Mãe,
Cada dia que passa tenho mais certeza que amadurecimento é doloroso, mas necessário.
Vejo que colherei exatamente aquilo que planto e plantar é um reflexo de todas as minhas conjugações. Em tudo que faço, eu semeio.
Sei que a palavra que uso para julgar alguém é a mesma que usarão para me condenar. Que a moeda que me aposso indevidamente é uma perda financeira no meu caminho.
A cólera que emprego com os mais simplórios é a força da palmatória que a vida me aplicará. Todas as minhas ações geram reações de igual força e sentido contrário. É aquele ditado batido de que a cada dedo que aponto para alguém, são 4 outros apontados para mim.
A maturidade está trazendo paciência, temperança, aceitação. Percebo que maledicência é uma forma diferente de dizer que estou fazendo mal a alguém e por ser impalpável é um mal mais dificil de combatermos e nos defendermos.
E que diferente do que penso das pessoas e do que elas pensam de mim, amanhã o sol vai nascer: mesmo que fique oculto pelas nuvens e a chuva que cai torrencialmente nessas épocas do ano.
Aprendi que nem tudo que eu penso querer eu terei, mas que em geral, o que recebo está além do que realmente preciso e que a vida é generosa a seu modo.
Vi com clareza que se eu fico em dúvida entre meu coração e minha razão, o certo é dosar um pouco dos dois e que não importa quantas lágrimas eu derrame pelo caminho, o importante é não deixar que elas me ceguem e me façam parar.
Em 2011 eu aprendi que amar não dói, o que dói é idealizar no outro algo que não existe nem em mim mesma, quiçá no mundo.
Hoje sei, melhor do que no tempo em que morava na sua casa, que a vida é dura, que minha cama não se arruma por mágica e que não importa o quão complicado seja o meu dia, terei que encontrar forças para abrir a porta de casa para mim mesma. E por incrível que pareça, por mais doloroso que seja, isso está me transformando na pessoa forte que eu sempre quis ser.
terça-feira, 27 de dezembro de 2011
quarta-feira, 16 de novembro de 2011
Concordância
Esquecer é um verbo, logo, indica uma ação – ações dependem de força, vontade e direção. Eu esqueço – primeira pessoa do singular. Singular é sozinho, e esquecer é não querer mais junto. Aquele que precisa esquecer é porque ainda tem o outrém por perto, nem que seja na memória.
Quem esquece, deixa de lembrar de algo ou alguém. Tú esqueces: pelo visto com um predicado bem mais rápido que o meu. E no não querer que é o não lembrar, brincamos de não ser o que em nós já é. Fingimos que não existe aquela coisa sem substantivo, mas que tem substância, adjetivo e sílaba tônica o que é em mim, um amor que é morfologicamente abstrato.
Se te confundo com meus ditongos, é que eu não conseguiria manter esse hiato entre meus lábios secos e sua boca doce e molhada. Se eu sou ainda seu sujeito indefinido, você ainda não chegou a ser pra mim mais do que frases de efeito, e aprendi a não confiar nas promessas que me fazem por ai.
Estou insone. É que dormir me faz pensar nos teus cabelos brancos, diminutos sobre seu cabelo espesso. E ficar acordada me conduz a um lugar qualquer onde não sou, mas você é. Meu amor por você teve que se contentar em ser sujeito oculto.
Eu não tenho verbo nessa nossa oração. Sou uma frase qualquer, sem ação e nem fato. E se pra você é uma escolha, para mim é o medo de apontar meu indicador na direção errada. E eu que nunca fui de purgatório, ando conhecendo o inferno.
Quem esquece, deixa de lembrar de algo ou alguém. Tú esqueces: pelo visto com um predicado bem mais rápido que o meu. E no não querer que é o não lembrar, brincamos de não ser o que em nós já é. Fingimos que não existe aquela coisa sem substantivo, mas que tem substância, adjetivo e sílaba tônica o que é em mim, um amor que é morfologicamente abstrato.
Se te confundo com meus ditongos, é que eu não conseguiria manter esse hiato entre meus lábios secos e sua boca doce e molhada. Se eu sou ainda seu sujeito indefinido, você ainda não chegou a ser pra mim mais do que frases de efeito, e aprendi a não confiar nas promessas que me fazem por ai.
Estou insone. É que dormir me faz pensar nos teus cabelos brancos, diminutos sobre seu cabelo espesso. E ficar acordada me conduz a um lugar qualquer onde não sou, mas você é. Meu amor por você teve que se contentar em ser sujeito oculto.
Eu não tenho verbo nessa nossa oração. Sou uma frase qualquer, sem ação e nem fato. E se pra você é uma escolha, para mim é o medo de apontar meu indicador na direção errada. E eu que nunca fui de purgatório, ando conhecendo o inferno.
segunda-feira, 26 de setembro de 2011
Um pouco da minha vitrine
Hoje eu estava andando comigo mesma na rua, Brontë na bolsa, meu rímel favorito nos olhos e meu sorriso de praxe nos lábios. A cabeça cheia das habituais caraminholas e questionamentos. Meus defeitos expostos na minha vitrine, para que eu visse, tomasse nota do preço de cada um e fosse obrigada a carregá-los todos.
Com minha já conhecida falta de jeito, escrúpulos e vergonha, ostentava minha felicidade em cada um dos 40 dentes que apareciam entre meu lábio superior, que é ligeiramente mais fino que o inferior, e não queria, mas assim, troçava da tristeza das pessoas que passavam ao meu lado e eram menos Samba rock do que eu.
Mas a questão é que morro de medo dos meus defeitos, principalmente os que me pegam se surpresa numa segunda-feira qualquer, fazendo ares de pôr de sol. Que se mostram pequenos como a lua minguante. Mas acabam desaguando tal como um rio que, não vendo outro curso, deságua no mar.
Com minha já conhecida falta de jeito, escrúpulos e vergonha, ostentava minha felicidade em cada um dos 40 dentes que apareciam entre meu lábio superior, que é ligeiramente mais fino que o inferior, e não queria, mas assim, troçava da tristeza das pessoas que passavam ao meu lado e eram menos Samba rock do que eu.
Mas a questão é que morro de medo dos meus defeitos, principalmente os que me pegam se surpresa numa segunda-feira qualquer, fazendo ares de pôr de sol. Que se mostram pequenos como a lua minguante. Mas acabam desaguando tal como um rio que, não vendo outro curso, deságua no mar.
Nem amor ele sabia o que era
De noite antes de dormir, enquanto o mundo choraminga do lado de fora da janela lembrando o dia chuvoso que chegou para encerrar a semana igualmente chuvosa que passou, eu sinto a falta dele de forma tateável.
É uma saudade sem cor de algo que não cheguei a saber o sabor que tinha,o gosto que tem. Nem sei bem quais os planos que ele tinha pra amanhã, mas eu pensava que amanhecer e olhar em suas pupilas já era o bastante, e seu sorriso tinha o dom de iluminar todo o meu mundo.
Ele não tinha o que me oferecer. Nem amor ele sabia bem o que era. Parecia-lhe algo fantástico que se comprava em lojas elegantes num shopping qualquer. E eu fui brincando de usar minha pena para escrever a história dele grudada na minha, e entrelaçando os vês e os is, surgiu um amor, que de tão bonito, nem mesmo aconteceu. Ficou preso entre a vontade e a impossibilidade.
Era algo de fábulas e histórias, não tinha forma ou jeito e entre todos os meus defeitos e as coisas que ele não conhecia do meu mundo, o que sentíamos se perdeu sem ter ao menos acontecido. Nosso enredo não se estendeu além do “era uma vez”.
Hoje vejo pelas ruas as folhas secas que se vão, carregadas pelo vento e que levam consigo o tom amarelado do seu cabelo rebelde. E na imensidão dos destinos paralelos que não aconteceram, o sorriso dele ainda brilha seu branco metálico próximo ao meu riso amarelo, num reflexo obtuso de uma felicidade que não nos pertenceu.
O pequeno principe disse certa vez que olharia os campos de trigo e se lembraria da raposa por causa de sua cor. A flor envolta na redoma também o havia cativado e seria para sempre sua. E lendo as palavras dele eu me pego pensando que, olhando as folhas secas do fim de estação, eu sempre lembrarei dele.
É uma saudade sem cor de algo que não cheguei a saber o sabor que tinha,o gosto que tem. Nem sei bem quais os planos que ele tinha pra amanhã, mas eu pensava que amanhecer e olhar em suas pupilas já era o bastante, e seu sorriso tinha o dom de iluminar todo o meu mundo.
Ele não tinha o que me oferecer. Nem amor ele sabia bem o que era. Parecia-lhe algo fantástico que se comprava em lojas elegantes num shopping qualquer. E eu fui brincando de usar minha pena para escrever a história dele grudada na minha, e entrelaçando os vês e os is, surgiu um amor, que de tão bonito, nem mesmo aconteceu. Ficou preso entre a vontade e a impossibilidade.
Era algo de fábulas e histórias, não tinha forma ou jeito e entre todos os meus defeitos e as coisas que ele não conhecia do meu mundo, o que sentíamos se perdeu sem ter ao menos acontecido. Nosso enredo não se estendeu além do “era uma vez”.
Hoje vejo pelas ruas as folhas secas que se vão, carregadas pelo vento e que levam consigo o tom amarelado do seu cabelo rebelde. E na imensidão dos destinos paralelos que não aconteceram, o sorriso dele ainda brilha seu branco metálico próximo ao meu riso amarelo, num reflexo obtuso de uma felicidade que não nos pertenceu.
