quarta-feira, 17 de dezembro de 2008
Algumas lições
A bailarina se sentiu adulta, se sentiu frágil e carregou o peso que a advogada levava todos os dias. Era uma experiência nova e dolorosa, o que não significava que seria uma má experiência.
Não teve dança ou música. O momento era de lógica e fatos. E os caminhos se cruzavam, e se juntavam, e o que era algumas poucas nascentes de problemas, virou um rio forte e largo de medos.
A bailarina aprendeu que rodopios podem te deixar tonta, cambrês fazem doer sua coluna, e que alguns machucados levam tempo demais para sararem, e podem deixar cicatrizes pra sempre.
Ela aprendeu que a advogada não era resmungona sem motivo, que riso podia ser sempre, mas que tristeza não tinha hora marcada.
Ela aprendeu que seus sonhos podem ser tão complicados quanto seus pesadelos, e que tudo em demasia pende ao mal estar. É melhor mesmo o equilíbrio.
Mas principalmente ela aprendeu que maturidade não vem com velas sopradas, e que segurança não se compra em prateleiras. Que confiança é uma montanha que se escala passo a passo, mas que qualquer deslize te leva de volta ao ponto de partida: isso se não levar mais longe, e sempre para trás.
Algumas lições da lucidez devem ser aprendidas pela loucura, embora a seleção de cada uma delas é extremamente necessária e nem sempre fácil.
quinta-feira, 28 de agosto de 2008
Um monte de letras
Hoje acordei para escrever, não havia papel ou lápis que saciasse minha vontade insana por traças formas, dar vida a minha imaginação através de surreais palavras.
Hoje, eu poderia escrever um poema simplório, que resumisse em rimas infantis, meus desejos e medos mais ocultos. E poderia ser uma prosa alegre, pois é dos nosso medos que nasce a vontade de fazer melhor, e são nossos desejos que nos fornecem os tijolos para que edifiquemos nossos castelos, ou que abramos novos horizontes.
Acordei sem medo de sujar o dedo com tinta azul, preta ou vermelha. Acordei lendo Clarice Lispector, fazendo graça com shakespeare, inovando e descrevendo com Jane Austen. Sendo eterna como só um poema de amor pode ser.
Olhei o sol, e percebi quanta poesia há no ar, quantas histórias as pedras contariam e em quantas primaveras eu já vivi.
Despertei a minha antiga vontade de escrever um livro, minha inquietante vontade de "sinômizar" o : " e todos viveram felizes para sempre".
E acordei tão eu.
Minha vontade de escrever ultrapassou a barreira que o papel me impunha, espalhou-se pela mesa, e nessa aparente falta de limites, escrevi no ar minhas idéias.
Houve horas em que me faltaram as palavras, mas era fácil solucionar isso, repetia palavras gastas e que ainda fazem sucesso nesse nosso mundo...
Escrever não é tarefa difícil quando se conhece algumas dessas palavras.
É prazeroso desenhar algo que pode ser perfeitamente decifrado por alguém.
As Palavras são belas. As letras, são particulas de idéias mil. Idéias que só precisam ser misturadas, jogadas para o ar, e posteriormente agrupadas, lado a lado. De uma maneira a que se possa formar idéias complexas, ou a se transpor sonhos em realidade.
Escrever é ser louco e ter a lucidez sensata de transpor sua loucura em palavras.
terça-feira, 29 de julho de 2008
Lucidez e Loucura: Metades de um mesmo caramelo.
- O de sempre senhora? – ele disse em sua voz convidativa e alegre.
Ela meneou a cabeça dizendo que sim. Vinha ali todos os dias, nunca falava com ele, e ele servil, tinha sua gentileza inabalável.
Lucidez simplesmente não podia entender como é que ele não percebia que ela nem se quer abria a boca! Ficou carrancuda em seu canto, sentindo o suor escorrer por baixo de sua capa de tweed, mais apropriada a um frio invernal do que ao calor daquela noite. Mas a discrição tem alguns impropérios. Queria passar incógnita. Cinza. E não conseguiu.
As portas do bar se abriram estrondosamente e vestida com sapatilha de ponta, vestido rodado e um sorriso no rosto lá estava ela. Era a razão da lucidez ir todas as noites àquele lugar mal freqüentado e muito colorido.
