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segunda-feira, 26 de maio de 2008

Sobre Fou Lótus

Fou lótus.
Sim. Fou em francês é o bispo do xadrez, que também representa a loucura é verdade. Lótus a flor que simboliza a pureza da alma.

Eu conheci o “Carlin”. Conheci-o há 4 anos. Conheci-o entre copos de vinho e conversas sobre a lua.Ele trazia nos olhos uma tristeza indizível, que contrastava com sua alegria inata e com seu bom humor. Gostava de Oswaldo Montenegro. Ensinou-me a gostar dele também.Nenhum jornal disse que o “Antônio Carlos” preferia ser chamado de Carlin. Que era puro como a Lótus de seu nickname, que tinha uma maneira de rir peculiar, e que ao conversar conosco, colocava os cabelos muitas vezes atrás da orelha.

Não andava só de preto, embora lhe caísse bem, tenho fotos dele de branco, verde. Gótico? Seria extremar demais a coisa toda. Era um adolescente que gostava dos amigos. Gostava de magia? Sim. Gostava. Tanto quanto eu, e eu nunca matei ninguém por isso. Ir a cemitérios? Nunca me chamou para nenhum. E olha que conversamos muito sobre a Deusa e o amor. E se havia algum conceito distorcido, era hora de manifestá-lo.

Quanto a ser amigo intimo de seu algoz? Não. Poderiam se conhecer, poderiam ser colegas, mas amigos? Acho que isso é reflexo de pessoas que pouco o conheciam ou que preferem o comodismo `verdade.Que saiba o Carlin tinha sim um grande amigo, mas este é músico, queria seu bem de forma quase paternal e atende pelo nome de Thiago.

Acho que o jornalismo precisa de algo mais verdadeiro e menos populista. Tenho lido teorias mirabolantes de rituais macabros, de RPG. A única coisa que teve poder de influenciar a vida ou morte dele naquele momento foi a mente cruel de um ser humano.

Criamos nossos filhos com a virtude do amor, a pureza; ensinamos a eles que devem crer na amizade, que confiar nos amigos é o primeiro passo.

Carlinhos era um garoto puro e indefeso. Inofensivo eu diria. Nunca vi-o sendo grosso ou ríspido com qualquer pessoa que fosse. Era carinhoso e amável. Do tipo que te cumprimenta com um abraço verdadeiro. E ele confiou sim. Carlinhos confiou que seu assassino era um amigo, e amigo nós seguimos para todos os lugares.

Eu só consigo ter pena desse garoto que matou meu amigo. Pena porque a justiça dos homens pode até ser falha, mas a justiça eterna não passa em branco. Pena porque ele tirou do mundo um pouco de amor.

Pena por ele não entender nada de magia ou sobre a vida. Pena por ele ter tentado se matar a pouco tempo. Pena por ele mesmo achar que sua vida não vale a pena. Pena pelo tempo que ele empregou “misantropia” em frases sem saber realmente o que aquilo significava. Pena por ele achar que o ódio a todos os seres humanos era alguma forma de paz. Que a solidão era um caminho aceitável e menos arriscado.

E principalmente pena de nós, que amanhecemos este sábado passado sem a alegria de ter o sorriso do Carlinhos entre nós. Que acordamos sem a pureza e a loucura de Fou Lótus, que sempre foi mais pureza . Que sempre foi mais amor.



-->Notícia no UAI

terça-feira, 20 de maio de 2008

A Deusa e a Dança

E um dia eu descobri a Dança. Ou talvez, sendo mais sensata, a dança me descobriu.

E com as ondulações inseguras de meus braços, o infinito representado pelos meus quadris, eu a vi. E sua face era bela, embora ainda oculta pelo véu da minha rigidez, de antigos costumes que eram mais bárbaros que glorificar meu ventre como fonte de vida. Mais bárbaros que o sacrifício do Deus que banha a terra com sua fertilidade.

Ela me olhava e se movia me incentivando a acompanhá-la, a romper o véu, a transgredir as falsas regras, a cultuar a forma feminina que habita meus próprios contornos.

E Ela estava lá; estava lá quando pouco a pouco o véu se esvaiu. Estava lá quando notei que minha nudez não era vergonhosa, e estava lá quando me banhei da luz da aurora e recebi o Deus.
Dançavamos juntas e meu véu agora ondulava ao vento, e era levado pela suavidade da brisa que exalava de Sua respiração.