O pequeno principe disse certa vez que olharia os campos de trigo e se lembraria da raposa por causa de sua cor. A flor envolta na redoma também o havia cativado e seria para sempre sua. E lendo as palavras dele eu me pego pensando que, olhando as folhas secas do fim de estação, eu sempre lembrarei dele.
domingo, 18 de setembro de 2011
O peso do Talvez
O problema é que você não me diz nem sim, nem não, me embriaga com seu ‘talvez’. E eu que não sou mulher de meios termos, me encorajo com suas meias palavras e uma vontade de SER que inebria toda a certeza do É.
A confusão é que não existe nem deixa de existir. É que não é, nem deixa de ser. Me sinto no purgatório, no limbo – algum estágio entre o céu e o inferno – entre a certeza absoluta e a dúvida mais atroz.
Não gosto de nada morno, mas me mantenho entre o calor e o frio – frio da tua ausência afetiva, calor das tuas promessas dúbias. Vou contra o que acredito, contra mim, contra você. Não encontro a ponta do novelo e não sei tecer peça alguma para proteger meu orgulho do frio das incertezas. Eu nem tenho mais orgulho, já cansei de te ligar às duas da manhã e sentir o contraste sonoro entre meu “Perhaps love” e a cacofonia de uma festa qualquer que você esteja.
Você me diz que o amor está fora de moda. Que nada é certo neste mundo absurdo e eu me olho no espelho, achando um contra-senso a todas as besteiras que você diz, o brilho de quasar de meus olhos castanhos.
A confusão é que não existe nem deixa de existir. É que não é, nem deixa de ser. Me sinto no purgatório, no limbo – algum estágio entre o céu e o inferno – entre a certeza absoluta e a dúvida mais atroz.
Não gosto de nada morno, mas me mantenho entre o calor e o frio – frio da tua ausência afetiva, calor das tuas promessas dúbias. Vou contra o que acredito, contra mim, contra você. Não encontro a ponta do novelo e não sei tecer peça alguma para proteger meu orgulho do frio das incertezas. Eu nem tenho mais orgulho, já cansei de te ligar às duas da manhã e sentir o contraste sonoro entre meu “Perhaps love” e a cacofonia de uma festa qualquer que você esteja.
Você me diz que o amor está fora de moda. Que nada é certo neste mundo absurdo e eu me olho no espelho, achando um contra-senso a todas as besteiras que você diz, o brilho de quasar de meus olhos castanhos.
sábado, 17 de setembro de 2011
Tá tudo Nebuloso
O dia amanheceu nublado e na minha cama os lençois nebulosos ainda guardam o aroma e o sabor do seu corpo curvilíneo sobre o meu. Não me levanto da cama desde sábado e na minha frágil imitação de Lennon, falta uma Yoko e vontade para transformar o que sinto em música.
Já tentei me erguer e soterrar sobre o peso da ‘vida-pra-levar’ este nó que está no meu peito e tem a força de empurrar minha cabeça ao travesseiro. Mas não há empuxo no oxigênio ao meu redor que consiga exercer poder o bastante para levantar a mim, minha alma e esse outro sentimento que entrou sem ser convidado, mas que não conserva mais ares de visita.
Eu andei procurando mil motivos para te ter entre minhas vontades e para largar sua perna direita afastanda da esquerda - qualquer motivo que não fosse aquele substantivo inominável de quatro letras e muitas faces, mas perdi meu equilíbrio e esse cara velho de guerra, escolado da vida – ao inclinar o corpo para o seu, sentiu que tinha dois corações no peito ao invés de um. Pronto, bagunça feita.
O que me prende ao travesseiro é a coragem – ou melhor, a falta dela. Esta força que não tenho de bater na sua porta e dizer de cara limpa o que a minha cara suja no espelho ao pé da cama não se cansa de me gritar: Ok seu grande babaca, você se apaixonou por ela.
Agora ando de controle remoto na mão. Por uma questão de gênero eu preciso ter controle sobre algo, nem que seja a tv desligada e que não tenho pique se quer de ligar – Mudar qualquer coisa arruinaria a atmosfera que criei e que chega perto de ser alguma ordem em todo este caos. Apertar um botão poderia me levar a apertar os 8 dígitos que compoem seu número e eu falaria com voz trêmula e rouca que tentei de tudo, mas você grudou em mim como chicletes e que preciso ter de volta aquele sorriso perigoso e a mecha que cai do seu cabelo e que me faz refém.
Já tentei me erguer e soterrar sobre o peso da ‘vida-pra-levar’ este nó que está no meu peito e tem a força de empurrar minha cabeça ao travesseiro. Mas não há empuxo no oxigênio ao meu redor que consiga exercer poder o bastante para levantar a mim, minha alma e esse outro sentimento que entrou sem ser convidado, mas que não conserva mais ares de visita.
Eu andei procurando mil motivos para te ter entre minhas vontades e para largar sua perna direita afastanda da esquerda - qualquer motivo que não fosse aquele substantivo inominável de quatro letras e muitas faces, mas perdi meu equilíbrio e esse cara velho de guerra, escolado da vida – ao inclinar o corpo para o seu, sentiu que tinha dois corações no peito ao invés de um. Pronto, bagunça feita.
O que me prende ao travesseiro é a coragem – ou melhor, a falta dela. Esta força que não tenho de bater na sua porta e dizer de cara limpa o que a minha cara suja no espelho ao pé da cama não se cansa de me gritar: Ok seu grande babaca, você se apaixonou por ela.
Agora ando de controle remoto na mão. Por uma questão de gênero eu preciso ter controle sobre algo, nem que seja a tv desligada e que não tenho pique se quer de ligar – Mudar qualquer coisa arruinaria a atmosfera que criei e que chega perto de ser alguma ordem em todo este caos. Apertar um botão poderia me levar a apertar os 8 dígitos que compoem seu número e eu falaria com voz trêmula e rouca que tentei de tudo, mas você grudou em mim como chicletes e que preciso ter de volta aquele sorriso perigoso e a mecha que cai do seu cabelo e que me faz refém.
domingo, 4 de setembro de 2011
A ponte
Queria ter te visto na rua hoje. O céu não tinha uma só nuvem - era claro que não ia chover - e eu sei que seu humor e sua coragem se escondem quando o céu fecha. Por ironia tocou até aquela música que você vivia cantarolando – ou pelo menos na minha memória você cantarolava.
Outro dia passei na sua rua – que nem sei se é sua ainda – e encontrei a farmácia perdida. Acho que ela não se perdeu, nós é que não nos achávamos. E no meio da certeza de que ela de fato existia, senhora de sí e prova de nossa falta de bom senso e localização, eu me peguei pensando em você. Não no que não disse, ou no que poderia ter sido - pensei simplesmente no que foi.
Divisor de águas, ponto de partida, reencontro comigo mesma. Você me entregou de volta a mim e se hoje me percebo entre minha mão direita e minha mão esquerda é porque um dia suas mãos serviram de ponte entre um lado e o outro.
Não discuto mais sobre Chico e Caetano, aprendi a gostar da tropicália da mesma forma que gosto do canto arcano de meu padrinho musical, aquele me ensinou a viver as melodias – o mesmo que você pode culpar pelas minhas altas expectativas amorosas.
E se hoje já não choro pelo que não tenho, é fato que não me entrego tão facilmente frente ao que possuo. E vou levando essa dança, num compasso entre o samba e a bossa, um equilíbrio tenro e necessário que você me ensinou a pesar na balança. Chamam de maturidade, mas para mim é um pós-você.
Foram mudanças demais, eu sei. E talvez não haja um caminho de volta entre minha pureza e esta sabedoria que me seca lágrimas e me torna mais apurada para o que me destinam as Moiras e seus enormes novelos de lã.
Eu só queria ter te visto. Montado em suas fracas certezas e seus muitos rodeios, para te dizer que estava certo. Para te dizer que sua passagem pelo meu palco mudou profundamente este meu Eu mulher: Hoje já não espero tanto, eu tenho muito mais.
Outro dia passei na sua rua – que nem sei se é sua ainda – e encontrei a farmácia perdida. Acho que ela não se perdeu, nós é que não nos achávamos. E no meio da certeza de que ela de fato existia, senhora de sí e prova de nossa falta de bom senso e localização, eu me peguei pensando em você. Não no que não disse, ou no que poderia ter sido - pensei simplesmente no que foi.
Divisor de águas, ponto de partida, reencontro comigo mesma. Você me entregou de volta a mim e se hoje me percebo entre minha mão direita e minha mão esquerda é porque um dia suas mãos serviram de ponte entre um lado e o outro.
Não discuto mais sobre Chico e Caetano, aprendi a gostar da tropicália da mesma forma que gosto do canto arcano de meu padrinho musical, aquele me ensinou a viver as melodias – o mesmo que você pode culpar pelas minhas altas expectativas amorosas.
E se hoje já não choro pelo que não tenho, é fato que não me entrego tão facilmente frente ao que possuo. E vou levando essa dança, num compasso entre o samba e a bossa, um equilíbrio tenro e necessário que você me ensinou a pesar na balança. Chamam de maturidade, mas para mim é um pós-você.
Foram mudanças demais, eu sei. E talvez não haja um caminho de volta entre minha pureza e esta sabedoria que me seca lágrimas e me torna mais apurada para o que me destinam as Moiras e seus enormes novelos de lã.
