Sim, vi quando ele chegou aqui. A mãe vinha arrastando-o pela manga da camisa, segurando o filho menor no colo, na pressa louca que só os que sentem fome de vida podem ter. No rosto o sorriso de quem, aos poucos anos já se resignou diante do presente. O olhar daqueles que sabem que esse não é o mar de rosas que a TV, Ana Maria Braga e a Luciana Gimenez falam que é.
Da janela da frente da minha casa, eu não cansava de vigiá-lo enquanto corria para lá e pra cá construindo com madeiras velhas e lona rasgada o que para ele era um castelo fabuloso e inalcançável. A imaginação é pincel, e qualquer coisa serve de tinta.
Brincava sozinho: parecia que vivia em uma dimensão onde a inocência vestia sua jardineira jeans e com uma rosa no cabelo fazia-lhe companhia na hora do pique esconde. Escondia dele todas as coisas vis dos homens, tão comuns de serem vistas num lugar como aquele. E trazia o sorriso mais doce e gentil a estampar-lhe o rosto.
Ele sorria quase sempre, e não se esmorecia por qualquer bobagem como as crianças fazem constantemente hoje em dia: Falta-lhes infância e sobra mimo. Problema sério era fome, irmão caçula. A mãe sem emprego e o fato de que a Rapunzel, que certamente vivia no alto da torre mais alta, ali mesmo, onde ele residia, devia ter um cabelo enorme.
Onde ele dormia haviam mais dez famílias. Todas invadiram o prédio na mesma época, mas só ele tinha o brilho nos olhos que faz a gente não se esquecer da fisionomia. Só ele morava ali, mas vivia em um universo paralelo.
Não tinha roupas, andava maltrapilho: e sendo assim, vestia-se de abraços dos transeuntes. Às vezes lhe faltava o que comer, e alimentava-se do afago do vento. Era sua maneira de não se vitimar diante do sofrimento, era seu salvaguarda quando o frio se portava inclemente e as pessoas pareciam más e cruéis.
E ali, naquela Maloca vertical , ele construía seus barcos e velejava pra longe. Ali ele podia ser homem aranha, Power ranger ou aquele herói verde que ele viu numa revistinha que achou no lixo. Para ele, o prédio invadido, inacabado, era um lar. Porque lar é onde o bumbum descansa e onde o coração pode chorar ou rir sem ter que dar um por quê.
No dia que o incêndio se deu, ele estava lá. A mãe tinha levado o irmão mais novo ao trabalho. E meu menino estava feliz por não precisar cuidar do irmãozinho. Podia fazer pipa, correr na rua sem segurar a mão do pequeno, sem se preocupar se ele ralaria o joelho e a mãe ficaria brava. Tava contente que só, no começo. Depois veio aquela tristeza que a liberdade às vezes trás, e ele ficou acabrunhado em casa. Imaginando coisas e ouvindo sons, pois quando estamos acostumados com gente, gente que amamos sempre por perto, a solidão dos queridos nos enche de medo.
E que susto tomou, quando o monstro apareceu à sua frente? Cinzento, esfumaçado e soltando aquele cheiro ruim e o calor insuportável. Vinha passando pelo buraco do teto. Devia ocupar todo o andar de cima, pois era um monstro grande e poderoso! Quando me contou sobre o monstro, seus olhos estavam vitrificados, e suas mãozinhas suavam geladas.
Ficou tremendo de medo, que nem bambu verde, e ninguém viu. De tarde, as pessoas dormiam e ninguém se apercebeu da fumaça que saia do andar de cima: que já ia a muito consumido pelo fogo.
Mas ele viu, e de tanto se imaginar herói, de tanto se pensar corajoso, de tanto ser forte pra encarar a vida, decidiu num impulso hercúleo que protegeria todos do temível monstro. De armas: seus pulmões e a voz estridente de criança. E eu não fico pensando que é tão mais fácil se entregar as dificuldades do que lutar para vencê-las? A gente aprende muito com criança.
Gritou. O mais alto que podia. Sacolejou quem encontrou pelo caminho, tirando as pessoas de seu estupor. Sempre precisa ter alguém pra nos mostrar o monstro, não é mesmo?
Só sei que naquele dia ele foi o herói que pensava ser.