E ela ria, e seu riso me parecia o som das águas na cachoeira.

E de sua dança, a vida surgia. E de sua dança, a minha alma se cobria de cores, cheiros e sabores. E descobri o mundo.

E ela continuava a meu lado, quando meu coração desabrochou como a rosa ao contato do orvalho, e vi, que nas pequenas formas, que no meu próprio sorriso é que se esconde a alegria da risada.

Ela simplesmente me acompanhava. Ou eu a seguia, não sei.

Ao mesmo tempo que era Ela, era eu. E ela estava em mim. E girava comigo, e sentia, e se apaixonava, e era ela, e era eu.

E desde então ela se fez presente. Mesmo nas noites mais escuras, sua face estampada no céu me acompanha e me dá a certeza que a Dança continua.

E quando ela não surge no Céu, posso encontrá-la em meu ventre. No calor intenso que se move e faz tudo acontecer.

Posso encontrá-la em mim mesma, porque um dia, em uma dança, eu era Ela, e Ela era eu.

Flávia. (29/08/07)

Mais um pouco de Paz

A bailarina hoje acordou. Espichou-se antes de sair da cama, e olhou seu teto cheio de estrelas, e a luz que ainda brilhava. Colocou o pé direito pra fora da cama, pisou bem firme no chão com ele, e só ai se atreveu a encostar o esquerdo no chão.

Foi rodopiando até o banheiro, e de águas frescas e um pouco geladas tomou um banho. Alecrim pra aqui, alfazema pra colá. Ela adora isso de ervas. Adora se perfumar.

Penteou os cabelos cuidadosamente, partiu-os, colocou seu vestido mais bonito.

O sol Brilhava, e ela pensava na Advogada. Na razão, na lucidez e principalmente na paz. Que sentimento é esse que se diz branco, que é a razão natural, e mesmo assim nunca se acha? Não há dessa tal de paz no Oriente Médio, nos EUA, na Europa, e nem aqui... no Brasil. Talvez a paz seja algo que se guarda na caixinha, se tranca e espera a hora certa para usar. Talvez, a paz seja como qualquer coisa que se perde. Temos que parar de procurá-la para achá-la. Afinal, há guerras para achar a paz, há conflitos para achar a paz. E parece que ela brinca de se esconder, cada vez que um homem pega um fuzíl e diz querer encontrá-la.

[A paz reside na solidariedade. Não nas armas de fogo]

A lucidez tomou conta

Tomou nota, tomou tento. Tomou juizo. A lucidez pegou a estrada foi em busca daquilo que não achava na terra mágica das sensações.

A lucidez caminhou ao lado da desilusão. Tomou um porre de uma bebida chamada orgulho. Fazendo-se de brejeira, se engraçou para o amor, que via com os olhos de outrêm e não entendeu bem a aparente frieza daquela moça racional demais que bebia ao lado da desilusão com ares de quem sabe o que faz.

Não desanimou. Pegou a mochila e foi passo a passo se esquivando daquela bar estranho, onde se bebia orgulho na esperança de maltratar o amor, e convênce-lo que a desilusão era boa companhia.

Partiu sozinha. Convenceu-se que a melhor companhia era o silêncio, e a melhor bebida era mesmo a cristalina paz.

Caminhou no deserto, nos gramados morros onde brincavam os vários filhos da sra Felicidade. Muito gentil alías, ofereceu-lhe repouso por uma noite.

Só quando, viu uma colorida forma rolando morro abaixo e soltando sonoras gargalhadas é que percebeu que só seu oposto lhe completaria. Andou por todos os lados e sua companheira ideal estava bem ali.

[Nem toda Loucura é genial, Assim como nem toda Lucidez é Velha!]

Amor

Na vida só algumas poucas coisas valem mesmo a pena. E destas poucas, tiro tantas outras que a vida moderna nos impede de realizá-las. Mas o amor... esse sim. Esse vale todos os riscos.

É impreterível que se tenha um amor que te deixe completa, e respeite sua individualidade.Nesse amor, é irrevogável que haja paixão, e um tanto de loucura. A sensatez inata da lucidez, e um toque excepcionalmente grande de lealdade.

