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sexta-feira, 16 de novembro de 2012

O que eu quero falar para a minha sobrinha



Eu não sou daquelas tias chatas que ouvem tudo e depois fofocam com sua mãe. Nunca vou invadir seu espaço, por exemplo, ou sabe Deus que atrocidade fazem por ai com a privacidade dos outros usando como desculpa um parentesco tão complicado. Prefiro que me conte o eu quiser – pode ser até sobre a pronúncia dos nomes dos personagens de Harry Potter, como a gente já falou daquela vez.

Não vou rir das suas paixões, nem te dizer que elas passam (embora passem mesmo), tem pouco tempo que senti tudo isso e sei como é boa a sensação – sonhos não foram feitos para serem quebrados. Prefiro ficar do teu lado e segurar sua mão quando todo amor parecer o último, quando as coisas que derem errado forem justamente aquelas que você mais queria que dessem certo.

Quero ouvir sobre suas primeiras vezes, beijo, sexo, lugares, pessoas, gostos, cheiros. Quero poder conhecer um pouco mais do mundo através de você. Perceber tudo como você percebe. No fundo eu só queria ter estado do teu lado em todas as vezes que você adoeceu, chorou ou ficou horas em pé, em filas ou na porta de um hotel para ver seus ídolos.  Fazer parte da sua história é importante para mim.

 Quando a saudade de você fica irremediável, vem a minha cena favorita na cabeça. Você prendendo o cabelo com hashi depois de almoçarmos comida japonesa. Por ali já dava pra ver que você seria essa pessoa linda e cheia de personalidade que vejo que se tornou. Dá orgulho ser sua tia, por causa dos hashis. Porque na vida, a gente tem que quebrar milhões de paradigmas, temos que pular mais muros e janelas do que passar por portas.

Eu queria muito poder te dar algumas garantias que eu queria ter na sua idade: De não precisar de chorar, de comer e não engordar, a garantia de ser plena e não ter que impor nada a ninguém. Mas não posso. Você ainda vai chorar muito: porque engordou, ou por estar magra demais. Vai chorar de alegria e as vezes de tristeza mesmo. Vai chorar sem razão e as vezes por todas as razões do mundo. Meu amor por você não vai impedir as lagrimas de saírem, mas, no meu jeito atrapalhado, te estendo a manga da blusa para secar, ok?

Você vai comer mais Bloomin Onion do que deve e vai ver que a genética nos sacaneia de maneiras cruéis! Por muitas vezes você terá que se impor para não se perder e ser menos do que é. 

Sei quase nada sobre a vida. Na verdade, a gente nunca sabe. Seja criança, adulto ou idoso. A vida nos surpreende o tempo todo, e , no maior de todos os clichês, quando aprendemos algumas respostas, ela vai e muda as perguntas. Então, só aprenda que vale mais ser você todos os dias e para isso vestir sua armadura e brigar pelo que quer, do que viver na paz, mas se anulando.

A vida passa mais rápido que pensamos e nunca se parece com aquele comercial de manteiga, onde todo mundo é feliz e magro comendo gordura saturada. Mas eu vou pedir a Deus todos os dias para ela ser generosa com você e para que você seja com ela.
Escolha os caminhos certos, mesmo que eles pareçam mais difíceis.

Eu sei que você fará as melhores escolhas, mesmo que sejam as mais doloridas.
E se doer demais, chama que a tia entende qualquer coisa sobre crescer e pode te dar algum toque.

Eu vou estar sempre aqui, na primeira ou na última fileira, mas pode ter certeza que quando a cortina abrir, vou aplaudir de pé.

Love u Babs. 
 



Sorrisos dão mais rugas que choro



Não se engane não, Que a vida anda
O mundo gira e hoje não é igual a amanhã
E o que agora faz todo sentido,
mais tarde perde o colorido
E a vida ganha outra razão
O que é desejado, o que é mais amado,
O que tem mais porquê, mais melodia e canção
passam as horas e não há mais dor
E em alguns minutos a mais,
da ferida aberta, há a cicatrização.
E se dói o passar dos anos,
Se é triste não saber no espelho, se é velho ou jovem
É que  a vida busca os que provem
Que não há idade certa para nenhuma ação
E a idade que temos por dentro
Nem sempre é a mesma que os outros nos dão
As rugas não são marcas que o tempo deu
São marcas do que você fez
Com o tempo que era seu
E ficam assim marcadas
Na face errada do que aconteceu
porque às vezes, sorrisos dão mais rugas que choro.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

O amor não é um porto seguro, é o mar bravio



O amor não é um porto seguro, é o mar bravio.