Eu só queria ter te visto. Montado em suas fracas certezas e seus muitos rodeios, para te dizer que estava certo. Para te dizer que sua passagem pelo meu palco mudou profundamente este meu Eu mulher: Hoje já não espero tanto, eu tenho muito mais.
terça-feira, 16 de agosto de 2011
É questão de tempo
A garota do tempo fala com propriedade que nesse final de semana não chove, faz 40 graus à sombra nesse nosso amor. Mas em revés de tudo que ela nos promete, chove torrencialmente no nosso céu quadrado, pintado de branco e encimado pela luminária bacana que te ajudei a instalar. Eu espero que alguém toque o gongo e avise que é outro dia e que já posso apagar da memória aquele quadro que teima em desenhar-se atrás de minha retina e tentar borrar daquela tinta rosa todas as coisas boas que você deixou por aqui.
Eu disse que já desculpei. Falei toda aquela coisa absurda de ser uma questão de semântica e de memória, que trocar nomenclaturas não significa querer trocar os corpos e almas para os quais os nomes servem de matiz. A verdade é que dentro de mim já topei meu dedinho do pé em quinhetas quinas diferentes tentando achar a saída mais simples desse labirinto.
Não parece porque sou alta e tenho essa cara que insinua determinação.Eu sei que sou a mulher que finjo para mim mesmo ser – pelo menos a maioria das vezes. É que hoje eu não encontrei cola que servisse pra juntar as partes.Tô tentando, te prometo. Quem mandou você me ensinar lógica? Agora eu quero motivo, razão e circunstância pra tudo. E o motivo e razão que encontrei não casam bem com as nossas circunstâncias.
Agora fico aqui, entre minhas paredes e meus muitos receios, tentando calar minha racionalidade comprada em prateleira com o que berra meu sexto sentido feminino (dado por mamãe no momento em que rompeu-se a placenta). E entre coisas novas e coisas velhas, ando catando pretextos que sirvam de durepoxi para juntar aquelas partes de que te falei.
No meio da nossa conversa eu disse uma única coisa que realmente fez sentido pra mim: Se for pra trocar um nome, que seja o de qualquer outra – menos o meu.
Eu disse que já desculpei. Falei toda aquela coisa absurda de ser uma questão de semântica e de memória, que trocar nomenclaturas não significa querer trocar os corpos e almas para os quais os nomes servem de matiz. A verdade é que dentro de mim já topei meu dedinho do pé em quinhetas quinas diferentes tentando achar a saída mais simples desse labirinto.
Não parece porque sou alta e tenho essa cara que insinua determinação.Eu sei que sou a mulher que finjo para mim mesmo ser – pelo menos a maioria das vezes. É que hoje eu não encontrei cola que servisse pra juntar as partes.Tô tentando, te prometo. Quem mandou você me ensinar lógica? Agora eu quero motivo, razão e circunstância pra tudo. E o motivo e razão que encontrei não casam bem com as nossas circunstâncias.
Agora fico aqui, entre minhas paredes e meus muitos receios, tentando calar minha racionalidade comprada em prateleira com o que berra meu sexto sentido feminino (dado por mamãe no momento em que rompeu-se a placenta). E entre coisas novas e coisas velhas, ando catando pretextos que sirvam de durepoxi para juntar aquelas partes de que te falei.
No meio da nossa conversa eu disse uma única coisa que realmente fez sentido pra mim: Se for pra trocar um nome, que seja o de qualquer outra – menos o meu.
segunda-feira, 1 de agosto de 2011
Incompleto e sonolento
Ando por aí, sem dó nem ré, carregando na minha sacola retornável e ecologicamente correta, coisas demais. O mundo gira de maneira estonteante e implacável e eu canto um mantra, fico bamba e bebo um litro de coca cola para afogar em cafeína (e sabe-se lá que outras coisas) meu desejo de deixar tudo pra lá e me entregar sem demora ao meu travesseiro, onde o vai-e-vem é bem vindo e me trás o alento da vitória: ganhei do dia e conquistei o direito ao sono.
quinta-feira, 2 de junho de 2011
O complicado é o que eu calo, nunca o que falo
Eu queria te dizer o quanto sou complexa nesta minha simplicidade aparente. Gostaria de conseguir expor meu âmago e minha falsa modéstia, que me faz aparentar ser mais forte do que realmente sou. Mas, minhas meias verdades são as mentiras que não digo em voz alta.
Engulo seco quando falo que não me importo, e desço à luz da noite, numa solidão que vai além da sua ausência. É uma falta de mim, é uma escassez de ser algo além dessa prosopopéia de nem sei o que. Desejo de me perder em outras cores, outros tatos, para calar essa voz que grita no meu peito me pedindo mais: Mais de mim, e muito mais de você.
Disfarço em meu melhor sorriso o fato de minhas glândulas lacrimais produzirem um líquido composto de água, sais minerais, proteínas e gordura, que eu não quero que saia de mim, para dançarem para você, significando tristeza ou falta de coragem.
Você acha graça, eu não choro cortando cebola. Eu brinco sobre prioridades, e o fato de não estar entre as tuas. Eu choro por dentro, escondendo até de mim, uma dor que me propus aguentar enquanto o rio é turbulento, na esperança de encontrar nosso remanso. Na minha busca por algo que acredito e torço, e agora mais torço do que acredito.
A gente sempre fala que tudo é questão de tempo, e estou ficando sem tempo pra lutar contra o seu relógio. Parece que minha paciência criou asas e voou para sua janela.
Aprenda algo sobre mim: Eu sempre calo o principal.
Engulo seco quando falo que não me importo, e desço à luz da noite, numa solidão que vai além da sua ausência. É uma falta de mim, é uma escassez de ser algo além dessa prosopopéia de nem sei o que. Desejo de me perder em outras cores, outros tatos, para calar essa voz que grita no meu peito me pedindo mais: Mais de mim, e muito mais de você.
Disfarço em meu melhor sorriso o fato de minhas glândulas lacrimais produzirem um líquido composto de água, sais minerais, proteínas e gordura, que eu não quero que saia de mim, para dançarem para você, significando tristeza ou falta de coragem.
Você acha graça, eu não choro cortando cebola. Eu brinco sobre prioridades, e o fato de não estar entre as tuas. Eu choro por dentro, escondendo até de mim, uma dor que me propus aguentar enquanto o rio é turbulento, na esperança de encontrar nosso remanso. Na minha busca por algo que acredito e torço, e agora mais torço do que acredito.
A gente sempre fala que tudo é questão de tempo, e estou ficando sem tempo pra lutar contra o seu relógio. Parece que minha paciência criou asas e voou para sua janela.
Aprenda algo sobre mim: Eu sempre calo o principal.
sábado, 14 de maio de 2011
Eu 'sei lá', viu?
Sua pele é quente no momento que a minha é fria e precisa de calor. Seu sorriso aparece sempre que o meu falha, e deve ser por isso que eu sorrio mesmo chorando, quando lembro que tenho você aqui, entre o pericárdio e minha alma sentimentalista de mulher alta, decidida e canceriana.
Meu coração dispara ao te ver, meus olhos viajam nos teus e se perdem nessa vontade de te ter a todo instante. Desse desejo com cor, com cheiro e com saliva, de uma vontade que é gêmea da sua, de um calor que só existe quando seus braços me entrelaçam e suas pernas se embolam às minhas coxas.
E nesse nosso conto de fadas eu não sou sempre forte, como as mocinhas devem ser hoje em dia, mas por você eu tento. Tento ser cozinheira, tento entender, tento e consigo ser bem melhor do que eu pensava ser. Me surpreendo a todo instante sendo mais mulher, a cada minuto que conheço esse seu gênio másculo e ao mesmo tempo tão sutil e alinhado ao meu.
As vezes que pensei em desistir não são nada comparadas ao meu mundo de força pra continuar neste caminho que é mais flores que espinhos. E se eu digo que você passaria rápido, é charme pra te fazer ficar um pouco mais, pois nas minhas preces entre travesseiros, sonhos e meu pijama azul brega, está sempre o agradecimento ao cara lá de cima por ter colocado você na cidade certa, no país certo, no planeta certo, e ter acertado tanto ao te fazer tão certo para todo o meu eu errado.
Então entre nossas tigelas de sucrilhos, nossas camisetas de malha com logotipo empresarial, minhas esperanças e sonhos, nossos risos e nossa loucura, sobra pouco espaço, e não pretendo gastá-lo empilhando algo que não esse amor que já criou raízes e derrubou os muros: não sou quem era e já sou bem melhor do que fui.
Se você diz ‘sei lá, viu’, eu te digo que sei. E se quiser, te conto este segredo e escancaro a última janela que sobrou fechada por aqui: este coração foi locado por tempo indeterminado pra você.
Meu coração dispara ao te ver, meus olhos viajam nos teus e se perdem nessa vontade de te ter a todo instante. Desse desejo com cor, com cheiro e com saliva, de uma vontade que é gêmea da sua, de um calor que só existe quando seus braços me entrelaçam e suas pernas se embolam às minhas coxas.
E nesse nosso conto de fadas eu não sou sempre forte, como as mocinhas devem ser hoje em dia, mas por você eu tento. Tento ser cozinheira, tento entender, tento e consigo ser bem melhor do que eu pensava ser. Me surpreendo a todo instante sendo mais mulher, a cada minuto que conheço esse seu gênio másculo e ao mesmo tempo tão sutil e alinhado ao meu.
As vezes que pensei em desistir não são nada comparadas ao meu mundo de força pra continuar neste caminho que é mais flores que espinhos. E se eu digo que você passaria rápido, é charme pra te fazer ficar um pouco mais, pois nas minhas preces entre travesseiros, sonhos e meu pijama azul brega, está sempre o agradecimento ao cara lá de cima por ter colocado você na cidade certa, no país certo, no planeta certo, e ter acertado tanto ao te fazer tão certo para todo o meu eu errado.