Um amor de verdade se encontra naquele ser, onde se pode falar de astronomia, política e discordar em tudo. No final o que interessa não é ter um clone seu que te siga sempre não é? È necessário ciúmes, afagos, beijinhos, banhos de chocolate, leite moça, sanduiches cheios de bacon de madrugada depois de gastar todas as energias numa entrega doce de uma virgindade de alma. Uma virgindade que nada tem a ver com hímens, mas que diz respeito a descoberta de novos cheiros, novas cores.

Quando se descobre alguém que toma 20 banhos por dia só pra brincar de cuspir água em você e depois te amar ali mesmo, em pé com a água rolando sobre seus corpos nús, alguém que pegue água pra você, só para fazer charme e te chamar de preguiçosa, uma pessoa que possa tomar vinho ao seu lado e te dizer que você é a mulher mais linda do mundo.

Ter um amor, que te chame de princesa, fada, que seja seu amante, amigo, seu companheiro... Mesmo sabendo que você é cheia de defeitos e eles se agravam na temível TPM.

Alguém que fique acordado, como na música do aerosmith, enquanto você dorme, e observe seu sono.

Uma pessoa que você sinta vontade de dizer sempre que a ama, e não viveria sem ela, mesmo que isso soe como o maior clichê do mundo. Alguém que eu sei, que leria esse textinho batido e choraria, pois de alguma forma ia saber que eu estava escrevendo desde o início sobre ele...

[ O amor é a loucura e a Lucidez se unindo em um apaixonado beijo.]

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Crescer dói

E não é aquela dor nos ossos, não é o aumento da somatomedina. Não tem nada a ver com altura. Nem aniversários.

Crescer dói. Porque ninguém cresce com experiências alheias, porque ninguém conhece a dor através do ferimento do outro.

E por isso crescer dói. Amadurecer inverga nossas costas, pois temos que carregar nosso peso, o peso de nossos erros e orgulho.

Conheço pessoas que tem 60 anos e não cresceram. Conheço outras de 17 anos, que já são capazes de pedir desculpas quando erram, de assumir seus próprios erros.

Crescer dói muito. Dói na moral, dói no coração partido por ilusões quebradas. Dói.

Quem dera crescer fosse uma fase de maturação que durasse de um tempo x a um instante y. Mas não. É uma equação que no final não era igualada a zero. É somar, dividir, multiplicar, subtrair ( claro!) e chegar ao resultado óbvio de que valeu.

Valeu a dor no joelho ralado, valeu ter ficado até tarde para concluir aquele trabalho a tempo. valeu ter corrido atrás do sonho, ter escorregado naquela casa de banana, valeu ter vivido, valeu ter pagado o preço das escolhas, valeu ter escolhido este caminho. Afinal de contas, o melhor jeito que sua vida poderia estar é a forma que ela é. Valeu aprender a duras penas que equilíbrio é a receita de qualquer bolo. Valeu a pena.

Crescer dói. E por isso chamam esse "crescer" de amadurecimento.

[Crescer é colocar uma porção grande de loucura e ir adicionando lucidez até dar ponto]

Nunca diga Nunca

Quando eu era pequena eu era tão confiante! Meu lema era "Nunca diga nunca". Algo que para um adulto era só mais uma criação de criança, para mim uma coisa séria do mais alto escalão. O "Nunca diga nunca" me seguia nas minhas horas intermináveis de colégio e nas deliciosas brincadeiras no quintal lá de casa. Sim, ainda sou do tempo que criança brincava na terra, fazendo comidinha de mato e sonhando com a casa na árvore. Aliás, eu nunca tive uma casa da árvore. Mudamos para a casa que passei a maior parte da minha infância quando eu tinha seis anos. A casa era recém construída, como primeiros moradores, fomos nós que plantamos a sementinha que mais tarde poderia ser a casa da árvore de alguém. Juro que naquela tarde de Setembro, quando ajudei meu avô a colocar a muda da plantinha na terra, eu tinha esperança que ela crescesse bem rápido e desse tempo de viver a sensação de gangorrear nos seus galhos para construir a tão sonhada moradia. Como a árvore não crescia, o jeito foi improvisar. E minha casa da árvore virou um amontoado de madeira e armadilhas contra 'invasores' que eu mesma criava, executava e usava. Claro, tudo com ajuda do meu primo, que no final era quem sofria com as armadilhas de cair água, de pisar no barro bem a lá Didi, que ele mesmo me ajudava a construir.Santa ingenuidade! Quando íamos construir a "casinha" (por que sim, ela tinha q ser reconstruída, a chuva sempre desmanchava, ou o cachorro, (Freud!), ou minha avó e seu medo de matarmos a tão preciosa horta) sempre havia aquelas dificuldades (não conseguir carregar a madeira, não achar solução pra falta de telhado). Nessas horas eu olhava para o meu primo e simplesmente falava ' Nunca diga nunca'. E parecia mágica. A gente se animava a fazer tudo. Hoje, 14 anos depois, estou aqui pensando na força dessas três palavras. Estava a muito procurando algo que me motivasse a sair do marasmo e comodismo que a idade me deu.E não é que como tudo na vida, eu fui buscar a resposta fora, e ela estava bem aqui dentro de mim? [A Bailarina ensina a Advogada a nunca dizer nunca!].

