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segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Mais uma vez o tempo.

Eu já não tenho tempo.
Sinto que envelheci, me entorpeci, endureci algo que devia ser mole por aqui.
E o tempo se foi.
Estou sem tempo para rir ou chorar. Estou sem meus minutos sórdidos de me ver do avesso, sem beira ou princípio. Morena, do samba e nem sei mais sambar.
Estou perdendo algo que não sei o que, um ziriguidum sem compromisso. Seja por idade, seja por viço, mas meu sorriso já não sorri igual.
Já não tenho tempo pra perder horas, dias, semanas. É tudo planejado, sincronizado. É tudo por porquê.
E eu sinto falta de quando nada tinha motivo. Nem escrever, nem ler, nem ouvir, nem ver. Tudo por vontade, simples, sem trato, sem sexo ou seja lá o que foi que chegou e mudou tudo aqui.
Quero me encontrar de novo e por isso escrevo.


segunda-feira, 15 de julho de 2013

Incerto

Eu quero me amarrar a você, mas agora não sei se devo
É que apareceu aquele, que me sorriu tão leve doutra vez
E assim eu já não sei, se maio ou setembro,
Se vestido branco ou a cor da tez

Eu quero sim, acordar do teu lado,
Todo dia ter você aqui,
De fala rouca, ao pé do ouvido
Mas me diz homem, será que já vivi o que era pra ser vivido?

Você me fala de talvez, é concreto, é inquieto
Sobre essa coisa de ventre, incerto
Tanto direto, como quieto,
E esse é o sonho que eu sei sonhar

Eu quero sim, ouvir a música que a gente escolheu
Deitar nos lençóis que sua vó nos deu,
Mas quero meu direito a acreditar
Que o que cada um escolhe, tem chance de realizar

Então o outro chegou tão risonho
Não viveu nada do que eu também não vi
E agora diz, moreno, dá pra arriscar
A chance de felicidade?
É que na minha idade
Tudo ainda é urgência
Demência

Me dá uma luz por ai
me faz de novo
Eu só quero ser amada.

domingo, 14 de julho de 2013

Estou opaca demais

Eu não li o horoscopo. Se for para fazer diferente, começar um ano novo, que tudo se inicie comigo tomando as rédeas das coisas por aqui. Não vou mais deixar que a inclinação da lua em relação a saturno ou mercúrio me digam se devo ter sucesso no amor ou nos negócios. Quero ser feliz nos dois, e não me dou direito a menos do que isso.

Ando cavoucando coisas nos meus velhos escritos, tô terminando o que mal comecei e sinto que tem muita história pra ser escrita por aqui. Dentro de mim. Do meu lado direito e do meu avesso. Eu toco minhas mãos procurando o que se encontra entre elas, um coração que erra, uma mente que sonha e uma mulher completa em si.

Onde guardei aquele desejo de sempre mais? Me disseram que não era certo ser eternamente descontente e eu me contentei em ser inteiramente complacente com o que viesse.

Pego minha mais afiada faca e vou cortando. Vou abrindo caminho ao centro de mim. E pra isso volto. Volto atrás, no meio, na frente. Me deparo comigo mesma refletida em mil espelhos com a idade que não tenho. As vezes muito nova, outras velha demais.


Estou em algum ponto entre gêmeos e leão, entre meu ascendente virgem e minha realidade opaca.

Meu outono

As histórias de amor são como ponto e vírgula em textos densos; fazem a estória fazer sentido e mudam a rota dos acontecimentos.

