Ando procurando em muitas bocas algo que minha própria boca não tem.
Encosto meus lábios vermelhos, secos de vontade, em outros lábios vermelhos e também secos de vontade, mas eu não sei do que.
Me embriago em cheiros. É um êxtase de novas sensações, é testar novos limites. É testar o meu limite. O limite que tenho, mas que não me imponho. É o limite traçado por meus sonhos, meus ideais e minhas ideias, não por medo ou insegurança.
Ando procurando entre línguas e dentes um equilíbrio que não há mais em mim. Ando procurando com volúpia e sofreguidão a boca que calará a minha boca, e a língua que me fará perder palavras e usar jargões. E principalmente os olhos que com seu suave dançar despertarão o que de melhor há em mim.
Procuro entre dentes, irregulares e destoantes, a simetria absurda de sentimento e razão. Ouso procurar entre seu marfim, a pedra preciosa de um sorriso sincero, a luz ofuscante que deixará minhas pernas bambas e minhas mãos suadas. Borboletas no estômago.
A verdade é que perdi a bambeza das pernas: enlaçam minha cintura, beijam minha boca, enroscam os dedos em meus cabelos, mas não chegam a minha espinha dorsal. Não há arrepio que vá além de minha epiderme. Não há amor que dure mais que alguns instantes. E vou me viciando nestas pequenas doses, que cada vez estão menores em satisfação, e maiores em vontade.
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
Fiador
Pensei que tudo começaria e acabaria no instante em que nossas bocas se encontrassem e nossas línguas procurassem uma à outra, no calor enregelado de teus braços envoltos aos meus. Ingênua, pensei que conseguiria apagar dentro de mim essa chama trêmula, que insiste em arder e colocar meu coração em trabalho dobrado. Mas não.
Não consigo esquecer aquele castanho inominável que são seus olhos, e que até então eu nem tinha reparado bem. Uma mistura zombeteira e impossível de mel e fel, tendenciado ao chocolate. Seus olhos já eram dessa cor quando te conheci?
Foram apenas nossas bocas que se tocaram? Acho que você, por breves instantes, teve acesso a alguma parte de mim que eu não conhecia, e em sua incursão ao meu âmago, apertou algum botão que desencadeou uma erupção interna. Estou um caos por dentro, e nunca me senti mais confortável do que no meio dessa bagunça.
O que acontece agora? O que acontecerá depois que descobri que não era uma solução, mas o início de um problema? Quanta prepotência a minha, imaginar que resistiria a meu próprio coração que sempre apontou uma seta de neon para você. As luzes piscavam, o letreiro gritava uma mensagem de cuidado e eu não me importei.
Por sermos tão francos um com o outro, posso te falar abertamente: Pintou um enorme receio. Receio de fazer a coisa errada. Medo de destruir algo que acredito tanto, e que me faz tão bem. Mas acho que não posso mais te olhar da maneira de antes. É que meus olhos dançam risonhos procurando os seus, e meus sorrisos hoje tem um brilho a mais: estão cheios de lembranças. Lembranças de você... E pasme. Agora há lembranças de ‘nós’.
Estou chutando pequenas pedrinhas na rua, como criança que não sabe o rumo pra voltar pra casa. E minha casa é o instante silencioso em que teus olhos encontraram os meus, e descobri o gosto que sua boca tem. E ao mesmo tempo, este é meu inferno. É minha certeza de fazer o certo e errar profundamente ao fazê-lo.
Se eu ainda não te amo, Deus sabe que isso é uma questão de tempo. E de pouco tempo. Será que devo colocar meu coração de fiador dessa história?
Não consigo esquecer aquele castanho inominável que são seus olhos, e que até então eu nem tinha reparado bem. Uma mistura zombeteira e impossível de mel e fel, tendenciado ao chocolate. Seus olhos já eram dessa cor quando te conheci?