Paz

Acho que ninguém consegue entender o que leva alguém a tirar uma vida.

Um bem material? Uma má educação? Uma política capitalista e heterótrofa, onde é cada um por si, e a maioria nem acredita no 'Deus por todos'?

Eu fico tonta com os noticiários. Só nesse Final de semana 11 assassinatos em BH. Mas nada, nada mesmo justifica tirar a vida de alguém. Fala-se muito em aviões que se chocaram, matando mais de cem. Mas o pesadelo verdadeiro acontece aqui na terra, onde jovens de 19 anos são mortos em troca de um Gol 99 vazando óleo.

Referendo veio, votação passou... E o que mudou de fato? O que conseguimos fazer com a chama fugaz e mínima de uma vela a mercê do vento?

Fazemos pouco, fazemos quase nada pela Paz. Aquela paz que se alcança com a boa distribuição de renda. Aquela paz que se tem a mãos quando se ensina a uma criança os valores como amor ao próximo e dignidade.

Acho que nasci na época errada. Ou talvez seja apenas mais fácil pensar que antes era melhor. Que antes não tínhamos AR 15 e mira noturna. Talvez fosse mais simples a vida quando a droga era ópio, não LSD, não cocaína. Quando se cheirava rapé, quando os desastres eram causados pelas caravelas afundadas, e quando acreditávamos que monstros sobrenaturais habitavam a escuridão. Mas não, não consigo entender.

A vida é o bem mais precioso. É o presente máximo de uma mãe. Por que? Acredito que essa seja mais uma das respostas que os livros nunca poderão me dar. Essa é uma questão pela qual os psicólogos podem até criar inúmeras teorias, mas chegar a uma solução...

Só mantenho minha esperança imaculada de que um dia possamos voltar a olhar pelas nossas janelas sem temer uma bala perdida. Peço aos céus, e a Deus, embora eu não seja religiosa, que um dia eu possa sorrir para as pessoas na rua e receber de volta à mesma luz, sem interesse, sem aparente discriminação por minha cor, raça ou escolhas dogmáticas. Apenas por sorrir.

Esse final de semana Thiago, 19 anos deixou-nos sem a luz do seu sorriso. Partiu por uma escolha alheia. Partiu em um disparo de arma de fogo que culminou em sua morte instantânea. Uma morte sem porque.

E fica no ar mais uma pergunta para a qual não me ensinaram a resposta.

Crescer e outras coisinhas

Todos vêm me perguntando há anos o que vou ser quando crescer. Não é óbvio? Vou ser mais um ser humano frustrado.

Vou ser mais um pagador compulsivo de contas. Vou ser outro daqueles seres bípedes que correm de um lado para o outro deixando pra trás todas as esperanças e angústias da época que ainda rastejavam nas quatro patas.

Quando eu crescer, vou ser médica eu dizia sempre à minha avó. Não que a medicina me atraísse, mas eu sabia que era isso que ela esperava ouvir. Essa era a receita infalível pra receber muitos doces. Era esse o caminho seguro que ela esperava que eu trilhasse.

Acontece que aos nove anos, quando numa páscoa cortei a língua em um acidente pueril que envolvia uma caloi rosa de cestinha e um monte de areia no chão, eu percebi que aquele tanto de sangue, pontos e xilocaína não eram o mar de rosas que resultava apenas em bala e 'chipes'.