Não são eternas como pontos finais, nem dúbias como interrogações. São a incerteza da continuidade, são o medo do não, do sim. Medo de mim e de você.
Meu outono chegou mais cedo este ano.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Gandarela

Abri uma gaveta velha,
Dessas emperradas pelo mofo
Amarelada, suja e fosca lá estava ela
A foto na serra do gandarela
Você olhava o horizonte com olhos de porvir
Eu nem entendia bem o que eu fazia ali
Minha face perdida gritava o que eu não quis ver
A vida de comercial de margarina, só era bonita na tevê
Com teus olhos pretos de um escuro sem fim,
Você olhava a lente
Que um estranho apontava para nós
A minha escuridão saia no sorriso amarelo de clichê
Que sorri mais para o estranho que pra você
E embora nossos rostos se alinhassem num encontro amplo
Eu estava em Marte e não ali
Na serra do Gandarela

E num retrato 15 x 21

dois eram menos que um
Eu era menos você

E era muito menos eu.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Tá sempre por aqui, mas não é daqui.


Ela me ligava quando ele a magoava. Eu era um tipo de vingança e subterfúgio, uma vingança de suor, línguas molhadas e olhares tenros, mas sim, vingança e fuga.
No fim ela saia se odiando por ter entrado no ciclo de novo e eu torcendo todos os dedos para que eles brigassem outra vez, que brigassem pra sempre. Quero ela só pra mim.

Ela sempre bate na minha porta as 11, quando bate um friozinho da serra e quando não passa nada de bom na Tv. Chega rindo torto como quem pede desculpa de tocar minha campainha e por todo meu mundo em corrida: me sinto o Bolt quando ela toca meu interfone.

Do sorriso de desculpa ela fala meu nome me chamando de Senhor. Faz a sua cena e eu rio dela e a puxo pelo braço. Beijo sua boca antes que ela tenha desculpa pra falar.Ela diz que não deve, cora as bochechas e eu falo que deve, deve morena, me deve esse e mais uma tonelada de beijos molhados e apreensivos.

Abro um vinho e ela relaxa. Me fala do trabalho, dos sonhos, me fala dela, da amiga. Me fala do sujeito e eu simulo bem que não estou com raiva e troco de assunto assim que posso. Eu tento fingir que ela não é dele e naquelas horas ela acaba sendo minha.

A gente discute por vinte mil assuntos diferentes, não concordamos em nada. Sabemos bem que nosso samba já sambô. Mas eu gosto assim! É que o impossível tem gosto de raridade quando acontece por instantes no descuido das horas.

Ultimamente ele anda magoando-a muito. Ela tá sempre por aqui.

Espero e calo


Ele me acha profunda, mas sou rasa
Crosta fina e sem pudor
Falo, amo, mordo e beijo
Não filosofo pelo que não vejo
Sou pura, crua e puro ardor

Não tenho nada que não se veja
Com um relance de olhar qualquer
Por tê-lo, vê-lo e crê-lo
É o teu zelo meu bem me quer

Despetalada, não me desespero.
Calo e espero

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Ser adulto não é nada do que eu esperava


A vida vai passando, arrastando multidões de sonhos, anos de ideias não terminadas, fragmentos de memórias aos caminhões. E eu vou, caminhando cambaleante neste carrossel de cores que já foram, desbotadas nas minhas gavetas mofadas e emperradas. Já não sei o que sou em meio a tanta coisa que fui ou queria ser.

Fui deixando os sonhos nas sarjetas das ruas que passei, abarrotada pelos conselhos estúpidos do meu medo e insegurança e cega demais para ver o quanto me distanciava do que queria para mim. Tomei um porre e fiquei de ressaca por vinte anos e agora sou velha demais para ser imbecil e sonhadora.

Me cobram tempo, me pedem tempo, pedem que eu conte meus segundos numa luta inútil para alcançar o que? Se o que me faz feliz é não ter hora pra nada, porque faço tanto para não perder tempo? O tempo é meu para me desfazer?

Me refaço. Começo do zero mil vezes e por outras mil me quebro outra vez. Pergunto me faceira por quanto tempo dura a cola que emenda meus pedacinhos multicoloridos. Me debruço no parapeito e vejo o mundo girar.

E na janela, vejo amargurada a vida passar – mas não a minha. Me pego vil e coibida querendo sonhos que não sonhei e seguindo com os olhos o caminho de outros. Sou pior do que pensava se cruzo os braços e espero o milagre.