Já da rua, ele olhava o prédio em chamas e se perguntava quando o monstro terminaria sua refeição e transformaria aquilo tudo em poeira. Onde ia dormir o irmãozinho? E as coisas da mãe? As roupas de ir trabalhar, as revistinhas que pegara do lixo. Será que o bicho comeria tudo?
E ele pensava, com seus olhos de criança marejados de água, que tudo ficaria bem. Porque a fantasia é um ótimo calmante.
E sem saber, ele era o meu herói. Aquele que me ensinou, na curva do seu sorriso, a enfrentar de peito aberto os percalços do caminho.
Inspirado na notícia - Famílias que ocupavam Prédio em BH são retiradas. - Originalmente escrito para a oficina de textos da Maíra Viana
segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
A menina Sabichona
Lembro muito bem quando entrei pela primeira vez na sala de aula da escola nova. Era o pré-zinho e eu achava tudo grande e assustador, embora fosse pequeno e singelo.
Nos meus ouvidos roçava uma música fúnebre que combinava bem com a chacota que eu já esperava de todas as meninas e meninos, bullying sobre meu cabelo escorrido e minha estatura acima da média.
A professora me empurrou para aquele suplicio que é ficar de frente pra turma e dizer meu nome, idade e porque eu troquei de escola. Bochechas vermelhas, mãos geladas e suando frio eu resmunguei o Flávia, falei que tinha 6 anos : quase 7 e que tinha mudado de bairro.
Olhando retrospectivamente, percebo que o sofrimento podia ter sido maior. Mas, no momento em que o silêncio ameaçava se acometer, e obrigar a professora a liberar a turma a me sabatinar você aconteceu.
Rostinho de lua, covinhas no sorriso, cara de sabichona e um senso de oportunidade que sempre me deixou de queixo caído. Arredou para o lado e me chamou pra sentar do seu lado. Desde aquele dia eu sabia que a vida seria diferente por ela estar ali.
Dividíamos o lanche: trocava meus sanduichinhos de bisnaguinha seven boys pelo mirabel dela. Brincávamos na gangorra e corríamos a valer para escapar dos meninos maiores. Ficávamos bravas por que a Eillen coloria tudo certinho sem deixar sair um risquinho e a gente coloria tudo fora do limite: A gente sempre foi de ir além do que nos limitavam.
Você, dois anos mais nova que todo mundo, e já no pré. Ouvia falar sempre, fazendo reboliço com essas bochechas inchadas: “sou superdotada” e embora eu respondesse que se você fosse inteligente mesmo, não contava isso pra ninguém, sempre soube que era verdade: Você é superdotada em muitas coisas, e uma é a capacidade de fazer a gente feliz.
Lembra quando acabaram as florzinhas desenhadas no seu caderno? Lembra quando ficávamos na grade do portão da escola vigiando nossas mães chegarem e morríamos de medo de nos deixarem lá pra sempre? Lembra que eu queria ser médica? E pensa, você nunca pensou em ser jornalista naquela época!
Lembra que, já mais velhas, você lia comigo Manoel Bandeira, Vinícius de Moraes, e nós achávamos que poesia era uma mistura de rima e pornografia? Os trabalhos na sua casa, quando subíamos no telhado para ver as pessoas na rua. Quando morríamos de medo da brincadeira do copo, quando achávamos os Diego’s lindos. Quando escrevíamos nas carteiras e quando éramos chamadas de CDF’s.
Por isso tudo, quero que você fique boa logo. Afinal o mundo é um lugar terrível sem essa menina sabe tudo e seu sorriso de apagar estrelas.
Nos meus ouvidos roçava uma música fúnebre que combinava bem com a chacota que eu já esperava de todas as meninas e meninos, bullying sobre meu cabelo escorrido e minha estatura acima da média.
A professora me empurrou para aquele suplicio que é ficar de frente pra turma e dizer meu nome, idade e porque eu troquei de escola. Bochechas vermelhas, mãos geladas e suando frio eu resmunguei o Flávia, falei que tinha 6 anos : quase 7 e que tinha mudado de bairro.
Olhando retrospectivamente, percebo que o sofrimento podia ter sido maior. Mas, no momento em que o silêncio ameaçava se acometer, e obrigar a professora a liberar a turma a me sabatinar você aconteceu.
Rostinho de lua, covinhas no sorriso, cara de sabichona e um senso de oportunidade que sempre me deixou de queixo caído. Arredou para o lado e me chamou pra sentar do seu lado. Desde aquele dia eu sabia que a vida seria diferente por ela estar ali.