Os 11 anos, quando Gisele Bundchen desfilava por todos os lados, e minha voz não era lá grandes coisas no coral da escola, percebi que meu dom artístico estava para o lado da moda. Modelo, flash, Manequim, passarela. Que garota não se sentiu atraída?

Entrei no Segundo grau e o sonho de ser modelo foi se despedaçando em meio a minha inegável queda para a linguagem. Pensei em fazer Direito, Física, Matemática. Na inscrição fiz Letras.

É incrível como a pressão da família te aniquila. Todos fazem ares de 'bem, você que sabe'. Mas ninguém te dá doces quando você quebra a cara com a escolha. De letras não fiz nada. E até hoje não sei bem o que fazer.

O mundo me joga ao léu com minhas idéias desconexas e não sei bem o que fazer com esse mundaréu de coisas que tenho ai para aprender.

Bom seria ter um dia de muitas e infinitas horas. Imagina? Mas essa vai ser mais uma das minhas frustrações.

[ A bailarina não quer parar a dança. Porque parar?]

Onde termina a lucidez e começa a loucura?

Sempre me perguntei até onde iria a lucidez. Isso, porque a lucidez é limitada. Não é um paradoxo irrefreável, não é uma borrachinha que se estique infinitamente. A lucidez não pode ser moldada. Não é quente nem fria, mas tem a temperatura amena das idéias acertadas. A lucidez é o andar na linha. Lucidez é um limite que tenta conter a loucura.

É como se a lucidez fosse o superego e a loucura nosso Id.Freud estava certo. Somos loucura e lucidez, refletidas na nossa mesquinha personalidade que senhor sigmund chamou de Ego.

A lucidez é dura, e faz doer. A lucidez nos trás a certeza da morte e a escuridão das noites mal dormidas. É como se a lucidez fosse o sal, e a loucura o doce. A demasia de ambos nos faz mal.

A Lucidez te faz enxergar a vida sob vários ângulos, do ponto de vista do observador, do observado e da 3ª pessoa.

Mas quando começa a loucura? A loucura não começa. Ela acontece. Ela estréia em nosso palco. A Loucura é uma eterna dançarina de cancan. Essa sim, é majestosa.

A loucura é definida por ai como uma condição da mente humana caracterizada por pensamentos considerados "anormais" pela sociedade.

É verdade. Por exemplo: pensar em ser feliz hoje em dia é loucura. Sonhar com menos propaganda e mais ação é loucura. Amor eterno e feliz então... Loucura. Somos um bando de loucos se fingindo de lúcidos.

[Não importa o palhaço que te fez rir, o importante é a gargalhada.]

Tempo

Vivemos em um mundo onde tempo é tudo. Dinheiro, amor, escola, faculdade. Tudo sem resume em tempo. Nem sempre temos tempo para o que gostaríamos de fazer. Nem sempre o tempo fica bom pro nosso lado. Nem sempre o tempo corre ao nosso favor. Às vezes gastamos tempo com o que não gastaríamos se soubéssemos que o tempo é curto, e que as coisas passam rápido numa razão inversa à quando tempo nós temos. O tempo pode ser inimigo ou aliado. Herói ou bandido. Depende da forma que vemos o relógio, o céu, o dinheiro, a faculdade... Há tempos que ficam na memória, e há outros que tentamos esquecer para não sofremos com a lembrança do tempo que passou, aquele tempo que deixou tatuagens que nem o tempo mesmo pode apagar. A vida te dá todo o tempo do mundo. E você desperdiça-o com coisas sem sentido, com mágoas as quais não deixou o tempo se encarregar de apagar. Perdemos tempo filosofando a morte, e esquecemos que o princípio de tudo é a vida. E que não importa o que você vai ser amanhã. Mas como você gastou o tempo que teve hoje. O tempo nos prega peças. É um eterno gozador. Quando se debruça à janela, e espera o doce perfume do fim das tardes, que vem trazido por uma bela visão, que nos sorri meio sem jeito; o tempo não passa. Enrola-se. Os ponteiros não andam. Os minutos brincam de vai e vem na gangorra. Quando se dá a mão. Sente o perfume que te lembra à espera ansiosa, os minutos apostam corrida, as horas passam de metrô. Às vezes sentimos que o tempo é um amargurado e triste seletor. Vem, e leva consigo, a cada volta do relógio, pessoas queridas, momentos únicos. Mas, com a doçura e suavidade que só a experiência trás, ele nos leva as dores, as tristezas, e nos ensina a não lamber nossas feridas, mas deixá-las aberta para que cicatrizem por si só. O tempo é uma criança, um velho. O tempo trás equilíbrio. Trás aquele amor 'pra vida inteira'. Trás os melhores sorrisos que você já deu e as piores lágrimas que rolaram em seu rosto. Só ele te ensina. Porque ele passa. E é por causa dele que as coisas são sempre importantes. Porque por mais que queiramos acreditar que temos todo tempo do mundo, sabemos que essa ainda é uma ínfima parte do tempo.Não o tempo que se mede em minutos. Mas o tempo que caminha na eternidade. [O tempo perguntou pro tempo quanto tempo o tempo tem. O tempo respondeu pro tempo que o tempo tem tanto tempo quanto tempo o tempo tem.] A bailarina volta a rodopiar, e a advogada tenta até sorrir.