Não nos dá qualquer segurança, pelo contrário, nos trás algum medo que nunca antes tivemos.
Não se reconhece o amor pelo número de vezes que se riu junto, mas sim as lágrimas e dificuldades que ele nos fez forte para suportar sem que se optasse pelo não.

O Amor nos torna melhores porque para amar e ficar com alguém, é preciso entender que aquela não é a melhor pessoa do mundo. É aceitar que os defeitos do outro não vão sumir com um passe de mágica e que às vezes um terá de ser mais maduro, paciente, forte e duro que o outro. Não somos perfeitos e, portanto não podemos cobrar perfeição.

Um dia perguntei ao meu avô o segredo para permanecer casado 53 anos com minha vó. Ele me olhou com seus olhos cinzentos e disse que era entender que os bons momentos são rodeados por momentos difíceis e que se precisa aceitar que nem sempre o momento dos dois seria o mesmo. Assim, ele encontrava calma para amparar minha vó em seus maus momentos e força para compartilhar com ela um pouco dos bons que ele tivesse. A chave misteriosa guardada na gaveta daquele senhor de mais de 80 anos era equilíbrio.

Vejo por ai aos montes: As pessoas não conseguem morar sozinhas e querem se casar, como se o problema de suas existências fosse a ausência de um ser amado para adorar a presença física. Mas quem não sabe ficar sozinho não saberá amar junto, pois todo amor começa pelo amor próprio. E esse, não há nenhum livro no mundo capaz de te ensinar e a solidão é que nos ensina a ter e o mais doloroso: a manter.

Somos diferentes, mas os opostos podem até se atrair, mas vão se distrair a qualquer momento e perceber que afinidade ainda é a meia certeza de bons relacionamentos. Isso porque ninguém consegue conversar com alguém que não possua pelo menos alguns interesses em comum e a conversa é ainda a base sólida de todas as relações humanas. 

Amor é para os fortes de alma. Para os que sabem rir até doer a barriga e para os que não acham que chorar é fraqueza. Amar é para os que ainda tem fé no mundo, na vida e nos homens, pois é confiar uma parte séria de sua existência a alguém: amar expõem todos os nossos poros.

E uma vez expostos, não podemos recuar. É amar ou se entregar ao Se. Se tivesse tentado, se isso, se aquilo. E SE é, como já dizia minha mãe, pronome de atrapalhação.

Não busque seu braço direito no corpo de outra pessoa, amor é o que sentimos quando andar de mãos dadas basta, mas não é o outro que irá te completar. Amor é uma arte para pessoas completas de sí e que buscam no outro acréscimos, não enxertos.

Vejo casais que antes eram meu ideal romântico terminando depois de anos de relacionamento, em busca sempre de certeza. Todos querem a garantia de que o amor é pra sempre, que vão se aguentar mutuamente e viverão seu “felizes para sempre”.  Mas não há garantias. O amor é sempre terreno desconhecido. Ficar junto é  equilibrar pratos de porcelana em varas.

Ou então, vejo aqueles que pensam que filhos vão fazer o amor durar. Enchem a casas desses espécimes, e não percebem que, amor, existem muitos: de várias formas, cores e tamanhos.

Amar vale a pena, mas no amor não há lugar para os fracos. Para indecisos ou para os que não têm o autoconhecimento necessário. Porque este sentimento esquecido e tão fora  moda atualmente, vai revirar todos os seus sentidos, mexer em todas as suas gavetas e desalinhar seus livros de certezas nas prateleiras. Quando ele chegar, vai meter o pé na porta e derrubar preconceitos, valores desvalorizados e desgastados e vai mudar a essência do que você é, sem de fato mudar o que você é. Porque amor não é moldar o outro ao que se espera, mas é esperar que o outro se molde para caberem os dois em uma cama estreita.  Porque amor é paciência, dedicação e tolerância.