Então entre nossas tigelas de sucrilhos, nossas camisetas de malha com logotipo empresarial, minhas esperanças e sonhos, nossos risos e nossa loucura, sobra pouco espaço, e não pretendo gastá-lo empilhando algo que não esse amor que já criou raízes e derrubou os muros: não sou quem era e já sou bem melhor do que fui.
Se você diz ‘sei lá, viu’, eu te digo que sei. E se quiser, te conto este segredo e escancaro a última janela que sobrou fechada por aqui: este coração foi locado por tempo indeterminado pra você.
sexta-feira, 11 de março de 2011
Quem sabe, fica mais um pouco?
Ela dorme despreocupada usando de travesseiro o meu peito cheio de preocupações das quais não conhece nem cor, nem cheiro. Ressona com a boca grande meio aberta e joga a perna esguia na minha gelada, e, sem compaixão, me faz refém desse calor veranil que seu corpo emana. Eu vejo suas pálpebras cerradas e cogito os sonhos que se desenrolam atrás destas cortinas. Com sua intuição feminina sonolenta, mas presente, sorri dormindo; como que achando graça da minha necessidade de velar seu repouso, e permanece entregue aos meus braços e do Deus do sono.
Enrolo o dedo na mecha de cabelo caída desatentamente sobre seu seio, e sinto sua pele entesar-se, minha pele arrepia diante da promessa oculta neste singelo gesto de proteção da sua epiderme. Roço minha barba mal feita no seu rosto e observo suas diminutas mãos procurando o motivo daquele desconforto inesperado e me desvio de meus objetivos pensando em como uma mulher tão grande pode sobreviver com mãos tão pequenas. Como se defende desses cafajestes que maltratam sua alma arranhando o queixo na sua tez rosada?
E eu vejo tudo aquilo. Observo atentamente o subir e descer de seu tórax, deslizo o dedo pela costura lateral da camisola dela e me mato por dentro nessa indecisão de não saber mais do que hoje. Afasto da cabeça a lembrança da minha frase dita quando a vi sorrir no batente da porta a guisa de um convite para entrar: pra minha casa e pra minha vida. Minha voz segue retumbando nas paredes vazias do meu apartamento recém-adquirido. Sem quadros, sem fatos e sem cor: são as paredes e sou eu sem ela por perto.
Então, mesmo anuindo que é só por aquela noite, sinto aqui dentro que vou precisar que fique mais; mais do que ela acha que pode e bem além do que eu acharia aceitável.
Enrolo o dedo na mecha de cabelo caída desatentamente sobre seu seio, e sinto sua pele entesar-se, minha pele arrepia diante da promessa oculta neste singelo gesto de proteção da sua epiderme. Roço minha barba mal feita no seu rosto e observo suas diminutas mãos procurando o motivo daquele desconforto inesperado e me desvio de meus objetivos pensando em como uma mulher tão grande pode sobreviver com mãos tão pequenas. Como se defende desses cafajestes que maltratam sua alma arranhando o queixo na sua tez rosada?
E eu vejo tudo aquilo. Observo atentamente o subir e descer de seu tórax, deslizo o dedo pela costura lateral da camisola dela e me mato por dentro nessa indecisão de não saber mais do que hoje. Afasto da cabeça a lembrança da minha frase dita quando a vi sorrir no batente da porta a guisa de um convite para entrar: pra minha casa e pra minha vida. Minha voz segue retumbando nas paredes vazias do meu apartamento recém-adquirido. Sem quadros, sem fatos e sem cor: são as paredes e sou eu sem ela por perto.
Então, mesmo anuindo que é só por aquela noite, sinto aqui dentro que vou precisar que fique mais; mais do que ela acha que pode e bem além do que eu acharia aceitável.
domingo, 20 de fevereiro de 2011
Não se assuste benzinho, é uma questão de neurônios!
No turbilhão que é minha cabeça fêmea, emaranhada na hera daninha da insegurança nossa de cada dia, me belisco a todo instante num esforço dantesco de provar que berimbau não é gaita e que vez ou outra, a vida esbarra no faz de conta e um conto de fadas acontece.
Enquanto remexo suas panelas, pico cebola e brigo com a torneira maluca da sua cozinha, me pego pensando em como seria bom, só por hoje, e por alguns instantes, brincar que é pra valer. Transmutar em verdade essa mentirinha sincera que tem sido só sorrisos e comichões, e que a gente gosta de aprisionar pra ter tamanho de caber na palma da mão apenas, nada de preencher um coração cansado de fazer origami para passar o tempo.
Dobro meus olhares e suas camisas e me aninho preguiçosa no ninho perfeito que é seu braço apoiando meu pescoço, e minhas costelas esquerdas encontrando as suas direitas, num direito que conquistei e que não sei se é meu.
Desenho seu rosto com as pontas dos dedos, e tracejo você na minha memória, para aprisionar nesta aquarela o efêmero de tudo isso e criar algum respaldo que resguarde meu peito calejado de buscar no palheiro a agulha de uma esperança qualquer.
Gosto de passar meu hidratante preferido nas tuas costas e assim me perdôo por arranhá-las sem dó nem ré, em um rompante que é tão meu e que vem por você. E assim gasto creme e tempo na sua pele, e te dou mais alguns hectares dessa alma de mulher que resolveu ser tua mesmo que meu cérebro gritasse não: Os 4 bilhões de neurônios que você tem a mais te dão certezas que nunca serão minhas.
Enquanto remexo suas panelas, pico cebola e brigo com a torneira maluca da sua cozinha, me pego pensando em como seria bom, só por hoje, e por alguns instantes, brincar que é pra valer. Transmutar em verdade essa mentirinha sincera que tem sido só sorrisos e comichões, e que a gente gosta de aprisionar pra ter tamanho de caber na palma da mão apenas, nada de preencher um coração cansado de fazer origami para passar o tempo.
Dobro meus olhares e suas camisas e me aninho preguiçosa no ninho perfeito que é seu braço apoiando meu pescoço, e minhas costelas esquerdas encontrando as suas direitas, num direito que conquistei e que não sei se é meu.
Desenho seu rosto com as pontas dos dedos, e tracejo você na minha memória, para aprisionar nesta aquarela o efêmero de tudo isso e criar algum respaldo que resguarde meu peito calejado de buscar no palheiro a agulha de uma esperança qualquer.
Gosto de passar meu hidratante preferido nas tuas costas e assim me perdôo por arranhá-las sem dó nem ré, em um rompante que é tão meu e que vem por você. E assim gasto creme e tempo na sua pele, e te dou mais alguns hectares dessa alma de mulher que resolveu ser tua mesmo que meu cérebro gritasse não: Os 4 bilhões de neurônios que você tem a mais te dão certezas que nunca serão minhas.
Só pra começar
Teve aquele dia que você falou, mas era tequila demais e certeza de menos soando como uma confissão de amor do álcool, não sua. E enquanto você deixa de dizer, eu fico engolindo a seco todas as vezes que junto aquelas três micro palavrinhas no meu hipotálamo, e não posso cuspi-las na sua cara. E sinto aquela raiva congênita pela sua pouca coragem de cair de cabeça nessa besteira melodramática que os famintos chamam de paixão.
Eu tinha falado dias antes, no momento mais inapropriado o possível: nós dois na cama e você por cima. Posição ideal para usar sua destreza de macho alfa e pular fora dessa canoa furada que eu insistia em remar. Mas você me olhou com aquelas duas jabuticabas e sorriu seu risinho mais jocoso, como quem tivesse escutado “você é the Best of world na cama”, e calou assim seu medo de ter que dizer qualquer coisa que soasse como a entrega de um “também”.
Choraminguei minhas mazelas comigo mesma, juntei meu amor próprio numa tigela e parti do seu teto em direção ao meu deserto de dúvidas secas. E metamorfoseei meu ‘eu te amo’ em qualquer coisa mais digerível, como um ‘gosto muito de você’, botando pra dentro essa mentira e transmutando em confiança e auto-crítica o que antes era medo e incerteza. Coisa de uma prosódia mal sucedida, nada mais.
Daí foi fácil olhar seu furo no queixo e soltar aquela desculpa de ‘foi sem querer, coisa de sexo e coisa e tal’. Mas, dolorido demais ouvir que nem levou a sério, sentir seu alívio por não ter que pôr na mala aquela temível construção frasal da língua portuguesa.
E me vi brincando de não dizer o que queria e falar apenas o que você ouviria bem. Acontece que nessa brincadeira passei a desconhecer as rimas, e piso bamba na areia movediça que é amar você e ter que calar com um não.
Coisa mais brega do mundo, fiquei ouvindo aquela música repetidas vezes. Mais do que palavras, era realmente o que queria de você, mas pra começar, um ‘eu também te amo’ já cairia bem.
Eu tinha falado dias antes, no momento mais inapropriado o possível: nós dois na cama e você por cima. Posição ideal para usar sua destreza de macho alfa e pular fora dessa canoa furada que eu insistia em remar. Mas você me olhou com aquelas duas jabuticabas e sorriu seu risinho mais jocoso, como quem tivesse escutado “você é the Best of world na cama”, e calou assim seu medo de ter que dizer qualquer coisa que soasse como a entrega de um “também”.
Choraminguei minhas mazelas comigo mesma, juntei meu amor próprio numa tigela e parti do seu teto em direção ao meu deserto de dúvidas secas. E metamorfoseei meu ‘eu te amo’ em qualquer coisa mais digerível, como um ‘gosto muito de você’, botando pra dentro essa mentira e transmutando em confiança e auto-crítica o que antes era medo e incerteza. Coisa de uma prosódia mal sucedida, nada mais.
