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quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Para, Por e Com Você

Com você posso falar do tempo, da falta dele e da necessidade de organizá-lo em tarefas, sonhos e esquecimento. Da aurora boreal, das estrelas e brincar que aquelas bolas laranja no fio de alta tensão são planetas. Com você posso comer chocolate, e ficar acordada fazendo amor de um jeitinho minimalista e intenso, decorando e me regozijando com cada pequeno movimento do seu corpo sob o meu.


Com você posso falar de passado sem medo de que ele se torne presente demais para que seja possível ver algum futuro para nós. Posso falar de futuro e não te ver encolher pela ameaça indizível e inimaginável de ter minha companhia por mais que alguns dias, algumas noites; você está bem acostumado a me ter por perto. E assim, não é um pecado mortal sonhar acordada com mais alguns trident’s divididos entre os dentes na desculpa óbvia de te dar um beijo e, se quiser e o cansaço permitir, ficar acordada te olhando dormir.

Com você posso cantar com minha voz desafinada, e sorrir da falta de graça da vida. Posso encafifar de te ensinar passos de tango, roubar sushi dos outros, e engolir minha timidez – que sim, – existe. Por você compensa arriscar bem mais que o habitual.

Posso falar de Milan Kundera, e mesmo que você não entenda, não saiba de onde veio e compare uma frase dele que citei com qualquer coisa que viu no google, eu sei que a teoria do autor tcheco é uma verdade: A gente realmente dorme bem com quem gosta, mesmo espremidinho.

Ando de mãos dadas, te beijo e solto um sorriso traidor, que me entrega muito mais do que qualquer palavra que eu possa dizer pra você. Muito mais do que qualquer conjunção de palavras jamais poderá fazer; todas as palavras mentem.

Me dou ao desfrute de desligar o carro pra você ficar mais, de te convidar pra passar a noite comigo em uma terça feira qualquer e a entender que você detesta planejar, tudo vem de supetão. Comigo mesma eu sou feliz, com você eu divido esta alegria e a transbordo em coisas sem sentido e que vão à sua direção sem que eu as possa deter, mas com você não há medo de ridículo, nem sensação de fracasso. Sei que você não vai sair correndo à primeira amostra de fraqueza da minha parte.

Com você não quero falar de trabalho, da cotação da bolsa ou da árvore que despencou no parque da cidade. Prefiro te fazer cócegas e deixar o mundo para um pouquinho mais tarde (ou cedo). Porque com você, eu me sinto em outra galáxia. Viajante interestrelar deste planeta populado de loucura e salpicado de lucidez que eu gosto de chamar de gostar, embora a palavra certa seja algo bem do ladinho do amor.

Para você guardei o melhor em mim, e toda a minha pureza em acreditar na vida. Para você não há barreiras ou expectativas: vou bebendo em baldes o que a vida dá, sem medo de me afogar ou que a água esfrie de uma hora pra outra me deixando mais hipotérmica que a ausência dos teus braços ao redor da minha cintura.

Por você, qualquer coisa que eu escreva tem sabor de carta de amor, do mesmo jeito que até o livro de terror que te emprestei tem, para você, o meu cheiro. Coisa mais estranha é essa não?

Com você eu sou mais eu, e espero assim, abrir espaço para você ser só você. Nada mais.

Um comentário:

  1. Queria ser esse cara de sorte.
    ele tem um S de muita mais muita Sorte

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