Não espere a pessoa perfeita, entenda as imperfeições da pessoa que você ama. 

Amar, é uma viagem sem volta, mas não quer dizer que será a última. Há vários amores esperando para serem vividos. Sinta no peito e siga o caminho do que melhor lhe apraz. Só não busque simetria no que foi feito para ser incompleto e imperfeito e assim, ser tão único e infinito dentro de nós.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Profusão


Pedaço a pedaço, vou me perdendo por ai, trocando por miúdos, grandes partes do que dediquei a ser. Vou cambiando minha fome afetiva por pedaços escassos de atenção egoísta e egocêntrica, numa necessidade andrógena de qualquer parte do teu eu.

Me servindo a la carte, me enchendo de engrenagens que não casam bem com o motor. me sentindo ‘A’: Apolítica, assexuada, avariada e apológica, porque meu vício é uma televisão repetindo a mesa frase em preto e branco, sem cor. E vícios são esses, são isso. São aquelas coisas sem valor que rebuscamos mais do que necessário e colocamos no aparador da porta de entrada.

Cores difusas e anacrônicas, estou vidrada neste hit que não ouvi, mas que badala por dentro na melopeia eterna do sibilo de meu sono asmático. Atrapalha todos os tons, distorce minhas notas, me faz perder o ridículo da vida no heteróclito do momento.

Eu já não sou eu. Abro mão de todos os meus dedos e meu anular continua: Adepto ao charme das cicatrizes que levo e só. Cheio de conceitos chinfrim sobre o que fazer ou não com seu vizinho do lado.

Posso caminhar até a beirada? Talvez seja alto e fundo. Mas já é alto e fundo daqui de onde estou, arrastando peças de um quebra cabeça que não tem desenho referência. Junte as peças, descubra que mais de uma delas se encaixa perfeitamente a outra. E o resto é mito e profano. De Divino só nossas dúvidas.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Onde ando?


Alguém, por favor, abra as janelas. Falta oxigênio por aqui e alguma porção de mim está perdida por ai, jogada no fundo da gaveta junto aos clips amarelados e aos recibos de cartão de crédito.

Alguma parte anda sem tempo de sair da minha bolsa a tira-colo e se perde sem de fato acontecer. Eu ando perdida de mim, ando afastada daqueles amigos que me fazem rir até ficar sem ar, estou perdendo minhas horas.

Nem me enxergo mais mulher, talvez tenha me tornado a soma de conceitos defasados e desinibidos. Quem sabe um sorriso sem brilho ou jeito. Não me reconheço no tamanho que visto, nos sapatos que escolhi, nem na ausência de Beauvoir na minha cabeceira. Quem é você e o que fez com a menina que morava aqui?

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Quase Nada


Como naquela música do Zeca baleiro, sobre você eu não sei quase nada. Há anos atrás éramos da mesma turma da escola, mas que bela carta de apresentação é lembrar se você gostava mais de história ou física quando já temos vinte e poucos anos e não encontramos o norte nessa nossa geografia absurda?

Vou medindo as coisas, todas elas. Meço reações químicas, físicas e equaciono tudo a zero dando razão ao meu velho medo de nadar e morrer na praia,  que ainda me anestesia para certas escolhas. Quase sempre, acho preferivel não ter coisa alguma, a ter algo que é maior que minhas mãos – chame de covardia se quiser. Não sei qual é a parte da sua estrada na minha vida e acabo não abrindo nenhum portão para você entrar.  Te induzo a pular as janelas, e lá está você escalando minhas vidraças.

Você chega, minha barba por fazer. Alguns sorrisos sinceros e um gosto de hortelã na boca depois e minha epiderme já te dá todas as respostas que guardei. Parece tempestade, que chega para agitar as minhas águas tranquilas. É tudo que gira moinho, tranporta o vento, mas faz o tempo passar rápido demais.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Vinte e poucos anos

Aconteceu de repente: não me sinto mais jovem. Minha cédula de identidade me diz que nem cheguei aos trinta, mas meus ombros andam muito cansados de erguer meus braços para agarrar o que chega ao alcance, ou para buscar pra perto as coisas que quero agarrar.