Vou voltar a ler romances piegas e contos de fadas. Ser adulto não é nada do que eu esperava.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Sobre o meu velho


A primeira lembrança que tenho de você, aconteceu na casa da minha mãe. Fazia sol e eu lembro que estávamos na sala. Eu te achava tão alto na época. Uma espécie de gigante com superpoderes. Você me pegou no colo, me ergueu pela cintura e brincou de aviãozinho comigo. Lembro de pensar que meu pai era o homem mais forte do mundo.
Depois lembro de quando fui te visitar cerca de 9 anos depois. Lembro do calor de Acesita, lembro do jardim da casa da vó. Lembro de olhar toda hora pela janela da sala esperando que você chegasse do trabalho. Do carinho do seu abraço de urso, estilo estrangulador. Apertado até não mais poder.
Nas férias eu era cruzeirense para te agradar. Xingava o galo e tudo. Eu só queria ser a filha que você queria. Queria que tivesse orgulho de mim por alguma coisa.
A gente passou por muitas coisas pai. Muita dor e mágoa, mas nada pode apagar o amor que sinto por você. Você continua sendo o homem mais forte do mundo, o melhor pescador, o melhor caldo de inhame que já tomei. É meu pai que me levava para acampar na beira do rio, depois passava horas tirando meus carrapatos.
Quero que você fique bom logo, para dizer “Oi Menina” quando eu te ligar e eu me sentir aquela garotinha que você fazia aviãozinho.

Casamento é instituição falida quando não se há dois ali.


Eu tenho um amigo que não acredita em casamento. É um tipo novo que anda surgindo por ai, os ateus do casamento.
Para ele, o casamento é uma instituição falida. Falida mesmo, outro dia ele destrinchou uma prosopopeia para me falar do quanto era absurdo gastar dinheiro em casamento, festa, bouquet e todas essas coisas. Eu ri um bocado, pois sou cética com o que não posso medir com exatidão e o casamento é uma dessas coisas.
É certo que quase ninguém se casa pensando que irá se separar em 5 anos ou 15. Meus tios tinham 25 anos de casados e tenho certeza que os planos iniciais eram muito mais ousados. As pessoas se casam pensando que encontraram seu pé de chinelo, a metade da laranja, alma gêmea, ing e ang. Porque casamento é muito mais sonho. E porque nos venderam uma imagem maravilhosa e requintada de que amor e casamento são como nos contos de fadas. O que esqueceram de nos contar é que depois do “e viveram felizes para sempre”, passou muita água debaixo da ponte.
Ai você tromba hoje com a Cinderela indo pra uma audiência de divórcio e fica pensando que perdeu alguma coisa. A Branca de Neve joga as coisas do Príncipe encantado pela janela da cobertura e você não entende o que aconteceu por ali. EI! Ia tudo tão bem... Era todo mundo feliz até decidir ser feliz pra sempre?!
O que acontece é que as pessoas colocam as esperanças e expectativas erradas nos relacionamentos. Nós mulheres ainda temos a ideia piegas que aliança no dedo nos dá segurança, mesmo depois de lutarmos tanto pela nossa igualdade, nós precisamos de um elo com alguém para nos sentirmos mais... mulheres. Isso é muito confuso, precisaremos de Freud para nos explicar qualquer hora dessas.
Um esposo não é um pai, é um parceiro. Parceiro quer dizer que, vocês vão sim dividir as contas, e se um ganhar menos, vai rolar aquela forcinha extra do outro, sempre buscando algo em comum. Quer dizer que, se ele for pro futebol na quarta, você não pode chantagear que irá sair com as amigas só pra que, com medo de retaliação o pobre coitado vire um ser sedentário. Ele não tem que te prover de tudo que espera, vocês tem que juntos, conquistar o que querem.
Minha sábia vó, diz que, o namoro serve para você conhecer o rapaz com quem vai se casar (tá certo que ela me disse isso pra inibir meu senso namorador, mas não vamos entrar nisso agora, ok?), saber dos defeitos, manias, sonhos. Entender como se darão vivendo juntos. Isso porque, se vocês não se dão bem tendo a oportunidade de ir dormir em casas separadas toda noite, imagina quando o céu cair e vocês tiverem que dormir sobre o mesmo teto, bundinha com bundinha, cada um olhando uma direção do quarto. Não, nem a Bela com toda sua compreensão ia conseguir viver com o príncipe – Fera assim.
Depois voltamos com o rabo entre as pernas, culpando o outro por nossos sonhos e esperanças dilacerados. Poupe o drama e tenha um relacionamento bacana.
Pra começar, casamentos são lindos sim, mas como tudo na vida eles tem data de validade. Pode ser que durem até que um parta desse plano, ou pode ser que mês que vem já nem exista mais. O que importa é saber que durando o quanto dure, tem que valer a pena.
O cara casa. Não sabe nem o que é lavar um prato, porque a mamãe fazia isso. Cueca ele acha que por mágica sai do chão do banheiro e pula na lavadora. Comida é uma questão de saber pedir o cardápio certo. Ai casa com a mulher mais descolada da Terra. Acorda 6h00, trabalha, faz hora extra, pilates, musculação e ainda tá pegando umas aulinhas de boxe. A menos que vocês tenham a empregada dos sonhos, que trabalhe 24 horas por dia, 7 dias por semana, seu relacionamento está fadado ao fracasso absoluto. Porque esposa não é mãe, que tem saco de papai noel para aturar as falhas da sua educação (afinal, as falhas são dela também).
Temos que parar de procurar no outro a solução mágica para nossas frustrações e dilemas. O outro não nos completará. O amor é para pessoas plenas de sí e o casamento, para pessoas independentes. Assim, um e um serão realmente muito mais que dois.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Alguma coisa acabou