Ela chegou como todas as noites. Cumprimentou a todos no curto espaço da porta ao palco. Rodopiou entre as mesas para alegria de todos. Chegou ao balcão bem ao lado da lucidez, sorriu ao garçom e cumprimentou-o pulando por cima da bancada e beijando-lhe as bochechas ruidosamente.
Bebeu refrigerante e comeu chocolate, e ninguém se importou ou comentou o fato dela se sentar-se à mesa ao invés da cadeira, simplesmente porque gostava de balançar as pernas ao ar.
A lucidez sentia-se bem e mal ao lado dela. Bem pois ela era completamente louca. E mal porque ela era completamente louca MESMO.
Depois do banquete a jovem com a sapatilha de ballet sentou se ao lado da lucidez.
- Você vem aqui sempre!
Não era uma pergunta, então a carracuda lucidez se pôs e examinar seu copo e faezr cara feia.
- Você é sempre assim?
- Assim como? – Ela retrucou. Como aquela menina era irritante!
- Assim triste. Nunca dança, nunca ri. – disse a menina.
- Sou adulta.
A loucura riu. Jogou a cabeça para trás com seu riso. Rolou da cadeira e quase caiu no chão. Riu ainda mais.
Puxou a lucidez pela mão e colocou-a para dançar. A capa da advogada voou pelo ar quando a lucidez começou a se soltar e o calor do ambiente tomou conta.
Ela se sentia livre. Feliz.
Mas a música acabou e a Lucidez pegou o casaco e foi embora. Loucura distraída pela nova música que começava, nem percebeu.
E hoje Lucidez caminha cabisbaixa pela rua. E foi ao mesmo bar. Bebeu a mesma bebida. Mas seu coração acelerado, pulando no peito, mostrava que ela havia provado uma sensação nova e inebriante.
[E foi assim que a Lucidez começou a se misturar com a Loucura.]
segunda-feira, 28 de julho de 2008
O exercício da escolha
Sempre me afligi com as escolhas. Ponderar é uma tarefa árdua, que requer tempo, experiência e uma visão clara e total. Nem sempre tive a experiência para tal, ou outras vezes me faltava à visão, outras meu tempo e necessidade me exigiam mais e as escolhas tinham que ser rápidas.
As escolhas hoje não me incomodam. Tomá-las é sempre a parte mais complicada, porém, depois que decido, simplesmente sigo-as.
Quando era criança, adorava colocar um alfinete na boca. Era um desafio e tanto tentar dobrá-lo com os dentes, transformá-lo em uma bolinha... E evitar que ele furasse minha gengiva nesse um tanto quanto masoquista, esporte.
Às vezes eu simplesmente achava que tinha engolido-o. Haviam me corrigido o suficiente sobre esse mau hábito para que eu corresse e contasse a alguém meu medo.
Nessas horas eu fazia o exercício da escolha.
Eu me perguntava: O que de pior pode acontecer se eu tiver engolido?
O que vai acontecer se eu contar pra minha mãe?
É melhor que eu conte?
E ia esmiuçando as dúvidas. No fim, eu chegava à feliz conclusão que devia ter sido apenas meu medo que me fez pensar que havia engolido. E chegando à mesa onde estava o alfinete... Não é que ele estava lá? Dobrado, molhado. E eu jurava pra mim que não ia mastigá-lo de novo.
Sorte que sabemos que promessas de criança não duram muito.
É inevitável que escolhamos um caminho, uma direção. Que escolhamos um lado, uma cor do arco íris. Às vezes a vida nos cobra de maneira violenta uma escolha.
É fácil saber que nem sempre faremos a escolha certa. É humano aceitarmos que nossas escolhas podem ser erradas, e isso torna mais fácil corrigi-las.
O importante é não se manter estático. É participar da rotação do mundo. É aprender com suas escolhas.
E sabe, se aprendi uma coisa com meu exercício da escolha, é que ninguém aprende com a experiência do outro! É ralando nosso próprio joelho que entendemos o tamanho de nossas pernas para o salto que pretendemos dar.
segunda-feira, 26 de maio de 2008
Sobre Fou Lótus
Sim. Fou em francês é o bispo do xadrez, que também representa a loucura é verdade. Lótus a flor que simboliza a pureza da alma.