Foram apenas nossas bocas que se tocaram? Acho que você, por breves instantes, teve acesso a alguma parte de mim que eu não conhecia, e em sua incursão ao meu âmago, apertou algum botão que desencadeou uma erupção interna. Estou um caos por dentro, e nunca me senti mais confortável do que no meio dessa bagunça.
O que acontece agora? O que acontecerá depois que descobri que não era uma solução, mas o início de um problema? Quanta prepotência a minha, imaginar que resistiria a meu próprio coração que sempre apontou uma seta de neon para você. As luzes piscavam, o letreiro gritava uma mensagem de cuidado e eu não me importei.
Por sermos tão francos um com o outro, posso te falar abertamente: Pintou um enorme receio. Receio de fazer a coisa errada. Medo de destruir algo que acredito tanto, e que me faz tão bem. Mas acho que não posso mais te olhar da maneira de antes. É que meus olhos dançam risonhos procurando os seus, e meus sorrisos hoje tem um brilho a mais: estão cheios de lembranças. Lembranças de você... E pasme. Agora há lembranças de ‘nós’.
Estou chutando pequenas pedrinhas na rua, como criança que não sabe o rumo pra voltar pra casa. E minha casa é o instante silencioso em que teus olhos encontraram os meus, e descobri o gosto que sua boca tem. E ao mesmo tempo, este é meu inferno. É minha certeza de fazer o certo e errar profundamente ao fazê-lo.
Se eu ainda não te amo, Deus sabe que isso é uma questão de tempo. E de pouco tempo. Será que devo colocar meu coração de fiador dessa história?
Talvez
Menino pára de me torturar e me deixa sentir o cheiro que tem seu pescoço quando você acorda de manhã! Para de complicar tudo e me deixa beijar essa tua boca grande e esse seu ouvido feito pra ouvir minhas mais doces palavras.
Deixa, que eu to cansada de sentir sua pele arrepiar embaixo dos meus lábios, quando tocam sua bochecha. Deixa, porque eu não vou conseguir prender nem com super Bond essa minha vontade de ter você, de enlaçar seu pescoço e fazer minha mão direita se encontrar com a esquerda bagunçando seu cabelo.
Para de complicar tudo com o talvez, porque eu poderia te amar bem mais do que já amo; se não tivesse que fingir o tempo todo que não ligo. Se não tivesse que disfarçar meus olhares e controlar a ênfase dos meus abraços e sorrisos.
Deixa, que eu to cansada de sentir sua pele arrepiar embaixo dos meus lábios, quando tocam sua bochecha. Deixa, porque eu não vou conseguir prender nem com super Bond essa minha vontade de ter você, de enlaçar seu pescoço e fazer minha mão direita se encontrar com a esquerda bagunçando seu cabelo.
Para de complicar tudo com o talvez, porque eu poderia te amar bem mais do que já amo; se não tivesse que fingir o tempo todo que não ligo. Se não tivesse que disfarçar meus olhares e controlar a ênfase dos meus abraços e sorrisos.
sábado, 18 de dezembro de 2010
Chove lá fora
Fecha a janela amor, que a chuva está entrando. Entrando sem que eu permita, e molhando com suas gotas geladas a minha face, misturando-se arteira às minhas lágrimas quentes e te confundindo. Eu choro, não é só a chuva. Choro porque aqui dentro há algo que não consigo transmutar em palavras.
Pela fresta aberta o vento uiva, trazendo em seu bailar as palavras que se entravaram em minha garganta. Garganta seca, ressequida. E as palavras que eu falo nem sempre tem o sentindo que eu queria que tivessem.
Fecha a janela, porque a chuva me trás lembranças, me acentua os medos, me angustia, e hoje eu quero deixar toda essa multidão de aflições do lado de fora. Quero dizer um eu te amo descompromissado, e sem peso. Quero colocar pra fora o que pesa em mim, o que eu queria dizer e não sei como.