Sobre Felicidade

É difícil falar sobre felicidade. Porque quando se está feliz, não se quer perder tempo procurando sentido para nada: quer-se aproveitar o máximo. Felicidade, como estado de espírito, é passageira. Como lembrança é eterna. Ser feliz hoje, te dá pelo menos 1 ano de recordações felizes. Tristeza passa, e você nem se dá conta...Só dói enquanto é, mas depois se esvainece, e ... cadê? Ser feliz não é rir toda hora, isso é ser bobo. Ser feliz é não ter medo do riso. É chorar quando quer, é gargalhar sempre que possível. Ser feliz é fazer do choro, aprendizado. Da loucura, lucidez. É não magoar quem nos ama com a nossa auto-piedade em ser triste. É chutar a beirada da mesa e sair esbravejando e depois rir da situação ridícula de se estar brigando com um objeto inanimado. Sorvete de flocos é felicidade. Uma porção de uma coisa branca, gelada e que derrete, salpicada do mais puro chocolate. Ser feliz é tão bom, que me embaralho ao abordá-lo por tamanho extase que é vivê-lo :) [Sendo Bailarina ou Advogada, hoje é dia de riso.]

Amor

Amor é feito de não. Não querer estar longe, mesmo sabendo que é muito difícil. Não saber esquecer, por mais que tente. Amar é não. Se amar fosse Sim, amor seria amizade. Amor é não compreender, e deixar pra lá. Amor, assim, na essência é loucura. Loucura Lúcida, como poucas coisas da vida chegam a ser. Ter um amor não é conhecer o sentido, nem achar o equilíbrio. Ter um amor é aceitar diferenças, erros... falhas. É abrir os olhos e não se sentir sozinha. Amor nada tem com a idéia de "completo". como diz aquele autor "não existe essa história de metade da laranja". Ser completo é ser você mesmo; e amar é entender até o "não estar completo" do outro. Amar é ter medo de perder. Aquele medo absurdo e infantil que não tem razão de ser nem na loucura nem na lucidez, só no amor. Amor é o extremo de dois lados. Um amor de verdade, desses com A maiúsculo faz-se compreender no olhar, na voz, no toque, na escrita. Quando era menina gostava de rodopiar descalça pelos corredores da minha casa. E a cada volta, havia o perigo de cair, e o risco de dar certo. Amor é um pouco assim, balanceado. Conhecer um verdadeiro amor é complicado. Pode se enganar pela cortina do "pode ser", do "ideal", que cobre a visão. Mas se não há cortina, não há pudor, não há lágrimas, não há medo... Ah meu caro! Isso é tédio... não Amor. Amor tem que ter qualquer coisa de choro, de sofrimento. De dor pungente que aferroa as cordas mais fundas da vida. Amor tem que ter ciúme. Aquele olhar meio raivoso, junto com um abraço apertado como que diz "é meu". Amor tem que ter pudor, senão é só sexo. Amor é feito de "pode" e "não pode". Amor tem que ter no pacote o medo de ficar sozinho. Aquilo de imaginar : "o que será de mim se você partir?". Amor tem que ser real, surreal, tridimensiobal... E ser apenas amor. Ame, sem entender o porquê. Amor não foi criado para ser entendido....

