demais.

Sim, já dormi na sua cama e você já dormiu na minha. Não é estranho que nunca tenhamos dormido nelas ao mesmo tempo? Não é estranho que em tantos beijos que o vi distribuindo, eu não tenha me antecipado para receber algum? E você, não é estranho que não tenha roubado nenhum dos que eu gastei em bocas erradas?

Branca. Amo sua pele alva e seu cabelo rebelde. Não é intrigante que sua cútis não tenha, até hoje, conhecido o calor da minha? Que eu tenha gastado minha saliva e meu bom humor, para alegrar um rosto que não fosse o seu? Que seu cabelo não tenha se misturado ao meu e se molhado em nosso suor?

Me diz homem, você tão mais vivido, tão mais gente... Porque não foi? Porque simplesmente não aconteceu. Podia ter sido naquele dia em que dormi com sua camisa canarinho, frágil completamente vulnerável naquela imensidão amarela.

Podia ser nas inúmeras noites de bebidas geladas e conversas quentes. Deus sabe quanto eu gostaria que tivesse sido!

Muitas vezes, ao invés de sermos um, escolhemos em nossa matemática absurda sermos três, algumas vezes quatro. E seguimos somando é claro, mas muitas vezes dividindo demais uma coisa que era tão minha e sua!

Agora com o benefício do passado, posso dizer que sempre soube que íamos chegar a esse impasse. Acho que foi a forma que você andou, da porta até a mesa na primeira vez que te vi. Ou quem sabe em todas as pizzas de bacon que comemos, e nas cervejas quentes que tomamos, nos perfumes ruins que sentimos ou nos sambas que dançamos. O fato querido, é que eu sempre soube que nossa escola tinha um bom enredo, uma ótima comissão de frente... o que nos falta mesmo é a coragem para entrar na avenida.

2 comentários:

  1. O que posso dizer disso menina hum....vou tentar ser o mais natural possível.
    Puta que pariu... Legal para kct, não teria outra forma de dizer isso.
    vc foi na alma...
    parabéns
    Anônimo porém bem conhecido.

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