Dividíamos o lanche: trocava meus sanduichinhos de bisnaguinha seven boys pelo mirabel dela. Brincávamos na gangorra e corríamos a valer para escapar dos meninos maiores. Ficávamos bravas por que a Eillen coloria tudo certinho sem deixar sair um risquinho e a gente coloria tudo fora do limite: A gente sempre foi de ir além do que nos limitavam.
Você, dois anos mais nova que todo mundo, e já no pré. Ouvia falar sempre, fazendo reboliço com essas bochechas inchadas: “sou superdotada” e embora eu respondesse que se você fosse inteligente mesmo, não contava isso pra ninguém, sempre soube que era verdade: Você é superdotada em muitas coisas, e uma é a capacidade de fazer a gente feliz.
Lembra quando acabaram as florzinhas desenhadas no seu caderno? Lembra quando ficávamos na grade do portão da escola vigiando nossas mães chegarem e morríamos de medo de nos deixarem lá pra sempre? Lembra que eu queria ser médica? E pensa, você nunca pensou em ser jornalista naquela época!
Lembra que, já mais velhas, você lia comigo Manoel Bandeira, Vinícius de Moraes, e nós achávamos que poesia era uma mistura de rima e pornografia? Os trabalhos na sua casa, quando subíamos no telhado para ver as pessoas na rua. Quando morríamos de medo da brincadeira do copo, quando achávamos os Diego’s lindos. Quando escrevíamos nas carteiras e quando éramos chamadas de CDF’s.
Por isso tudo, quero que você fique boa logo. Afinal o mundo é um lugar terrível sem essa menina sabe tudo e seu sorriso de apagar estrelas.
terça-feira, 25 de janeiro de 2011
Samba na caixa de fósforos
Por trás da minha caneca de chopp, eu a via. Vestida da certeza que pegou emprestada de promessas ouvidas e elogios baratos. Dos lábios carnudos e rosados, envolvidos por aquela pele branca, lisa e macia que tantas vezes afaguei, o nome do sujeito saia como um acorde destoante em uma canção antiga, um samba que batuquei numa caixa de fósforos a guisa de um quadril qualquer que não lembro sequer o ritmo.
Mas o que importa é que ela estava ali, emoldurada pelo vermelho do seu vestido de alças diminutas, falando comigo – seu amigo, desde que o mundo é mundo – sobre o cara lá. Aquele que compôs uma música para ela. Mas eu também docinho, só não tive chance de cantarolar no seu ouvido. Falando do sujeito que a fez, por fim, abandonar esta vida de perambule pra cima e pra baixo na busca do amor peremptório. E o que tem de peremptório no amor, morena? Deixa eu te mostrar que a vida não é tê-a-tê, não é oito ou oitenta. Vou encontrar um 40 de equilíbrio, ou um meia-nove de falta de vergonha, mas não permita que esse moço chegue assim e tire você do seu eixo, dos meus seixos, da nossa voz. Não abra espaço para ele se instalar no seu coração, o deixe no meio das pernas, nunca entre os braços.
E enquanto traçava o dedo pela borda do copo, eu tive um sobressalto. A vida passava pela janela, e eu carolinando, não via Não percebia que não queria que ela fosse embora, passando pelas cadeiras, requebrando seu corpo para longe de mim numa dança suave e hipnotizante para não esbarrar em ninguém. Esbarre em mim, me dê aquele sinal. Enfie sua mão por baixo da minha blusa quando eu te abraçar, ou vire o rosto micro decibéis em direção ao meu. Três milímetros e tocava sua boca, três metros e correria atrás, mais três doses e eu teria coragem, três segundos e eu perdi o tempo. E o outro lá, sorrateiro foi se achegando, milímetro a milímetro no pericárdio dessa menina.
E na falta de resposta para o meu insensato “por quê?”, eu fiz uma curva acelerando demais e cai na rua errada. Quem ama não quer ‘porque’. O ‘Porque’ é o estratagema dos covardes.
