No turbilhão que é minha cabeça fêmea, emaranhada na hera daninha da insegurança nossa de cada dia, me belisco a todo instante num esforço dantesco de provar que berimbau não é gaita e que vez ou outra, a vida esbarra no faz de conta e um conto de fadas acontece.
Enquanto remexo suas panelas, pico cebola e brigo com a torneira maluca da sua cozinha, me pego pensando em como seria bom, só por hoje, e por alguns instantes, brincar que é pra valer. Transmutar em verdade essa mentirinha sincera que tem sido só sorrisos e comichões, e que a gente gosta de aprisionar pra ter tamanho de caber na palma da mão apenas, nada de preencher um coração cansado de fazer origami para passar o tempo.
Dobro meus olhares e suas camisas e me aninho preguiçosa no ninho perfeito que é seu braço apoiando meu pescoço, e minhas costelas esquerdas encontrando as suas direitas, num direito que conquistei e que não sei se é meu.
Desenho seu rosto com as pontas dos dedos, e tracejo você na minha memória, para aprisionar nesta aquarela o efêmero de tudo isso e criar algum respaldo que resguarde meu peito calejado de buscar no palheiro a agulha de uma esperança qualquer.
Gosto de passar meu hidratante preferido nas tuas costas e assim me perdôo por arranhá-las sem dó nem ré, em um rompante que é tão meu e que vem por você. E assim gasto creme e tempo na sua pele, e te dou mais alguns hectares dessa alma de mulher que resolveu ser tua mesmo que meu cérebro gritasse não: Os 4 bilhões de neurônios que você tem a mais te dão certezas que nunca serão minhas.
Sensível integrável, coisa de menina intrigável, jeito-mulher de ver o mundo-homem por vezes entregado ao intragável.
ResponderExcluir