Bateu a porta com toda sua força, como se aquilo representasse um ponto final. No fundo do peito, a esperança fixa de que ele interpretasse como uma vírgula, e em seguida corresse atrás dela como nas comédias românticas que assistiram tantas vezes juntos.
Imaginou-se procurando as chaves do carro: que estariam na bolsa, e cairiam no chão. Resultado de dedos trêmulos. Mas as mãos estavam firmes, e abriu a porta do carro sem maiores transtornos. Do lado de dentro do veículo um calor de entorpecer neurônios. Nada do frio avassalador que esperou sentir, e que caia tão bem a fins de romances e cenas onde a mocinha percebia o peso cruel do adeus.
Olhou pelo para-brisa a janela do 3º andar, esperava vê-lo. Debulhando-se em lágrimas e implorando aos berros que ela voltasse a bater suas portas, vestir suas camisetas e deixar as toalhas molhadas em cima da cama: Nada disso. A janela aberta anunciava as cores da TV projetando-se na parede: Aquele Filho da mãe está vendo televisão enquanto eu vou embora?
Girou a chave e tentou arrancar o carro. Não olhou para nada e acabou esbarrando no automóvel da frente. Nesse momento nenhuma olhadela para a 3ª janela. Porque ai sim sabia que ele estaria olhando e rindo horrores de sua habilidade fracassada com manobras. Deprimente.
Desceu, avaliou o estrago e com sua letra de escrever cartas de amor, deixou um bilhete com seu telefone grudado no limpador de para-brisas. Voltou, arrancou, saiu pela cidade deixando pra trás mais um amor sem sentido.
Porque todos os fins tem que ser trágicos e apoteóticos? As coisas não poderiam ser mais bossa nova e menos rock n’ roll?
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