Inspirado pela música: ‘O mundo é um moinho’ – Cartola. - Originalmente escrito para a oficina de textos da Maíra Viana
Mas o que importa é que ela estava ali, emoldurada pelo vermelho do seu vestido de alças diminutas, falando comigo – seu amigo, desde que o mundo é mundo – sobre o cara lá. Aquele que compôs uma música para ela. Mas eu também docinho, só não tive chance de cantarolar no seu ouvido. Falando do sujeito que a fez, por fim, abandonar esta vida de perambule pra cima e pra baixo na busca do amor peremptório. E o que tem de peremptório no amor, morena? Deixa eu te mostrar que a vida não é tê-a-tê, não é oito ou oitenta. Vou encontrar um 40 de equilíbrio, ou um meia-nove de falta de vergonha, mas não permita que esse moço chegue assim e tire você do seu eixo, dos meus seixos, da nossa voz. Não abra espaço para ele se instalar no seu coração, o deixe no meio das pernas, nunca entre os braços.
E enquanto traçava o dedo pela borda do copo, eu tive um sobressalto. A vida passava pela janela, e eu carolinando, não via Não percebia que não queria que ela fosse embora, passando pelas cadeiras, requebrando seu corpo para longe de mim numa dança suave e hipnotizante para não esbarrar em ninguém. Esbarre em mim, me dê aquele sinal. Enfie sua mão por baixo da minha blusa quando eu te abraçar, ou vire o rosto micro decibéis em direção ao meu. Três milímetros e tocava sua boca, três metros e correria atrás, mais três doses e eu teria coragem, três segundos e eu perdi o tempo. E o outro lá, sorrateiro foi se achegando, milímetro a milímetro no pericárdio dessa menina.
E na falta de resposta para o meu insensato “por quê?”, eu fiz uma curva acelerando demais e cai na rua errada. Quem ama não quer ‘porque’. O ‘Porque’ é o estratagema dos covardes.
Inspirado pela música: ‘O mundo é um moinho’ – Cartola. - Originalmente escrito para a oficina de textos da Maíra Viana
quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
Para, Por e Com Você
Com você posso falar do tempo, da falta dele e da necessidade de organizá-lo em tarefas, sonhos e esquecimento. Da aurora boreal, das estrelas e brincar que aquelas bolas laranja no fio de alta tensão são planetas. Com você posso comer chocolate, e ficar acordada fazendo amor de um jeitinho minimalista e intenso, decorando e me regozijando com cada pequeno movimento do seu corpo sob o meu.
Com você posso falar de passado sem medo de que ele se torne presente demais para que seja possível ver algum futuro para nós. Posso falar de futuro e não te ver encolher pela ameaça indizível e inimaginável de ter minha companhia por mais que alguns dias, algumas noites; você está bem acostumado a me ter por perto. E assim, não é um pecado mortal sonhar acordada com mais alguns trident’s divididos entre os dentes na desculpa óbvia de te dar um beijo e, se quiser e o cansaço permitir, ficar acordada te olhando dormir.
Com você posso cantar com minha voz desafinada, e sorrir da falta de graça da vida. Posso encafifar de te ensinar passos de tango, roubar sushi dos outros, e engolir minha timidez – que sim, – existe. Por você compensa arriscar bem mais que o habitual.
Posso falar de Milan Kundera, e mesmo que você não entenda, não saiba de onde veio e compare uma frase dele que citei com qualquer coisa que viu no google, eu sei que a teoria do autor tcheco é uma verdade: A gente realmente dorme bem com quem gosta, mesmo espremidinho.
Ando de mãos dadas, te beijo e solto um sorriso traidor, que me entrega muito mais do que qualquer palavra que eu possa dizer pra você. Muito mais do que qualquer conjunção de palavras jamais poderá fazer; todas as palavras mentem.
Me dou ao desfrute de desligar o carro pra você ficar mais, de te convidar pra passar a noite comigo em uma terça feira qualquer e a entender que você detesta planejar, tudo vem de supetão. Comigo mesma eu sou feliz, com você eu divido esta alegria e a transbordo em coisas sem sentido e que vão à sua direção sem que eu as possa deter, mas com você não há medo de ridículo, nem sensação de fracasso. Sei que você não vai sair correndo à primeira amostra de fraqueza da minha parte.
Com você não quero falar de trabalho, da cotação da bolsa ou da árvore que despencou no parque da cidade. Prefiro te fazer cócegas e deixar o mundo para um pouquinho mais tarde (ou cedo). Porque com você, eu me sinto em outra galáxia. Viajante interestrelar deste planeta populado de loucura e salpicado de lucidez que eu gosto de chamar de gostar, embora a palavra certa seja algo bem do ladinho do amor.