Sobre Loucura e Lucidez

Todos temos um pouco de loucura e lucidez. Loucura é aquele desejo que cresce às 4 da manhã e clama desesperadamente por sorvete de flocos. Lucidez é aquela razão um pouco fria e calculista que nos faz pensar duas vezes antes de arrancar o corpo da cama para ir até a geladeira. Assim funciona a vida. O equilíbrio é encontrar lucidez na loucura. Minha loucura e lucidez são bem distintas. São como dois lados da moeda, dois sabores da bala meio-a-meio.Eu sou loucura e lucidez, pesadas na balança da vida. Minha equivalência de medidas à essas duas formas de ser Eu mesma é que me fazem especial. Sou especial porque tento achar o equilibrio entre ser louca e careta, doente e sã, Feliz e triste. E achar o equilíbrio é uma caminhada cega na borda de um abismo, onde um passo pode definir tudo. Bom é ser uma louca lúcida. ["O extraordinário reside no caminho das pessoas comuns"]

[ Sobre presente, passado e futuro]

Me disseram que futuro era algo à frente. Andei por longas ruas, dobrei várias esquinas e esse tal futuro sempre fugia de mim. Sempre que o alcançava, ele corria, e jogava do porta mala de seu carro sport uma mala, que era um tal de Presente. O presente, caroneiro que só, sempre vinha ao meu lado. Me diverti com ele, chorei, comi o pão que o diabo amassou e paguei em prestações pesadas o preço do meus erros antigos. Eu e o presente nos tornamos grandes amigos. Sempre que eu caio, ele me apóia, e guarda todas as ataduras dos meus machucados num baú que levamos no porta malas, e que ele gosta de chamar de Passado. Vez ou outra o Passado ganha vida lá atrás. Pulam alguns resquicios de coisas já vividas, que vem pra frente. Incomodando a mim, e principalmente o Presente, fazendo com que nossa visão fique turva ao buscarmos o Futuro em seu esportivo conversível logo à frente. E assim, vamos indo. Buscando o futuro, que no seu esportivo feito de sonhos, é impossível de se alcançar por alguém que tem o porta mala pesado, cheio de coisas como o Passado. [E eu ainda me pergunto porque é impossível alçar vôo]

Algo a ser sempre lembrado

Há coisas que devemos sempre nos lembrar.
Lembrar de como se anda de bicicleta, como virar cambalhota, dar salto mortal, virar estrelinha, comer lasanha.
Lembrar do gosto do chocolate, de como é bom se sujar de manga, fruta do conde, terra, infância e alegria. É importante se lembrar da canção de ninar, da cor dos raios de sol na piscina do clube, do riso sem compromisso e espontâneo. É quase tão imprecindível quanto oxigênio, que se saiba dançar ao ritmo do vento, que se saiba rir do não saber, do perder, do impossível. Rir é um santo remédio. Remédio de alma, que lava o coração. Chorar também é bom. Quando era pequena, esfolava o joelho e ia andando pra minha mãe. Passos incertos. Bastava um beijo, um assopro e um pouquinho de merthiolate ( que na minha época ainda ardia). Hoje corro pra um ombro amigo. Esse ombro as vezes é o da mamãe. Mas minha dores não se curam mais com beijos e assopros, e creio sinceramente que não se faz merthiolate como antigamente. Deixa isso de choro pra outro dia. Hoje é dia de descer em um eterno toboágua. Sentir um frio na barriga. Beber coca cola, daquela bastante calórica. Hoje é dia de Bailarina. [Buscar o equilíbrio é difícil, mas viver sem ele é impossível]

[Coisas de Advogada]

Eu saio na noite. A lua me banha, a escuridão me envolve. Sou a escuridão, e o brilho fustivo da noite. Ando procurando a luz de uma janela, o burburilho de uma tv. Um buero aberto, que possa me engolir e me levar ao magma do coração da Terra, onde há calor. Não o calor humano que busco, mas algo para manter meu corpo aquecido à frente de toda essa frieza de corações. Um trovão corta a noite, e as primeiras gotículas de uma chuva veranina acariciam meu rosto. Um rosto pálido, carente de vontade pela vida. Carente de afago. Meus pés dentro dos sapatos dóem, e a cabeça curvada pra baixo deixa claro minha posição: Derrota. Perdi. Perdi no jogo das ambições terrestres. Não há fadas, não há música, não há sonhos. O triste, é procurar o caminho molhada de chuva e com os olhos turvos de lágrimas. [Quero voltar ao tempo onde tudo era inocência]

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