Palavras não me bastam, e preciso transgredir minhas sílabas e letras e torná-las palpáveis. Preciso te abraçar forte e na curva dos teus braços encaixar minha miudeza e minha alma de menina. Quero envolver seu pescoço com todas as minhas fantasias, e tornar sua alma um playground de alegria, amor e cumplicidade.
Fecha a janela, que aqui dentro há uma música baixinha, uma prece silenciosa para que o mundo gire no sentido contrário. Para que tudo que é difícil não mais o seja. E, se for pra poder te beijar sempre que eu quiser, eu perco até esse medo de adjetivos.
E enquanto chove lá fora, deixa que o Sol reine aqui dentro, brilhando seu amarelo- acácias no seu sorriso de algodão. Brilhante como estes olhos que se encontram no silêncio das promessas não feitas, mas que serão cumpridas.
Fecha a janela e se aconchegue nos meus braços.
Pela fresta aberta o vento uiva, trazendo em seu bailar as palavras que se entravaram em minha garganta. Garganta seca, ressequida. E as palavras que eu falo nem sempre tem o sentindo que eu queria que tivessem.
Fecha a janela, porque a chuva me trás lembranças, me acentua os medos, me angustia, e hoje eu quero deixar toda essa multidão de aflições do lado de fora. Quero dizer um eu te amo descompromissado, e sem peso. Quero colocar pra fora o que pesa em mim, o que eu queria dizer e não sei como.
Palavras não me bastam, e preciso transgredir minhas sílabas e letras e torná-las palpáveis. Preciso te abraçar forte e na curva dos teus braços encaixar minha miudeza e minha alma de menina. Quero envolver seu pescoço com todas as minhas fantasias, e tornar sua alma um playground de alegria, amor e cumplicidade.
Fecha a janela, que aqui dentro há uma música baixinha, uma prece silenciosa para que o mundo gire no sentido contrário. Para que tudo que é difícil não mais o seja. E, se for pra poder te beijar sempre que eu quiser, eu perco até esse medo de adjetivos.
E enquanto chove lá fora, deixa que o Sol reine aqui dentro, brilhando seu amarelo- acácias no seu sorriso de algodão. Brilhante como estes olhos que se encontram no silêncio das promessas não feitas, mas que serão cumpridas.
Fecha a janela e se aconchegue nos meus braços.
O problema sou eu
Antes de chegar a esse clímax eu tentei achar uma justificativa dentro de mim, mas não encontrei nada nesse escuro breu. Como é que se acorda depois de uma vida inteira dormindo ao lado de alguém, dizendo ‘eu te amo’, comendo a comida e se percebe que preferia estar em outro lugar, qualquer lugar do que ali?
Ainda lembro, com certa nostalgia e enternecimento, o dia em que te vi atravessar a passarela de olhares e dirigir seus olhos azuis e fugidios aos meus. Um sorriso de certeza nos lábios, um vestido branco cobrindo suas curvas jovens. Ninguém se casa pensando que vai dar errado. E 25 anos depois, a gente pensa que tudo deu certo.
E então, acordar depois da nossa festa de bodas de prata, com glacê de bolo no canto da boca percebendo que minha cabeça girava e não tinha nada a ver com a champagne barata bebida na véspera, teve um peso que nenhum halterofilista conseguiria carregar. Você não saberia o quanto foi difícil, o quanto ainda é. Me perdoe, mas não dizem que casamento foi feito pra mulher? O nosso foi feito pra você.
Vi seu corpo magro e sua pele branca dormindo gentis ao meu lado, e no seu rosto o mesmo sorriso de sempre. Antes eu me encantava ao te ver dormir, e agora eu queria sair de fininho antes de você acordar. Sair do quarto, da casa, da sua vida e da minha vida. Não ressone; não acorde. Eu suplicava no mesmo instante em que tentava remover meu corpo da cama, e ele não saia do lugar com o peso da minha culpa e do meu remorso a quadruplicar os meus 80 kgs.