Daí foi fácil olhar seu furo no queixo e soltar aquela desculpa de ‘foi sem querer, coisa de sexo e coisa e tal’. Mas, dolorido demais ouvir que nem levou a sério, sentir seu alívio por não ter que pôr na mala aquela temível construção frasal da língua portuguesa.
E me vi brincando de não dizer o que queria e falar apenas o que você ouviria bem. Acontece que nessa brincadeira passei a desconhecer as rimas, e piso bamba na areia movediça que é amar você e ter que calar com um não.
Coisa mais brega do mundo, fiquei ouvindo aquela música repetidas vezes. Mais do que palavras, era realmente o que queria de você, mas pra começar, um ‘eu também te amo’ já cairia bem.
terça-feira, 1 de fevereiro de 2011
Todo fim é rock n' roll
Bateu a porta com toda sua força, como se aquilo representasse um ponto final. No fundo do peito, a esperança fixa de que ele interpretasse como uma vírgula, e em seguida corresse atrás dela como nas comédias românticas que assistiram tantas vezes juntos.
Imaginou-se procurando as chaves do carro: que estariam na bolsa, e cairiam no chão. Resultado de dedos trêmulos. Mas as mãos estavam firmes, e abriu a porta do carro sem maiores transtornos. Do lado de dentro do veículo um calor de entorpecer neurônios. Nada do frio avassalador que esperou sentir, e que caia tão bem a fins de romances e cenas onde a mocinha percebia o peso cruel do adeus.
Olhou pelo para-brisa a janela do 3º andar, esperava vê-lo. Debulhando-se em lágrimas e implorando aos berros que ela voltasse a bater suas portas, vestir suas camisetas e deixar as toalhas molhadas em cima da cama: Nada disso. A janela aberta anunciava as cores da TV projetando-se na parede: Aquele Filho da mãe está vendo televisão enquanto eu vou embora?
Girou a chave e tentou arrancar o carro. Não olhou para nada e acabou esbarrando no automóvel da frente. Nesse momento nenhuma olhadela para a 3ª janela. Porque ai sim sabia que ele estaria olhando e rindo horrores de sua habilidade fracassada com manobras. Deprimente.
Desceu, avaliou o estrago e com sua letra de escrever cartas de amor, deixou um bilhete com seu telefone grudado no limpador de para-brisas. Voltou, arrancou, saiu pela cidade deixando pra trás mais um amor sem sentido.
Porque todos os fins tem que ser trágicos e apoteóticos? As coisas não poderiam ser mais bossa nova e menos rock n’ roll?
Imaginou-se procurando as chaves do carro: que estariam na bolsa, e cairiam no chão. Resultado de dedos trêmulos. Mas as mãos estavam firmes, e abriu a porta do carro sem maiores transtornos. Do lado de dentro do veículo um calor de entorpecer neurônios. Nada do frio avassalador que esperou sentir, e que caia tão bem a fins de romances e cenas onde a mocinha percebia o peso cruel do adeus.
Olhou pelo para-brisa a janela do 3º andar, esperava vê-lo. Debulhando-se em lágrimas e implorando aos berros que ela voltasse a bater suas portas, vestir suas camisetas e deixar as toalhas molhadas em cima da cama: Nada disso. A janela aberta anunciava as cores da TV projetando-se na parede: Aquele Filho da mãe está vendo televisão enquanto eu vou embora?
Girou a chave e tentou arrancar o carro. Não olhou para nada e acabou esbarrando no automóvel da frente. Nesse momento nenhuma olhadela para a 3ª janela. Porque ai sim sabia que ele estaria olhando e rindo horrores de sua habilidade fracassada com manobras. Deprimente.
Desceu, avaliou o estrago e com sua letra de escrever cartas de amor, deixou um bilhete com seu telefone grudado no limpador de para-brisas. Voltou, arrancou, saiu pela cidade deixando pra trás mais um amor sem sentido.
Porque todos os fins tem que ser trágicos e apoteóticos? As coisas não poderiam ser mais bossa nova e menos rock n’ roll?
segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
O Meu Herói
Sim, vi quando ele chegou aqui. A mãe vinha arrastando-o pela manga da camisa, segurando o filho menor no colo, na pressa louca que só os que sentem fome de vida podem ter. No rosto o sorriso de quem, aos poucos anos já se resignou diante do presente. O olhar daqueles que sabem que esse não é o mar de rosas que a TV, Ana Maria Braga e a Luciana Gimenez falam que é.
Da janela da frente da minha casa, eu não cansava de vigiá-lo enquanto corria para lá e pra cá construindo com madeiras velhas e lona rasgada o que para ele era um castelo fabuloso e inalcançável. A imaginação é pincel, e qualquer coisa serve de tinta.
Brincava sozinho: parecia que vivia em uma dimensão onde a inocência vestia sua jardineira jeans e com uma rosa no cabelo fazia-lhe companhia na hora do pique esconde. Escondia dele todas as coisas vis dos homens, tão comuns de serem vistas num lugar como aquele. E trazia o sorriso mais doce e gentil a estampar-lhe o rosto.
Ele sorria quase sempre, e não se esmorecia por qualquer bobagem como as crianças fazem constantemente hoje em dia: Falta-lhes infância e sobra mimo. Problema sério era fome, irmão caçula. A mãe sem emprego e o fato de que a Rapunzel, que certamente vivia no alto da torre mais alta, ali mesmo, onde ele residia, devia ter um cabelo enorme.
Onde ele dormia haviam mais dez famílias. Todas invadiram o prédio na mesma época, mas só ele tinha o brilho nos olhos que faz a gente não se esquecer da fisionomia. Só ele morava ali, mas vivia em um universo paralelo.
Não tinha roupas, andava maltrapilho: e sendo assim, vestia-se de abraços dos transeuntes. Às vezes lhe faltava o que comer, e alimentava-se do afago do vento. Era sua maneira de não se vitimar diante do sofrimento, era seu salvaguarda quando o frio se portava inclemente e as pessoas pareciam más e cruéis.
E ali, naquela Maloca vertical , ele construía seus barcos e velejava pra longe. Ali ele podia ser homem aranha, Power ranger ou aquele herói verde que ele viu numa revistinha que achou no lixo. Para ele, o prédio invadido, inacabado, era um lar. Porque lar é onde o bumbum descansa e onde o coração pode chorar ou rir sem ter que dar um por quê.
No dia que o incêndio se deu, ele estava lá. A mãe tinha levado o irmão mais novo ao trabalho. E meu menino estava feliz por não precisar cuidar do irmãozinho. Podia fazer pipa, correr na rua sem segurar a mão do pequeno, sem se preocupar se ele ralaria o joelho e a mãe ficaria brava. Tava contente que só, no começo. Depois veio aquela tristeza que a liberdade às vezes trás, e ele ficou acabrunhado em casa. Imaginando coisas e ouvindo sons, pois quando estamos acostumados com gente, gente que amamos sempre por perto, a solidão dos queridos nos enche de medo.
E que susto tomou, quando o monstro apareceu à sua frente? Cinzento, esfumaçado e soltando aquele cheiro ruim e o calor insuportável. Vinha passando pelo buraco do teto. Devia ocupar todo o andar de cima, pois era um monstro grande e poderoso! Quando me contou sobre o monstro, seus olhos estavam vitrificados, e suas mãozinhas suavam geladas.
Ficou tremendo de medo, que nem bambu verde, e ninguém viu. De tarde, as pessoas dormiam e ninguém se apercebeu da fumaça que saia do andar de cima: que já ia a muito consumido pelo fogo.
Mas ele viu, e de tanto se imaginar herói, de tanto se pensar corajoso, de tanto ser forte pra encarar a vida, decidiu num impulso hercúleo que protegeria todos do temível monstro. De armas: seus pulmões e a voz estridente de criança. E eu não fico pensando que é tão mais fácil se entregar as dificuldades do que lutar para vencê-las? A gente aprende muito com criança.
Gritou. O mais alto que podia. Sacolejou quem encontrou pelo caminho, tirando as pessoas de seu estupor. Sempre precisa ter alguém pra nos mostrar o monstro, não é mesmo?
Só sei que naquele dia ele foi o herói que pensava ser.
Já da rua, ele olhava o prédio em chamas e se perguntava quando o monstro terminaria sua refeição e transformaria aquilo tudo em poeira. Onde ia dormir o irmãozinho? E as coisas da mãe? As roupas de ir trabalhar, as revistinhas que pegara do lixo. Será que o bicho comeria tudo?
E ele pensava, com seus olhos de criança marejados de água, que tudo ficaria bem. Porque a fantasia é um ótimo calmante.
E sem saber, ele era o meu herói. Aquele que me ensinou, na curva do seu sorriso, a enfrentar de peito aberto os percalços do caminho.
Inspirado na notícia - Famílias que ocupavam Prédio em BH são retiradas. - Originalmente escrito para a oficina de textos da Maíra Viana
Da janela da frente da minha casa, eu não cansava de vigiá-lo enquanto corria para lá e pra cá construindo com madeiras velhas e lona rasgada o que para ele era um castelo fabuloso e inalcançável. A imaginação é pincel, e qualquer coisa serve de tinta.
Brincava sozinho: parecia que vivia em uma dimensão onde a inocência vestia sua jardineira jeans e com uma rosa no cabelo fazia-lhe companhia na hora do pique esconde. Escondia dele todas as coisas vis dos homens, tão comuns de serem vistas num lugar como aquele. E trazia o sorriso mais doce e gentil a estampar-lhe o rosto.