Não sei te dizer como a vida anda meu bem. Mas eu tô indo e ela também.

A gente dorme junto, acorda junto, mas cada vez mais estamos separados. Porque não é só de eu-te-amo-eu-também que vivem as histórias de amor. E porque há muito tempo atrás, um amor que tive me falou que tudo tem data de validade. As coisas vencem e a gente perde.

Já não vejo certo ou errado. Talvez seus erros e suas bobagens fossem menores e insignificantes, mas eu me cansei de tentar aceita-las e entende-las. Não acabou o amor. Acabou a paciência.

Vai ver que é aquilo que o cara falou, seja eterno enquanto dure. E igual a algodão doce muito grande, nosso amor tamanho família, edição extra, enjoou. Porque o que buscamos com tanto afinco, no final nos soterrou e nem chegou a ser o que precisávamos.

Eu já separei minhas coisas nos armários e você acaba de ganhar duas portas e 5 gavetas. É a troca justa do universo. Vão embora algumas rusgas e feridas mal curadas, os 4 ou 5 quilos que você vai perder e sobra espaço para os vestidos novos, dois tamanhos menores que comprará. 

Chega dessa baboseira de que poderia ter dado certo. Deu certo, até por tempo demais para manter intacta nossa sanidade. Eu só me cansei de lembrar de colocar a toalha molhada para secar e você esqueceu o que era ser você pra mim. Andou se escondendo nos meus antigos gostos e por se parecer tanto comigo, realizei meu sonho dourado e estou me separando de mim. Eu não consigo ver dois de mim no espelho do corredor – aquele meio hippie comprado na feira e que tem formato de sol. Eu não consigo olhar suas havaianas, cor lilás, do lado da minha cama toda manhã, é um incomodo grande demais em comparação a pés tão pequenos.

Pode ficar com o livro do Sartre que você gostou, leva minhas camisetas velhas do Nirvana que você usa pra dormir. Só quero de volta o meu sossego e a certeza de que amanhã eu não sei nada. Vai ser tudo obtuso sem rotina, eu sei. Mas eu nunca fui bom com planos.

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