Eu conheci o “Carlin”. Conheci-o há 4 anos. Conheci-o entre copos de vinho e conversas sobre a lua.Ele trazia nos olhos uma tristeza indizível, que contrastava com sua alegria inata e com seu bom humor. Gostava de Oswaldo Montenegro. Ensinou-me a gostar dele também.Nenhum jornal disse que o “Antônio Carlos” preferia ser chamado de Carlin. Que era puro como a Lótus de seu nickname, que tinha uma maneira de rir peculiar, e que ao conversar conosco, colocava os cabelos muitas vezes atrás da orelha.
Não andava só de preto, embora lhe caísse bem, tenho fotos dele de branco, verde. Gótico? Seria extremar demais a coisa toda. Era um adolescente que gostava dos amigos. Gostava de magia? Sim. Gostava. Tanto quanto eu, e eu nunca matei ninguém por isso. Ir a cemitérios? Nunca me chamou para nenhum. E olha que conversamos muito sobre a Deusa e o amor. E se havia algum conceito distorcido, era hora de manifestá-lo.
Quanto a ser amigo intimo de seu algoz? Não. Poderiam se conhecer, poderiam ser colegas, mas amigos? Acho que isso é reflexo de pessoas que pouco o conheciam ou que preferem o comodismo `verdade.Que saiba o Carlin tinha sim um grande amigo, mas este é músico, queria seu bem de forma quase paternal e atende pelo nome de Thiago.
Acho que o jornalismo precisa de algo mais verdadeiro e menos populista. Tenho lido teorias mirabolantes de rituais macabros, de RPG. A única coisa que teve poder de influenciar a vida ou morte dele naquele momento foi a mente cruel de um ser humano.
Criamos nossos filhos com a virtude do amor, a pureza; ensinamos a eles que devem crer na amizade, que confiar nos amigos é o primeiro passo.
Carlinhos era um garoto puro e indefeso. Inofensivo eu diria. Nunca vi-o sendo grosso ou ríspido com qualquer pessoa que fosse. Era carinhoso e amável. Do tipo que te cumprimenta com um abraço verdadeiro. E ele confiou sim. Carlinhos confiou que seu assassino era um amigo, e amigo nós seguimos para todos os lugares.
Eu só consigo ter pena desse garoto que matou meu amigo. Pena porque a justiça dos homens pode até ser falha, mas a justiça eterna não passa em branco. Pena porque ele tirou do mundo um pouco de amor.
Pena por ele não entender nada de magia ou sobre a vida. Pena por ele ter tentado se matar a pouco tempo. Pena por ele mesmo achar que sua vida não vale a pena. Pena pelo tempo que ele empregou “misantropia” em frases sem saber realmente o que aquilo significava. Pena por ele achar que o ódio a todos os seres humanos era alguma forma de paz. Que a solidão era um caminho aceitável e menos arriscado.
E principalmente pena de nós, que amanhecemos este sábado passado sem a alegria de ter o sorriso do Carlinhos entre nós. Que acordamos sem a pureza e a loucura de Fou Lótus, que sempre foi mais pureza . Que sempre foi mais amor.
-->Notícia no UAI
terça-feira, 20 de maio de 2008
A Deusa e a Dança
E com as ondulações inseguras de meus braços, o infinito representado pelos meus quadris, eu a vi. E sua face era bela, embora ainda oculta pelo véu da minha rigidez, de antigos costumes que eram mais bárbaros que glorificar meu ventre como fonte de vida. Mais bárbaros que o sacrifício do Deus que banha a terra com sua fertilidade.
Ela me olhava e se movia me incentivando a acompanhá-la, a romper o véu, a transgredir as falsas regras, a cultuar a forma feminina que habita meus próprios contornos.
E Ela estava lá; estava lá quando pouco a pouco o véu se esvaiu. Estava lá quando notei que minha nudez não era vergonhosa, e estava lá quando me banhei da luz da aurora e recebi o Deus.
Dançavamos juntas e meu véu agora ondulava ao vento, e era levado pela suavidade da brisa que exalava de Sua respiração.
E ela ria, e seu riso me parecia o som das águas na cachoeira.
E de sua dança, a vida surgia. E de sua dança, a minha alma se cobria de cores, cheiros e sabores. E descobri o mundo.
E ela continuava a meu lado, quando meu coração desabrochou como a rosa ao contato do orvalho, e vi, que nas pequenas formas, que no meu próprio sorriso é que se esconde a alegria da risada.