Ele sorria quase sempre, e não se esmorecia por qualquer bobagem como as crianças fazem constantemente hoje em dia: Falta-lhes infância e sobra mimo. Problema sério era fome, irmão caçula. A mãe sem emprego e o fato de que a Rapunzel, que certamente vivia no alto da torre mais alta, ali mesmo, onde ele residia, devia ter um cabelo enorme.
Onde ele dormia haviam mais dez famílias. Todas invadiram o prédio na mesma época, mas só ele tinha o brilho nos olhos que faz a gente não se esquecer da fisionomia. Só ele morava ali, mas vivia em um universo paralelo.
Não tinha roupas, andava maltrapilho: e sendo assim, vestia-se de abraços dos transeuntes. Às vezes lhe faltava o que comer, e alimentava-se do afago do vento. Era sua maneira de não se vitimar diante do sofrimento, era seu salvaguarda quando o frio se portava inclemente e as pessoas pareciam más e cruéis.
E ali, naquela Maloca vertical , ele construía seus barcos e velejava pra longe. Ali ele podia ser homem aranha, Power ranger ou aquele herói verde que ele viu numa revistinha que achou no lixo. Para ele, o prédio invadido, inacabado, era um lar. Porque lar é onde o bumbum descansa e onde o coração pode chorar ou rir sem ter que dar um por quê.
No dia que o incêndio se deu, ele estava lá. A mãe tinha levado o irmão mais novo ao trabalho. E meu menino estava feliz por não precisar cuidar do irmãozinho. Podia fazer pipa, correr na rua sem segurar a mão do pequeno, sem se preocupar se ele ralaria o joelho e a mãe ficaria brava. Tava contente que só, no começo. Depois veio aquela tristeza que a liberdade às vezes trás, e ele ficou acabrunhado em casa. Imaginando coisas e ouvindo sons, pois quando estamos acostumados com gente, gente que amamos sempre por perto, a solidão dos queridos nos enche de medo.
E que susto tomou, quando o monstro apareceu à sua frente? Cinzento, esfumaçado e soltando aquele cheiro ruim e o calor insuportável. Vinha passando pelo buraco do teto. Devia ocupar todo o andar de cima, pois era um monstro grande e poderoso! Quando me contou sobre o monstro, seus olhos estavam vitrificados, e suas mãozinhas suavam geladas.
Ficou tremendo de medo, que nem bambu verde, e ninguém viu. De tarde, as pessoas dormiam e ninguém se apercebeu da fumaça que saia do andar de cima: que já ia a muito consumido pelo fogo.
Mas ele viu, e de tanto se imaginar herói, de tanto se pensar corajoso, de tanto ser forte pra encarar a vida, decidiu num impulso hercúleo que protegeria todos do temível monstro. De armas: seus pulmões e a voz estridente de criança. E eu não fico pensando que é tão mais fácil se entregar as dificuldades do que lutar para vencê-las? A gente aprende muito com criança.
Gritou. O mais alto que podia. Sacolejou quem encontrou pelo caminho, tirando as pessoas de seu estupor. Sempre precisa ter alguém pra nos mostrar o monstro, não é mesmo?
Só sei que naquele dia ele foi o herói que pensava ser.
Já da rua, ele olhava o prédio em chamas e se perguntava quando o monstro terminaria sua refeição e transformaria aquilo tudo em poeira. Onde ia dormir o irmãozinho? E as coisas da mãe? As roupas de ir trabalhar, as revistinhas que pegara do lixo. Será que o bicho comeria tudo?
E ele pensava, com seus olhos de criança marejados de água, que tudo ficaria bem. Porque a fantasia é um ótimo calmante.
E sem saber, ele era o meu herói. Aquele que me ensinou, na curva do seu sorriso, a enfrentar de peito aberto os percalços do caminho.
Inspirado na notícia - Famílias que ocupavam Prédio em BH são retiradas. - Originalmente escrito para a oficina de textos da Maíra Viana
A menina Sabichona
Lembro muito bem quando entrei pela primeira vez na sala de aula da escola nova. Era o pré-zinho e eu achava tudo grande e assustador, embora fosse pequeno e singelo.
Nos meus ouvidos roçava uma música fúnebre que combinava bem com a chacota que eu já esperava de todas as meninas e meninos, bullying sobre meu cabelo escorrido e minha estatura acima da média.
A professora me empurrou para aquele suplicio que é ficar de frente pra turma e dizer meu nome, idade e porque eu troquei de escola. Bochechas vermelhas, mãos geladas e suando frio eu resmunguei o Flávia, falei que tinha 6 anos : quase 7 e que tinha mudado de bairro.
Olhando retrospectivamente, percebo que o sofrimento podia ter sido maior. Mas, no momento em que o silêncio ameaçava se acometer, e obrigar a professora a liberar a turma a me sabatinar você aconteceu.
Rostinho de lua, covinhas no sorriso, cara de sabichona e um senso de oportunidade que sempre me deixou de queixo caído. Arredou para o lado e me chamou pra sentar do seu lado. Desde aquele dia eu sabia que a vida seria diferente por ela estar ali.
Dividíamos o lanche: trocava meus sanduichinhos de bisnaguinha seven boys pelo mirabel dela. Brincávamos na gangorra e corríamos a valer para escapar dos meninos maiores. Ficávamos bravas por que a Eillen coloria tudo certinho sem deixar sair um risquinho e a gente coloria tudo fora do limite: A gente sempre foi de ir além do que nos limitavam.
Você, dois anos mais nova que todo mundo, e já no pré. Ouvia falar sempre, fazendo reboliço com essas bochechas inchadas: “sou superdotada” e embora eu respondesse que se você fosse inteligente mesmo, não contava isso pra ninguém, sempre soube que era verdade: Você é superdotada em muitas coisas, e uma é a capacidade de fazer a gente feliz.
Lembra quando acabaram as florzinhas desenhadas no seu caderno? Lembra quando ficávamos na grade do portão da escola vigiando nossas mães chegarem e morríamos de medo de nos deixarem lá pra sempre? Lembra que eu queria ser médica? E pensa, você nunca pensou em ser jornalista naquela época!
Lembra que, já mais velhas, você lia comigo Manoel Bandeira, Vinícius de Moraes, e nós achávamos que poesia era uma mistura de rima e pornografia? Os trabalhos na sua casa, quando subíamos no telhado para ver as pessoas na rua. Quando morríamos de medo da brincadeira do copo, quando achávamos os Diego’s lindos. Quando escrevíamos nas carteiras e quando éramos chamadas de CDF’s.
Por isso tudo, quero que você fique boa logo. Afinal o mundo é um lugar terrível sem essa menina sabe tudo e seu sorriso de apagar estrelas.
Nos meus ouvidos roçava uma música fúnebre que combinava bem com a chacota que eu já esperava de todas as meninas e meninos, bullying sobre meu cabelo escorrido e minha estatura acima da média.
A professora me empurrou para aquele suplicio que é ficar de frente pra turma e dizer meu nome, idade e porque eu troquei de escola. Bochechas vermelhas, mãos geladas e suando frio eu resmunguei o Flávia, falei que tinha 6 anos : quase 7 e que tinha mudado de bairro.
Olhando retrospectivamente, percebo que o sofrimento podia ter sido maior. Mas, no momento em que o silêncio ameaçava se acometer, e obrigar a professora a liberar a turma a me sabatinar você aconteceu.
Rostinho de lua, covinhas no sorriso, cara de sabichona e um senso de oportunidade que sempre me deixou de queixo caído. Arredou para o lado e me chamou pra sentar do seu lado. Desde aquele dia eu sabia que a vida seria diferente por ela estar ali.
Dividíamos o lanche: trocava meus sanduichinhos de bisnaguinha seven boys pelo mirabel dela. Brincávamos na gangorra e corríamos a valer para escapar dos meninos maiores. Ficávamos bravas por que a Eillen coloria tudo certinho sem deixar sair um risquinho e a gente coloria tudo fora do limite: A gente sempre foi de ir além do que nos limitavam.
Você, dois anos mais nova que todo mundo, e já no pré. Ouvia falar sempre, fazendo reboliço com essas bochechas inchadas: “sou superdotada” e embora eu respondesse que se você fosse inteligente mesmo, não contava isso pra ninguém, sempre soube que era verdade: Você é superdotada em muitas coisas, e uma é a capacidade de fazer a gente feliz.
Lembra quando acabaram as florzinhas desenhadas no seu caderno? Lembra quando ficávamos na grade do portão da escola vigiando nossas mães chegarem e morríamos de medo de nos deixarem lá pra sempre? Lembra que eu queria ser médica? E pensa, você nunca pensou em ser jornalista naquela época!
Lembra que, já mais velhas, você lia comigo Manoel Bandeira, Vinícius de Moraes, e nós achávamos que poesia era uma mistura de rima e pornografia? Os trabalhos na sua casa, quando subíamos no telhado para ver as pessoas na rua. Quando morríamos de medo da brincadeira do copo, quando achávamos os Diego’s lindos. Quando escrevíamos nas carteiras e quando éramos chamadas de CDF’s.
Por isso tudo, quero que você fique boa logo. Afinal o mundo é um lugar terrível sem essa menina sabe tudo e seu sorriso de apagar estrelas.
terça-feira, 25 de janeiro de 2011
Samba na caixa de fósforos
Por trás da minha caneca de chopp, eu a via. Vestida da certeza que pegou emprestada de promessas ouvidas e elogios baratos. Dos lábios carnudos e rosados, envolvidos por aquela pele branca, lisa e macia que tantas vezes afaguei, o nome do sujeito saia como um acorde destoante em uma canção antiga, um samba que batuquei numa caixa de fósforos a guisa de um quadril qualquer que não lembro sequer o ritmo.