Para você guardei o melhor em mim, e toda a minha pureza em acreditar na vida. Para você não há barreiras ou expectativas: vou bebendo em baldes o que a vida dá, sem medo de me afogar ou que a água esfrie de uma hora pra outra me deixando mais hipotérmica que a ausência dos teus braços ao redor da minha cintura.
Por você, qualquer coisa que eu escreva tem sabor de carta de amor, do mesmo jeito que até o livro de terror que te emprestei tem, para você, o meu cheiro. Coisa mais estranha é essa não?
Com você eu sou mais eu, e espero assim, abrir espaço para você ser só você. Nada mais.
Com você posso falar de passado sem medo de que ele se torne presente demais para que seja possível ver algum futuro para nós. Posso falar de futuro e não te ver encolher pela ameaça indizível e inimaginável de ter minha companhia por mais que alguns dias, algumas noites; você está bem acostumado a me ter por perto. E assim, não é um pecado mortal sonhar acordada com mais alguns trident’s divididos entre os dentes na desculpa óbvia de te dar um beijo e, se quiser e o cansaço permitir, ficar acordada te olhando dormir.
Com você posso cantar com minha voz desafinada, e sorrir da falta de graça da vida. Posso encafifar de te ensinar passos de tango, roubar sushi dos outros, e engolir minha timidez – que sim, – existe. Por você compensa arriscar bem mais que o habitual.
Posso falar de Milan Kundera, e mesmo que você não entenda, não saiba de onde veio e compare uma frase dele que citei com qualquer coisa que viu no google, eu sei que a teoria do autor tcheco é uma verdade: A gente realmente dorme bem com quem gosta, mesmo espremidinho.
Ando de mãos dadas, te beijo e solto um sorriso traidor, que me entrega muito mais do que qualquer palavra que eu possa dizer pra você. Muito mais do que qualquer conjunção de palavras jamais poderá fazer; todas as palavras mentem.
Me dou ao desfrute de desligar o carro pra você ficar mais, de te convidar pra passar a noite comigo em uma terça feira qualquer e a entender que você detesta planejar, tudo vem de supetão. Comigo mesma eu sou feliz, com você eu divido esta alegria e a transbordo em coisas sem sentido e que vão à sua direção sem que eu as possa deter, mas com você não há medo de ridículo, nem sensação de fracasso. Sei que você não vai sair correndo à primeira amostra de fraqueza da minha parte.
Com você não quero falar de trabalho, da cotação da bolsa ou da árvore que despencou no parque da cidade. Prefiro te fazer cócegas e deixar o mundo para um pouquinho mais tarde (ou cedo). Porque com você, eu me sinto em outra galáxia. Viajante interestrelar deste planeta populado de loucura e salpicado de lucidez que eu gosto de chamar de gostar, embora a palavra certa seja algo bem do ladinho do amor.
Para você guardei o melhor em mim, e toda a minha pureza em acreditar na vida. Para você não há barreiras ou expectativas: vou bebendo em baldes o que a vida dá, sem medo de me afogar ou que a água esfrie de uma hora pra outra me deixando mais hipotérmica que a ausência dos teus braços ao redor da minha cintura.
Por você, qualquer coisa que eu escreva tem sabor de carta de amor, do mesmo jeito que até o livro de terror que te emprestei tem, para você, o meu cheiro. Coisa mais estranha é essa não?
Com você eu sou mais eu, e espero assim, abrir espaço para você ser só você. Nada mais.
segunda-feira, 10 de janeiro de 2011
Com você eu vejo o Mar
Deitada nos teus braços, envolta por nosso suor, coração acelerado e a alma leve, eu vejo o mar. Vejo as ondas que vem e vão, e em seu balançar levam e trazem tudo. Inspiro minha vontade de viver tudo intensamente e expiro meu medo incontrolável de ser pouco.
Devoro com meus dentes seu furinho no queixo, e insinuo que aquilo é um defeito de fábrica, mas por dentro morro de vontade cada vez que você sorri e aquele furo salta aos meus olhos. E marco suas costas com minhas unhas imaginárias, numa necessidade louca de ter um pouco de mim em você, assim como há tanto de você em mim.
Sorrio da falta de graça que é se apaixonar pelo melhor amigo, coisa mais sem cabimento, desde que o mundo é mundo e eu sou morena, mulher e coração mole. Você me avisou que era pra manter o coração fechado, mas isso incluía deixar você do lado de fora ou era um conselho pra ser seguido apenas com os outros milhões de homens do planeta?