Ela simplesmente me acompanhava. Ou eu a seguia, não sei.
Ao mesmo tempo que era Ela, era eu. E ela estava em mim. E girava comigo, e sentia, e se apaixonava, e era ela, e era eu.
E desde então ela se fez presente. Mesmo nas noites mais escuras, sua face estampada no céu me acompanha e me dá a certeza que a Dança continua.
E quando ela não surge no Céu, posso encontrá-la em meu ventre. No calor intenso que se move e faz tudo acontecer.
Posso encontrá-la em mim mesma, porque um dia, em uma dança, eu era Ela, e Ela era eu.
Flávia. (29/08/07)
Mais um pouco de Paz
Foi rodopiando até o banheiro, e de águas frescas e um pouco geladas tomou um banho. Alecrim pra aqui, alfazema pra colá. Ela adora isso de ervas. Adora se perfumar.
Penteou os cabelos cuidadosamente, partiu-os, colocou seu vestido mais bonito.
O sol Brilhava, e ela pensava na Advogada. Na razão, na lucidez e principalmente na paz. Que sentimento é esse que se diz branco, que é a razão natural, e mesmo assim nunca se acha? Não há dessa tal de paz no Oriente Médio, nos EUA, na Europa, e nem aqui... no Brasil. Talvez a paz seja algo que se guarda na caixinha, se tranca e espera a hora certa para usar. Talvez, a paz seja como qualquer coisa que se perde. Temos que parar de procurá-la para achá-la. Afinal, há guerras para achar a paz, há conflitos para achar a paz. E parece que ela brinca de se esconder, cada vez que um homem pega um fuzíl e diz querer encontrá-la.
[A paz reside na solidariedade. Não nas armas de fogo]
A lucidez tomou conta
A lucidez caminhou ao lado da desilusão. Tomou um porre de uma bebida chamada orgulho. Fazendo-se de brejeira, se engraçou para o amor, que via com os olhos de outrêm e não entendeu bem a aparente frieza daquela moça racional demais que bebia ao lado da desilusão com ares de quem sabe o que faz.
Não desanimou. Pegou a mochila e foi passo a passo se esquivando daquela bar estranho, onde se bebia orgulho na esperança de maltratar o amor, e convênce-lo que a desilusão era boa companhia.
Partiu sozinha. Convenceu-se que a melhor companhia era o silêncio, e a melhor bebida era mesmo a cristalina paz.
Caminhou no deserto, nos gramados morros onde brincavam os vários filhos da sra Felicidade. Muito gentil alías, ofereceu-lhe repouso por uma noite.
Só quando, viu uma colorida forma rolando morro abaixo e soltando sonoras gargalhadas é que percebeu que só seu oposto lhe completaria. Andou por todos os lados e sua companheira ideal estava bem ali.
[Nem toda Loucura é genial, Assim como nem toda Lucidez é Velha!]
Amor
É impreterível que se tenha um amor que te deixe completa, e respeite sua individualidade.Nesse amor, é irrevogável que haja paixão, e um tanto de loucura. A sensatez inata da lucidez, e um toque excepcionalmente grande de lealdade.
Um amor de verdade se encontra naquele ser, onde se pode falar de astronomia, política e discordar em tudo. No final o que interessa não é ter um clone seu que te siga sempre não é? È necessário ciúmes, afagos, beijinhos, banhos de chocolate, leite moça, sanduiches cheios de bacon de madrugada depois de gastar todas as energias numa entrega doce de uma virgindade de alma. Uma virgindade que nada tem a ver com hímens, mas que diz respeito a descoberta de novos cheiros, novas cores.
Quando se descobre alguém que toma 20 banhos por dia só pra brincar de cuspir água em você e depois te amar ali mesmo, em pé com a água rolando sobre seus corpos nús, alguém que pegue água pra você, só para fazer charme e te chamar de preguiçosa, uma pessoa que possa tomar vinho ao seu lado e te dizer que você é a mulher mais linda do mundo.
Ter um amor, que te chame de princesa, fada, que seja seu amante, amigo, seu companheiro... Mesmo sabendo que você é cheia de defeitos e eles se agravam na temível TPM.
Alguém que fique acordado, como na música do aerosmith, enquanto você dorme, e observe seu sono.