Mas o que importa é que ela estava ali, emoldurada pelo vermelho do seu vestido de alças diminutas, falando comigo – seu amigo, desde que o mundo é mundo – sobre o cara lá. Aquele que compôs uma música para ela. Mas eu também docinho, só não tive chance de cantarolar no seu ouvido. Falando do sujeito que a fez, por fim, abandonar esta vida de perambule pra cima e pra baixo na busca do amor peremptório. E o que tem de peremptório no amor, morena? Deixa eu te mostrar que a vida não é tê-a-tê, não é oito ou oitenta. Vou encontrar um 40 de equilíbrio, ou um meia-nove de falta de vergonha, mas não permita que esse moço chegue assim e tire você do seu eixo, dos meus seixos, da nossa voz. Não abra espaço para ele se instalar no seu coração, o deixe no meio das pernas, nunca entre os braços.
E enquanto traçava o dedo pela borda do copo, eu tive um sobressalto. A vida passava pela janela, e eu carolinando, não via Não percebia que não queria que ela fosse embora, passando pelas cadeiras, requebrando seu corpo para longe de mim numa dança suave e hipnotizante para não esbarrar em ninguém. Esbarre em mim, me dê aquele sinal. Enfie sua mão por baixo da minha blusa quando eu te abraçar, ou vire o rosto micro decibéis em direção ao meu. Três milímetros e tocava sua boca, três metros e correria atrás, mais três doses e eu teria coragem, três segundos e eu perdi o tempo. E o outro lá, sorrateiro foi se achegando, milímetro a milímetro no pericárdio dessa menina.
E na falta de resposta para o meu insensato “por quê?”, eu fiz uma curva acelerando demais e cai na rua errada. Quem ama não quer ‘porque’. O ‘Porque’ é o estratagema dos covardes.
Inspirado pela música: ‘O mundo é um moinho’ – Cartola. - Originalmente escrito para a oficina de textos da Maíra Viana
Mas o que importa é que ela estava ali, emoldurada pelo vermelho do seu vestido de alças diminutas, falando comigo – seu amigo, desde que o mundo é mundo – sobre o cara lá. Aquele que compôs uma música para ela. Mas eu também docinho, só não tive chance de cantarolar no seu ouvido. Falando do sujeito que a fez, por fim, abandonar esta vida de perambule pra cima e pra baixo na busca do amor peremptório. E o que tem de peremptório no amor, morena? Deixa eu te mostrar que a vida não é tê-a-tê, não é oito ou oitenta. Vou encontrar um 40 de equilíbrio, ou um meia-nove de falta de vergonha, mas não permita que esse moço chegue assim e tire você do seu eixo, dos meus seixos, da nossa voz. Não abra espaço para ele se instalar no seu coração, o deixe no meio das pernas, nunca entre os braços.
E enquanto traçava o dedo pela borda do copo, eu tive um sobressalto. A vida passava pela janela, e eu carolinando, não via Não percebia que não queria que ela fosse embora, passando pelas cadeiras, requebrando seu corpo para longe de mim numa dança suave e hipnotizante para não esbarrar em ninguém. Esbarre em mim, me dê aquele sinal. Enfie sua mão por baixo da minha blusa quando eu te abraçar, ou vire o rosto micro decibéis em direção ao meu. Três milímetros e tocava sua boca, três metros e correria atrás, mais três doses e eu teria coragem, três segundos e eu perdi o tempo. E o outro lá, sorrateiro foi se achegando, milímetro a milímetro no pericárdio dessa menina.
E na falta de resposta para o meu insensato “por quê?”, eu fiz uma curva acelerando demais e cai na rua errada. Quem ama não quer ‘porque’. O ‘Porque’ é o estratagema dos covardes.
Inspirado pela música: ‘O mundo é um moinho’ – Cartola. - Originalmente escrito para a oficina de textos da Maíra Viana
quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
Para, Por e Com Você
Com você posso falar do tempo, da falta dele e da necessidade de organizá-lo em tarefas, sonhos e esquecimento. Da aurora boreal, das estrelas e brincar que aquelas bolas laranja no fio de alta tensão são planetas. Com você posso comer chocolate, e ficar acordada fazendo amor de um jeitinho minimalista e intenso, decorando e me regozijando com cada pequeno movimento do seu corpo sob o meu.
Com você posso falar de passado sem medo de que ele se torne presente demais para que seja possível ver algum futuro para nós. Posso falar de futuro e não te ver encolher pela ameaça indizível e inimaginável de ter minha companhia por mais que alguns dias, algumas noites; você está bem acostumado a me ter por perto. E assim, não é um pecado mortal sonhar acordada com mais alguns trident’s divididos entre os dentes na desculpa óbvia de te dar um beijo e, se quiser e o cansaço permitir, ficar acordada te olhando dormir.
Com você posso cantar com minha voz desafinada, e sorrir da falta de graça da vida. Posso encafifar de te ensinar passos de tango, roubar sushi dos outros, e engolir minha timidez – que sim, – existe. Por você compensa arriscar bem mais que o habitual.
Posso falar de Milan Kundera, e mesmo que você não entenda, não saiba de onde veio e compare uma frase dele que citei com qualquer coisa que viu no google, eu sei que a teoria do autor tcheco é uma verdade: A gente realmente dorme bem com quem gosta, mesmo espremidinho.
Ando de mãos dadas, te beijo e solto um sorriso traidor, que me entrega muito mais do que qualquer palavra que eu possa dizer pra você. Muito mais do que qualquer conjunção de palavras jamais poderá fazer; todas as palavras mentem.
Me dou ao desfrute de desligar o carro pra você ficar mais, de te convidar pra passar a noite comigo em uma terça feira qualquer e a entender que você detesta planejar, tudo vem de supetão. Comigo mesma eu sou feliz, com você eu divido esta alegria e a transbordo em coisas sem sentido e que vão à sua direção sem que eu as possa deter, mas com você não há medo de ridículo, nem sensação de fracasso. Sei que você não vai sair correndo à primeira amostra de fraqueza da minha parte.
Com você não quero falar de trabalho, da cotação da bolsa ou da árvore que despencou no parque da cidade. Prefiro te fazer cócegas e deixar o mundo para um pouquinho mais tarde (ou cedo). Porque com você, eu me sinto em outra galáxia. Viajante interestrelar deste planeta populado de loucura e salpicado de lucidez que eu gosto de chamar de gostar, embora a palavra certa seja algo bem do ladinho do amor.
Para você guardei o melhor em mim, e toda a minha pureza em acreditar na vida. Para você não há barreiras ou expectativas: vou bebendo em baldes o que a vida dá, sem medo de me afogar ou que a água esfrie de uma hora pra outra me deixando mais hipotérmica que a ausência dos teus braços ao redor da minha cintura.
Por você, qualquer coisa que eu escreva tem sabor de carta de amor, do mesmo jeito que até o livro de terror que te emprestei tem, para você, o meu cheiro. Coisa mais estranha é essa não?
Com você eu sou mais eu, e espero assim, abrir espaço para você ser só você. Nada mais.
Com você posso falar de passado sem medo de que ele se torne presente demais para que seja possível ver algum futuro para nós. Posso falar de futuro e não te ver encolher pela ameaça indizível e inimaginável de ter minha companhia por mais que alguns dias, algumas noites; você está bem acostumado a me ter por perto. E assim, não é um pecado mortal sonhar acordada com mais alguns trident’s divididos entre os dentes na desculpa óbvia de te dar um beijo e, se quiser e o cansaço permitir, ficar acordada te olhando dormir.
Com você posso cantar com minha voz desafinada, e sorrir da falta de graça da vida. Posso encafifar de te ensinar passos de tango, roubar sushi dos outros, e engolir minha timidez – que sim, – existe. Por você compensa arriscar bem mais que o habitual.
Posso falar de Milan Kundera, e mesmo que você não entenda, não saiba de onde veio e compare uma frase dele que citei com qualquer coisa que viu no google, eu sei que a teoria do autor tcheco é uma verdade: A gente realmente dorme bem com quem gosta, mesmo espremidinho.
Ando de mãos dadas, te beijo e solto um sorriso traidor, que me entrega muito mais do que qualquer palavra que eu possa dizer pra você. Muito mais do que qualquer conjunção de palavras jamais poderá fazer; todas as palavras mentem.
Me dou ao desfrute de desligar o carro pra você ficar mais, de te convidar pra passar a noite comigo em uma terça feira qualquer e a entender que você detesta planejar, tudo vem de supetão. Comigo mesma eu sou feliz, com você eu divido esta alegria e a transbordo em coisas sem sentido e que vão à sua direção sem que eu as possa deter, mas com você não há medo de ridículo, nem sensação de fracasso. Sei que você não vai sair correndo à primeira amostra de fraqueza da minha parte.
Com você não quero falar de trabalho, da cotação da bolsa ou da árvore que despencou no parque da cidade. Prefiro te fazer cócegas e deixar o mundo para um pouquinho mais tarde (ou cedo). Porque com você, eu me sinto em outra galáxia. Viajante interestrelar deste planeta populado de loucura e salpicado de lucidez que eu gosto de chamar de gostar, embora a palavra certa seja algo bem do ladinho do amor.
Para você guardei o melhor em mim, e toda a minha pureza em acreditar na vida. Para você não há barreiras ou expectativas: vou bebendo em baldes o que a vida dá, sem medo de me afogar ou que a água esfrie de uma hora pra outra me deixando mais hipotérmica que a ausência dos teus braços ao redor da minha cintura.
Por você, qualquer coisa que eu escreva tem sabor de carta de amor, do mesmo jeito que até o livro de terror que te emprestei tem, para você, o meu cheiro. Coisa mais estranha é essa não?