Tudo muito complicado e eu querendo passar a noite do seu lado na bagunça organizada que são nossas vidas e esse apêndice em comum. E o mar se recolhe na frente dos meus olhos, morrendo de angustia do que pode vir, do que a maré cheia traz quando se expande.
E eu expando. Encolho no instante que sua musculatura se retesa e expando por dentro na delícia louca que é sair de mim pra você entrar.
Encolho e fico pequena pra caber nos teus laços diminutos, nos teus beijos alucinógenos e nas minhas certezas duvidosas. Mal caibo em mim, e tento caber em você.
E enquanto o tempo vai passando e a gente não se dá conta de que a noite vira madruga e ameaça virar manhã mais rápido do que gostaria, eu decoro seu corpo em tato, paladar, olfato. Conheço teus barulhos, teus jeitos e esse riso fácil que brota na curva fértil do meu sorriso.
Vou percebendo que marco o tempo na sua respiração, e a cada instante, anseio por cada toque seu. Sim, parece que te devo cada beijo há duzentos anos, parece que cada carinho demorou tempo demais para acontecer. E quando acontece, é grande demais para caber em mim.
E falo sem querer, o que não sei se devo dizer. Sai meio atravessado. Sai meio de lado, enviesado. Sai sem pedir licença e sai antes que dentro de mim, aquela verdade arrebatadora fizesse algum sentido. Sai no sentido contrário ao da rotação da Terra, e faz com que o planeta resolva correr do Sol: Rotação e Translação estão piradas nesse meu mundo.
E esse mar revolto que está aqui dentro de mim se encontra com seu rio de água doce. Não sei o que fazer para domar esse querer-você-a-todo-instante. E me complico na simplicidade. Sou avessa a tudo que é monocromático, e adoro seu estilo moderado e o contraste dele com o toque de suas mãos em minha pele rubra e febril. Me entrego a todo instante, e assim, vejo o mar.
Devoro com meus dentes seu furinho no queixo, e insinuo que aquilo é um defeito de fábrica, mas por dentro morro de vontade cada vez que você sorri e aquele furo salta aos meus olhos. E marco suas costas com minhas unhas imaginárias, numa necessidade louca de ter um pouco de mim em você, assim como há tanto de você em mim.
Sorrio da falta de graça que é se apaixonar pelo melhor amigo, coisa mais sem cabimento, desde que o mundo é mundo e eu sou morena, mulher e coração mole. Você me avisou que era pra manter o coração fechado, mas isso incluía deixar você do lado de fora ou era um conselho pra ser seguido apenas com os outros milhões de homens do planeta?
Tudo muito complicado e eu querendo passar a noite do seu lado na bagunça organizada que são nossas vidas e esse apêndice em comum. E o mar se recolhe na frente dos meus olhos, morrendo de angustia do que pode vir, do que a maré cheia traz quando se expande.
E eu expando. Encolho no instante que sua musculatura se retesa e expando por dentro na delícia louca que é sair de mim pra você entrar.
Encolho e fico pequena pra caber nos teus laços diminutos, nos teus beijos alucinógenos e nas minhas certezas duvidosas. Mal caibo em mim, e tento caber em você.
E enquanto o tempo vai passando e a gente não se dá conta de que a noite vira madruga e ameaça virar manhã mais rápido do que gostaria, eu decoro seu corpo em tato, paladar, olfato. Conheço teus barulhos, teus jeitos e esse riso fácil que brota na curva fértil do meu sorriso.
Vou percebendo que marco o tempo na sua respiração, e a cada instante, anseio por cada toque seu. Sim, parece que te devo cada beijo há duzentos anos, parece que cada carinho demorou tempo demais para acontecer. E quando acontece, é grande demais para caber em mim.
E falo sem querer, o que não sei se devo dizer. Sai meio atravessado. Sai meio de lado, enviesado. Sai sem pedir licença e sai antes que dentro de mim, aquela verdade arrebatadora fizesse algum sentido. Sai no sentido contrário ao da rotação da Terra, e faz com que o planeta resolva correr do Sol: Rotação e Translação estão piradas nesse meu mundo.