Uma pessoa que você sinta vontade de dizer sempre que a ama, e não viveria sem ela, mesmo que isso soe como o maior clichê do mundo. Alguém que eu sei, que leria esse textinho batido e choraria, pois de alguma forma ia saber que eu estava escrevendo desde o início sobre ele...
[ O amor é a loucura e a Lucidez se unindo em um apaixonado beijo.]
sexta-feira, 16 de maio de 2008
Crescer dói
Crescer dói. Porque ninguém cresce com experiências alheias, porque ninguém conhece a dor através do ferimento do outro.
E por isso crescer dói. Amadurecer inverga nossas costas, pois temos que carregar nosso peso, o peso de nossos erros e orgulho.
Conheço pessoas que tem 60 anos e não cresceram. Conheço outras de 17 anos, que já são capazes de pedir desculpas quando erram, de assumir seus próprios erros.
Crescer dói muito. Dói na moral, dói no coração partido por ilusões quebradas. Dói.
Quem dera crescer fosse uma fase de maturação que durasse de um tempo x a um instante y. Mas não. É uma equação que no final não era igualada a zero. É somar, dividir, multiplicar, subtrair ( claro!) e chegar ao resultado óbvio de que valeu.
Valeu a dor no joelho ralado, valeu ter ficado até tarde para concluir aquele trabalho a tempo. valeu ter corrido atrás do sonho, ter escorregado naquela casa de banana, valeu ter vivido, valeu ter pagado o preço das escolhas, valeu ter escolhido este caminho. Afinal de contas, o melhor jeito que sua vida poderia estar é a forma que ela é. Valeu aprender a duras penas que equilíbrio é a receita de qualquer bolo. Valeu a pena.
Crescer dói. E por isso chamam esse "crescer" de amadurecimento.
[Crescer é colocar uma porção grande de loucura e ir adicionando lucidez até dar ponto]
Nunca diga Nunca
Paz
Um bem material? Uma má educação? Uma política capitalista e heterótrofa, onde é cada um por si, e a maioria nem acredita no 'Deus por todos'?
Eu fico tonta com os noticiários. Só nesse Final de semana 11 assassinatos em BH. Mas nada, nada mesmo justifica tirar a vida de alguém. Fala-se muito em aviões que se chocaram, matando mais de cem. Mas o pesadelo verdadeiro acontece aqui na terra, onde jovens de 19 anos são mortos em troca de um Gol 99 vazando óleo.
Referendo veio, votação passou... E o que mudou de fato? O que conseguimos fazer com a chama fugaz e mínima de uma vela a mercê do vento?
Fazemos pouco, fazemos quase nada pela Paz. Aquela paz que se alcança com a boa distribuição de renda. Aquela paz que se tem a mãos quando se ensina a uma criança os valores como amor ao próximo e dignidade.
Acho que nasci na época errada. Ou talvez seja apenas mais fácil pensar que antes era melhor. Que antes não tínhamos AR 15 e mira noturna. Talvez fosse mais simples a vida quando a droga era ópio, não LSD, não cocaína. Quando se cheirava rapé, quando os desastres eram causados pelas caravelas afundadas, e quando acreditávamos que monstros sobrenaturais habitavam a escuridão. Mas não, não consigo entender.
A vida é o bem mais precioso. É o presente máximo de uma mãe. Por que? Acredito que essa seja mais uma das respostas que os livros nunca poderão me dar. Essa é uma questão pela qual os psicólogos podem até criar inúmeras teorias, mas chegar a uma solução...
Só mantenho minha esperança imaculada de que um dia possamos voltar a olhar pelas nossas janelas sem temer uma bala perdida. Peço aos céus, e a Deus, embora eu não seja religiosa, que um dia eu possa sorrir para as pessoas na rua e receber de volta à mesma luz, sem interesse, sem aparente discriminação por minha cor, raça ou escolhas dogmáticas. Apenas por sorrir.
Esse final de semana Thiago, 19 anos deixou-nos sem a luz do seu sorriso. Partiu por uma escolha alheia. Partiu em um disparo de arma de fogo que culminou em sua morte instantânea. Uma morte sem porque.
E fica no ar mais uma pergunta para a qual não me ensinaram a resposta.
Crescer e outras coisinhas
Vou ser mais um pagador compulsivo de contas. Vou ser outro daqueles seres bípedes que correm de um lado para o outro deixando pra trás todas as esperanças e angústias da época que ainda rastejavam nas quatro patas.
