Deitada nos teus braços, envolta por nosso suor, coração acelerado e a alma leve, eu vejo o mar. Vejo as ondas que vem e vão, e em seu balançar levam e trazem tudo. Inspiro minha vontade de viver tudo intensamente e expiro meu medo incontrolável de ser pouco.
Devoro com meus dentes seu furinho no queixo, e insinuo que aquilo é um defeito de fábrica, mas por dentro morro de vontade cada vez que você sorri e aquele furo salta aos meus olhos. E marco suas costas com minhas unhas imaginárias, numa necessidade louca de ter um pouco de mim em você, assim como há tanto de você em mim.
Sorrio da falta de graça que é se apaixonar pelo melhor amigo, coisa mais sem cabimento, desde que o mundo é mundo e eu sou morena, mulher e coração mole. Você me avisou que era pra manter o coração fechado, mas isso incluía deixar você do lado de fora ou era um conselho pra ser seguido apenas com os outros milhões de homens do planeta?
Tudo muito complicado e eu querendo passar a noite do seu lado na bagunça organizada que são nossas vidas e esse apêndice em comum. E o mar se recolhe na frente dos meus olhos, morrendo de angustia do que pode vir, do que a maré cheia traz quando se expande.
E eu expando. Encolho no instante que sua musculatura se retesa e expando por dentro na delícia louca que é sair de mim pra você entrar.
Encolho e fico pequena pra caber nos teus laços diminutos, nos teus beijos alucinógenos e nas minhas certezas duvidosas. Mal caibo em mim, e tento caber em você.
E enquanto o tempo vai passando e a gente não se dá conta de que a noite vira madruga e ameaça virar manhã mais rápido do que gostaria, eu decoro seu corpo em tato, paladar, olfato. Conheço teus barulhos, teus jeitos e esse riso fácil que brota na curva fértil do meu sorriso.
Vou percebendo que marco o tempo na sua respiração, e a cada instante, anseio por cada toque seu. Sim, parece que te devo cada beijo há duzentos anos, parece que cada carinho demorou tempo demais para acontecer. E quando acontece, é grande demais para caber em mim.
E falo sem querer, o que não sei se devo dizer. Sai meio atravessado. Sai meio de lado, enviesado. Sai sem pedir licença e sai antes que dentro de mim, aquela verdade arrebatadora fizesse algum sentido. Sai no sentido contrário ao da rotação da Terra, e faz com que o planeta resolva correr do Sol: Rotação e Translação estão piradas nesse meu mundo.
E esse mar revolto que está aqui dentro de mim se encontra com seu rio de água doce. Não sei o que fazer para domar esse querer-você-a-todo-instante. E me complico na simplicidade. Sou avessa a tudo que é monocromático, e adoro seu estilo moderado e o contraste dele com o toque de suas mãos em minha pele rubra e febril. Me entrego a todo instante, e assim, vejo o mar.
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