Com você eu sou mais eu, e espero assim, abrir espaço para você ser só você. Nada mais.
segunda-feira, 10 de janeiro de 2011
Com você eu vejo o Mar
Deitada nos teus braços, envolta por nosso suor, coração acelerado e a alma leve, eu vejo o mar. Vejo as ondas que vem e vão, e em seu balançar levam e trazem tudo. Inspiro minha vontade de viver tudo intensamente e expiro meu medo incontrolável de ser pouco.
Devoro com meus dentes seu furinho no queixo, e insinuo que aquilo é um defeito de fábrica, mas por dentro morro de vontade cada vez que você sorri e aquele furo salta aos meus olhos. E marco suas costas com minhas unhas imaginárias, numa necessidade louca de ter um pouco de mim em você, assim como há tanto de você em mim.
Sorrio da falta de graça que é se apaixonar pelo melhor amigo, coisa mais sem cabimento, desde que o mundo é mundo e eu sou morena, mulher e coração mole. Você me avisou que era pra manter o coração fechado, mas isso incluía deixar você do lado de fora ou era um conselho pra ser seguido apenas com os outros milhões de homens do planeta?
Tudo muito complicado e eu querendo passar a noite do seu lado na bagunça organizada que são nossas vidas e esse apêndice em comum. E o mar se recolhe na frente dos meus olhos, morrendo de angustia do que pode vir, do que a maré cheia traz quando se expande.
E eu expando. Encolho no instante que sua musculatura se retesa e expando por dentro na delícia louca que é sair de mim pra você entrar.
Encolho e fico pequena pra caber nos teus laços diminutos, nos teus beijos alucinógenos e nas minhas certezas duvidosas. Mal caibo em mim, e tento caber em você.
E enquanto o tempo vai passando e a gente não se dá conta de que a noite vira madruga e ameaça virar manhã mais rápido do que gostaria, eu decoro seu corpo em tato, paladar, olfato. Conheço teus barulhos, teus jeitos e esse riso fácil que brota na curva fértil do meu sorriso.
Vou percebendo que marco o tempo na sua respiração, e a cada instante, anseio por cada toque seu. Sim, parece que te devo cada beijo há duzentos anos, parece que cada carinho demorou tempo demais para acontecer. E quando acontece, é grande demais para caber em mim.
E falo sem querer, o que não sei se devo dizer. Sai meio atravessado. Sai meio de lado, enviesado. Sai sem pedir licença e sai antes que dentro de mim, aquela verdade arrebatadora fizesse algum sentido. Sai no sentido contrário ao da rotação da Terra, e faz com que o planeta resolva correr do Sol: Rotação e Translação estão piradas nesse meu mundo.
E esse mar revolto que está aqui dentro de mim se encontra com seu rio de água doce. Não sei o que fazer para domar esse querer-você-a-todo-instante. E me complico na simplicidade. Sou avessa a tudo que é monocromático, e adoro seu estilo moderado e o contraste dele com o toque de suas mãos em minha pele rubra e febril. Me entrego a todo instante, e assim, vejo o mar.
Devoro com meus dentes seu furinho no queixo, e insinuo que aquilo é um defeito de fábrica, mas por dentro morro de vontade cada vez que você sorri e aquele furo salta aos meus olhos. E marco suas costas com minhas unhas imaginárias, numa necessidade louca de ter um pouco de mim em você, assim como há tanto de você em mim.
Sorrio da falta de graça que é se apaixonar pelo melhor amigo, coisa mais sem cabimento, desde que o mundo é mundo e eu sou morena, mulher e coração mole. Você me avisou que era pra manter o coração fechado, mas isso incluía deixar você do lado de fora ou era um conselho pra ser seguido apenas com os outros milhões de homens do planeta?
Tudo muito complicado e eu querendo passar a noite do seu lado na bagunça organizada que são nossas vidas e esse apêndice em comum. E o mar se recolhe na frente dos meus olhos, morrendo de angustia do que pode vir, do que a maré cheia traz quando se expande.
E eu expando. Encolho no instante que sua musculatura se retesa e expando por dentro na delícia louca que é sair de mim pra você entrar.
Encolho e fico pequena pra caber nos teus laços diminutos, nos teus beijos alucinógenos e nas minhas certezas duvidosas. Mal caibo em mim, e tento caber em você.
E enquanto o tempo vai passando e a gente não se dá conta de que a noite vira madruga e ameaça virar manhã mais rápido do que gostaria, eu decoro seu corpo em tato, paladar, olfato. Conheço teus barulhos, teus jeitos e esse riso fácil que brota na curva fértil do meu sorriso.
Vou percebendo que marco o tempo na sua respiração, e a cada instante, anseio por cada toque seu. Sim, parece que te devo cada beijo há duzentos anos, parece que cada carinho demorou tempo demais para acontecer. E quando acontece, é grande demais para caber em mim.
E falo sem querer, o que não sei se devo dizer. Sai meio atravessado. Sai meio de lado, enviesado. Sai sem pedir licença e sai antes que dentro de mim, aquela verdade arrebatadora fizesse algum sentido. Sai no sentido contrário ao da rotação da Terra, e faz com que o planeta resolva correr do Sol: Rotação e Translação estão piradas nesse meu mundo.
E esse mar revolto que está aqui dentro de mim se encontra com seu rio de água doce. Não sei o que fazer para domar esse querer-você-a-todo-instante. E me complico na simplicidade. Sou avessa a tudo que é monocromático, e adoro seu estilo moderado e o contraste dele com o toque de suas mãos em minha pele rubra e febril. Me entrego a todo instante, e assim, vejo o mar.
segunda-feira, 3 de janeiro de 2011
Quando o meio termo é Bom
Acontece sem você perceber, com quem você não acha apropriado e te pega desprevenido às 2 da tarde de um domingo chuvoso. Começa com as mãos suadas, ou com um pensamento insistente e uma vontade louca de ouvir uma música do Pearl Jam. Just Breathe, Stay With me - baby.
De repente todas as suas certezas e idealizações são amassadas por um rolo compressor. Nada parece muito importante, as formas não são inteiramente definidas, tudo está meio sem sentido: algumas partes de você se misturaram quando o rolo compressor passou.
Você quer não ligar e liga, quer não pensar e pensa, quer não se importar, mas se importa. Diz que não quer nada sério e mente cruelmente. Diz que não quer que fique, e depois suplica com os olhos pra que não vá embora. ‘Os olhos mentem, dia e noite a dor da gente’. Mentem mais, mentem o que falam, mentem o que calam.
Abre a boca pra falar que adora e solta qualquer besteira sobre o tempo, a chuva – É não para de chover. E chove fora, e dentro de mim. Estou me afogando por dentro.
Finge não importar com o fato, com ato, impacto. Mas não pensa em outra coisa. Lamenta que o cheiro no travesseiro tenha saído tão rápido, e morde a beirada da coberta tentando decidir entre ir e ficar. Morde. Morde orelha, pescoço, lábios. Tenta devorar aquilo que vem te consumindo. Se morde de ciúmes, saudade, de querer mais.
Não confessa que o coração dispara quando o celular toca aquela musiquinha besta que escolheu pra quando ligasse. Que não fica doido de saudade quando recebe uma SMS qualquer dizendo que quer ver.
Acredita em qualquer mentira sincera que aqueles lábios falarem: é gostosa, é musa, é neném, é deusa, é doida. Basta ser alguma coisa, e se rolar um pronome possessivo na frente, que seja o ’Sua’. Sua de ser, de acontecer, de esperar, de ter.
De repente se sente no meio de Eduardo e Mônica do Legião. Parece tudo diferente, é mais novo, é mais velho. Tanto faz, nesse caso satisfaz. O meio termo me parece ótimo para apaziguar essa vontade sem razão.
De repente todas as suas certezas e idealizações são amassadas por um rolo compressor. Nada parece muito importante, as formas não são inteiramente definidas, tudo está meio sem sentido: algumas partes de você se misturaram quando o rolo compressor passou.
Você quer não ligar e liga, quer não pensar e pensa, quer não se importar, mas se importa. Diz que não quer nada sério e mente cruelmente. Diz que não quer que fique, e depois suplica com os olhos pra que não vá embora. ‘Os olhos mentem, dia e noite a dor da gente’. Mentem mais, mentem o que falam, mentem o que calam.
Abre a boca pra falar que adora e solta qualquer besteira sobre o tempo, a chuva – É não para de chover. E chove fora, e dentro de mim. Estou me afogando por dentro.
Finge não importar com o fato, com ato, impacto. Mas não pensa em outra coisa. Lamenta que o cheiro no travesseiro tenha saído tão rápido, e morde a beirada da coberta tentando decidir entre ir e ficar. Morde. Morde orelha, pescoço, lábios. Tenta devorar aquilo que vem te consumindo. Se morde de ciúmes, saudade, de querer mais.
Não confessa que o coração dispara quando o celular toca aquela musiquinha besta que escolheu pra quando ligasse. Que não fica doido de saudade quando recebe uma SMS qualquer dizendo que quer ver.
Acredita em qualquer mentira sincera que aqueles lábios falarem: é gostosa, é musa, é neném, é deusa, é doida. Basta ser alguma coisa, e se rolar um pronome possessivo na frente, que seja o ’Sua’. Sua de ser, de acontecer, de esperar, de ter.
De repente se sente no meio de Eduardo e Mônica do Legião. Parece tudo diferente, é mais novo, é mais velho. Tanto faz, nesse caso satisfaz. O meio termo me parece ótimo para apaziguar essa vontade sem razão.
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