A vida vai passando, arrastando multidões de sonhos, anos de
ideias não terminadas, fragmentos de memórias aos caminhões. E eu vou,
caminhando cambaleante neste carrossel de cores que já foram, desbotadas nas
minhas gavetas mofadas e emperradas. Já não sei o que sou em meio a tanta coisa
que fui ou queria ser.
Fui deixando os sonhos nas sarjetas das ruas que passei,
abarrotada pelos conselhos estúpidos do meu medo e insegurança e cega demais
para ver o quanto me distanciava do que queria para mim. Tomei um porre e
fiquei de ressaca por vinte anos e agora sou velha demais para ser imbecil e
sonhadora.
Me cobram tempo, me pedem tempo, pedem que eu conte meus segundos
numa luta inútil para alcançar o que? Se o que me faz feliz é não ter hora pra
nada, porque faço tanto para não perder tempo? O tempo é meu para me desfazer?
Me refaço. Começo do zero mil vezes e por outras mil me
quebro outra vez. Pergunto me faceira por quanto tempo dura a cola que emenda
meus pedacinhos multicoloridos. Me debruço no parapeito e vejo o mundo girar.
E na janela, vejo amargurada a vida passar – mas não a minha.
Me pego vil e coibida querendo sonhos que não sonhei e seguindo com os olhos o
caminho de outros. Sou pior do que pensava se cruzo os braços e espero o
milagre.
Vou voltar a ler romances piegas e contos de fadas. Ser
adulto não é nada do que eu esperava.
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