E esse mar revolto que está aqui dentro de mim se encontra com seu rio de água doce. Não sei o que fazer para domar esse querer-você-a-todo-instante. E me complico na simplicidade. Sou avessa a tudo que é monocromático, e adoro seu estilo moderado e o contraste dele com o toque de suas mãos em minha pele rubra e febril. Me entrego a todo instante, e assim, vejo o mar.
segunda-feira, 3 de janeiro de 2011
Quando o meio termo é Bom
Acontece sem você perceber, com quem você não acha apropriado e te pega desprevenido às 2 da tarde de um domingo chuvoso. Começa com as mãos suadas, ou com um pensamento insistente e uma vontade louca de ouvir uma música do Pearl Jam. Just Breathe, Stay With me - baby.
De repente todas as suas certezas e idealizações são amassadas por um rolo compressor. Nada parece muito importante, as formas não são inteiramente definidas, tudo está meio sem sentido: algumas partes de você se misturaram quando o rolo compressor passou.
Você quer não ligar e liga, quer não pensar e pensa, quer não se importar, mas se importa. Diz que não quer nada sério e mente cruelmente. Diz que não quer que fique, e depois suplica com os olhos pra que não vá embora. ‘Os olhos mentem, dia e noite a dor da gente’. Mentem mais, mentem o que falam, mentem o que calam.
Abre a boca pra falar que adora e solta qualquer besteira sobre o tempo, a chuva – É não para de chover. E chove fora, e dentro de mim. Estou me afogando por dentro.
Finge não importar com o fato, com ato, impacto. Mas não pensa em outra coisa. Lamenta que o cheiro no travesseiro tenha saído tão rápido, e morde a beirada da coberta tentando decidir entre ir e ficar. Morde. Morde orelha, pescoço, lábios. Tenta devorar aquilo que vem te consumindo. Se morde de ciúmes, saudade, de querer mais.
Não confessa que o coração dispara quando o celular toca aquela musiquinha besta que escolheu pra quando ligasse. Que não fica doido de saudade quando recebe uma SMS qualquer dizendo que quer ver.
Acredita em qualquer mentira sincera que aqueles lábios falarem: é gostosa, é musa, é neném, é deusa, é doida. Basta ser alguma coisa, e se rolar um pronome possessivo na frente, que seja o ’Sua’. Sua de ser, de acontecer, de esperar, de ter.
De repente se sente no meio de Eduardo e Mônica do Legião. Parece tudo diferente, é mais novo, é mais velho. Tanto faz, nesse caso satisfaz. O meio termo me parece ótimo para apaziguar essa vontade sem razão.
De repente todas as suas certezas e idealizações são amassadas por um rolo compressor. Nada parece muito importante, as formas não são inteiramente definidas, tudo está meio sem sentido: algumas partes de você se misturaram quando o rolo compressor passou.
Você quer não ligar e liga, quer não pensar e pensa, quer não se importar, mas se importa. Diz que não quer nada sério e mente cruelmente. Diz que não quer que fique, e depois suplica com os olhos pra que não vá embora. ‘Os olhos mentem, dia e noite a dor da gente’. Mentem mais, mentem o que falam, mentem o que calam.
Abre a boca pra falar que adora e solta qualquer besteira sobre o tempo, a chuva – É não para de chover. E chove fora, e dentro de mim. Estou me afogando por dentro.
Finge não importar com o fato, com ato, impacto. Mas não pensa em outra coisa. Lamenta que o cheiro no travesseiro tenha saído tão rápido, e morde a beirada da coberta tentando decidir entre ir e ficar. Morde. Morde orelha, pescoço, lábios. Tenta devorar aquilo que vem te consumindo. Se morde de ciúmes, saudade, de querer mais.
Não confessa que o coração dispara quando o celular toca aquela musiquinha besta que escolheu pra quando ligasse. Que não fica doido de saudade quando recebe uma SMS qualquer dizendo que quer ver.
Acredita em qualquer mentira sincera que aqueles lábios falarem: é gostosa, é musa, é neném, é deusa, é doida. Basta ser alguma coisa, e se rolar um pronome possessivo na frente, que seja o ’Sua’. Sua de ser, de acontecer, de esperar, de ter.
De repente se sente no meio de Eduardo e Mônica do Legião. Parece tudo diferente, é mais novo, é mais velho. Tanto faz, nesse caso satisfaz. O meio termo me parece ótimo para apaziguar essa vontade sem razão.
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