Já não sou tão flexível, nem nas juntas e nem nos gostos. Eu tenho vinte e poucos anos e minha paciência para tolerar lugares cheios e pessoas vazias anda se esvaindo rapidamente.
Ainda alcanço meu dedão com a palma da mão, mas perdi o paladar para aquelas luzes piscantes, o mix de cheiros e os olhares sem alma.

Fiquei seletiva. Não tomo vinho de garrafa de plástico, escolho melhor minhas companhias e minhas amizades são contadas nos dedos das mãos. As que eu contava com os dedos do pé ou com dedos emprestados foram ficando pra trás em alguma parte do caminho. Mas destas que ainda conto, nenhuma veio para não ficar.

A pilha de louças sujas na pia me incomoda e começo a entender melhor meus pais e seus motivos. Meus avós e suas razões, meus tios e seus conselhos. Acho que estou vendo melhor, embora os graus tenham aumentado e o que está perto seja, ainda, o mais fácil de distinguir. Já anseio por ver melhor à distância, eu busco certo controle no que está por vir.

Meu corpo responde bem aos toques e movimentos, mas minha mente está mais aguçada e desafiadora. A sala onde eu guardava os recortes de tudo que eu sou é hoje uma galeria plana e extensa. Há quadros, fotografias, esculturas. Cores e formas diferentes que compõem um algo sólido e incomum.

Agora percebo que as coisas importantes da vida ninguém me ensinou. Cheiro de pão francês saindo do forno, suco de laranja com gelo, andar descalço na grama. Ninguém me contou que chorado curamos feridas, que o silêncio é uma excelente resposta e que meu sorriso é minha melhor arma.

Aprendi a cozinhar, a dormir sozinha, a calar meus medos. Sinto-me mais forte, mas ainda estou indecisa. Nem sempre sei se estou no caminho certo, quase nunca fico parada por isso.

Já não preciso fazer tantas contas para fazer caber no meu salário o mês inteiro, mas ainda estou muito longe do que esperava. Descobri finalmente o que minha mãe me dizia sobre o prazer do trabalho.

Lembro com saudade da época que não tinha tantas responsabilidades e que me cobrava bem menos, mas não quero voltar pra lá. É que aprendi a amar esse alguém que me tornei e não quero correr o risco de me perder no caminho de volta. Eu não penso em voltar atrás, não tenho grandes arrependimentos, embora haja coisas as quais não me esforço para lembrar e algumas pessoas que fiz conta de esquecer.

Eu tenho vinte e poucos anos, vinte e tantos sonhos.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Mil em uma


O que peço, grito e gesticulo a toda hora em meio aos sorrisos e minhas tiradas bem sacadas é: que nada seja morno. Eu quero beber minha vida aos baldes e que de mediano só exista a incerteza das certezas que tenho, pois todo lado tem seu avesso. O meu, de tanto tentar ser direito, é um avesso só.

Quero que as alegrias sejam plenas, e que eu não as penalize pelo que não fiz, mas valorize-as pelo que elas representam.
Que meus sonhos não sejam recharçados por mim ou pela vida ainda no berço,  e que minha gana de persistir acorde todos os dias, abra os olhos e simplesmente continue, contrária a tudo que se espera dela e muito além de tudo que se espera de mim.

E de mim eu quero muito! Quero todas as minhas fatias, formando um todo. Onde minha bagunça seja coesa, onde toda eu seja uma só – mil mulheres em uma. Eu preciso ser coesa por dentro, eu quero me entender melhor do que penso entender.
Preciso ter coragem, vontade e atitude, eu sei andar – o dificil sempre é encontrar o caminho.

sábado, 24 de março de 2012

Samba morena

Eu a via ali, toda ela mesma
Sem rabisco, sem emenda
Brincando de me imendar

Não senti gosto nem cheiro
Que fosse maior que essa prenda
Que essa morena que me faz calar

E eu que pensei que era cheio de cena
Me perdi no esquema
Da morena que me faz sambar

Eu que sou da baixada, da batucada
Eu que não sou de me encantar
Me amarrei na boca vermelha, no sorriso pequeno
e nos olhos de não mais chorar

Me amarrei na morena,
Serena,
Pequena,
Que faz o meu samba, sambar.

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