Quando eu crescer, vou ser médica eu dizia sempre à minha avó. Não que a medicina me atraísse, mas eu sabia que era isso que ela esperava ouvir. Essa era a receita infalível pra receber muitos doces. Era esse o caminho seguro que ela esperava que eu trilhasse.
Acontece que aos nove anos, quando numa páscoa cortei a língua em um acidente pueril que envolvia uma caloi rosa de cestinha e um monte de areia no chão, eu percebi que aquele tanto de sangue, pontos e xilocaína não eram o mar de rosas que resultava apenas em bala e 'chipes'.
Os 11 anos, quando Gisele Bundchen desfilava por todos os lados, e minha voz não era lá grandes coisas no coral da escola, percebi que meu dom artístico estava para o lado da moda. Modelo, flash, Manequim, passarela. Que garota não se sentiu atraída?
Entrei no Segundo grau e o sonho de ser modelo foi se despedaçando em meio a minha inegável queda para a linguagem. Pensei em fazer Direito, Física, Matemática. Na inscrição fiz Letras.
É incrível como a pressão da família te aniquila. Todos fazem ares de 'bem, você que sabe'. Mas ninguém te dá doces quando você quebra a cara com a escolha. De letras não fiz nada. E até hoje não sei bem o que fazer.
O mundo me joga ao léu com minhas idéias desconexas e não sei bem o que fazer com esse mundaréu de coisas que tenho ai para aprender.
Bom seria ter um dia de muitas e infinitas horas. Imagina? Mas essa vai ser mais uma das minhas frustrações.
[ A bailarina não quer parar a dança. Porque parar?]
Onde termina a lucidez e começa a loucura?
É como se a lucidez fosse o superego e a loucura nosso Id.Freud estava certo. Somos loucura e lucidez, refletidas na nossa mesquinha personalidade que senhor sigmund chamou de Ego.
A lucidez é dura, e faz doer. A lucidez nos trás a certeza da morte e a escuridão das noites mal dormidas. É como se a lucidez fosse o sal, e a loucura o doce. A demasia de ambos nos faz mal.
A Lucidez te faz enxergar a vida sob vários ângulos, do ponto de vista do observador, do observado e da 3ª pessoa.
Mas quando começa a loucura? A loucura não começa. Ela acontece. Ela estréia em nosso palco. A Loucura é uma eterna dançarina de cancan. Essa sim, é majestosa.
A loucura é definida por ai como uma condição da mente humana caracterizada por pensamentos considerados "anormais" pela sociedade.
É verdade. Por exemplo: pensar em ser feliz hoje em dia é loucura. Sonhar com menos propaganda e mais ação é loucura. Amor eterno e feliz então... Loucura. Somos um bando de loucos se fingindo de lúcidos.
[Não importa o palhaço que te fez rir, o importante é a gargalhada.]
Tempo
Sobre Felicidade
Amor
Sobre Loucura e Lucidez
[ Sobre presente, passado e futuro]
Algo a ser sempre lembrado
Há coisas que devemos sempre nos lembrar.
Lembrar de como se anda de bicicleta, como virar cambalhota, dar salto mortal, virar estrelinha, comer lasanha.
Lembrar do gosto do chocolate, de como é bom se sujar de manga, fruta do conde, terra, infância e alegria. É importante se lembrar da canção de ninar, da cor dos raios de sol na piscina do clube, do riso sem compromisso e espontâneo. É quase tão imprecindível quanto oxigênio, que se saiba dançar ao ritmo do vento, que se saiba rir do não saber, do perder, do impossível. Rir é um santo remédio. Remédio de alma, que lava o coração. Chorar também é bom. Quando era pequena, esfolava o joelho e ia andando pra minha mãe. Passos incertos. Bastava um beijo, um assopro e um pouquinho de merthiolate ( que na minha época ainda ardia). Hoje corro pra um ombro amigo. Esse ombro as vezes é o da mamãe. Mas minha dores não se curam mais com beijos e assopros, e creio sinceramente que não se faz merthiolate como antigamente. Deixa isso de choro pra outro dia. Hoje é dia de descer em um eterno toboágua. Sentir um frio na barriga. Beber coca cola, daquela bastante calórica. Hoje é dia de Bailarina. [Buscar o equilíbrio é difícil, mas viver sem ele é impossível]