No quarto ao lado nossos filhos dormiam, e, antes de me mover na cama pensei em todos os nossos planos pra eles, nos nossos sonhos pra reforma da casa, trocar o carro, e pensei em como burocratizamos e institucionalizamos o nosso amor. Era uma questão de nós, e eu não sabia onde ficava o “eu” dentro disso. Tinha medo de pegar minha identidade e ver uma foto andrógena, uma mistura da minha figura agigantada com seus traços diminutos. Eu não sabia mais que cara eu tinha, e não tinha cara de nada.
Não pense você que tirei aquelas fotos por paixão ela moça ou por vaidade. Era puramente covardia. Deixar um celular estourando de fotos comprometedoras, de números comprometedores e de SMS comprometedoras era minha maneira de impor a você uma decisão que eu fui covarde demais pra tomar. Então era fácil demais deixar você ver o que no fundo já sabia: Que fidelidade ficou uns 10 anos pra trás na nossa história. Mas se me perguntasse hoje se troquei por outra mulher, eu te diria que te troquei por mim. Talvez na época eu soubesse disso apenas de maneira subjetiva.
Então, quando cheguei em casa dias antes com a cueca do avesso, não pense que foi sem querer. Eu premeditei tudo nesse homicídio. Eu pensei em cada detalhe que te deixaria no limite, a ponto de tomar a sua decisão. A decisão que já era minha e que eu não tinha coragem. Cueca do avesso pode ser golpe baixo, mas no meu caso eu pensava que seria golpe de misericórdia. Mas você viu, olhou, fez que não viu e desviou os olhos pra revista. Tem coisas que era melhor não notar, né? E então eu tive que usar o estratagema das fotos.
Matei nosso casamento. Foi um crime qualificado e com intenção, mas foi um crime onde eu fui agente passivo. Deixei em suas mãos a competência de arrancar nossas alianças e atirá-las pela janela. Deixei para seu gênio fêmeo todo o drama e te deixei uma imagem minha que eu não queria que ninguém tivesse.
Fosse eu mais homem e podia ter dignidade, mas covardia só se alia com amor próprio, e preferi por muito tempo cantar o mantra de que você bem que merecia aquelas coisas todas. Fosse eu mais homem, e terminaríamos como tudo começou: com a certeza de fazer a coisa certa.
De consolo me resta o fato de que você sempre foi mais gente do que eu, e que amor pra você era coisa séria. Eu disse consolo? Perdoe. Essa é a dor.
Hoje tenho outra casa, outra mulher, outro corpo deitado ao lado do meu. Outra vontade de sair correndo, outra necessidade de encontrar coragem pra fazer diferente. E outra certeza de que vou acabar fazendo tudo igual.
O problema não era você, a institucionalização, a globalização. O problema era eu. E esse problema continua sem solução.
Ainda lembro, com certa nostalgia e enternecimento, o dia em que te vi atravessar a passarela de olhares e dirigir seus olhos azuis e fugidios aos meus. Um sorriso de certeza nos lábios, um vestido branco cobrindo suas curvas jovens. Ninguém se casa pensando que vai dar errado. E 25 anos depois, a gente pensa que tudo deu certo.
E então, acordar depois da nossa festa de bodas de prata, com glacê de bolo no canto da boca percebendo que minha cabeça girava e não tinha nada a ver com a champagne barata bebida na véspera, teve um peso que nenhum halterofilista conseguiria carregar. Você não saberia o quanto foi difícil, o quanto ainda é. Me perdoe, mas não dizem que casamento foi feito pra mulher? O nosso foi feito pra você.
Vi seu corpo magro e sua pele branca dormindo gentis ao meu lado, e no seu rosto o mesmo sorriso de sempre. Antes eu me encantava ao te ver dormir, e agora eu queria sair de fininho antes de você acordar. Sair do quarto, da casa, da sua vida e da minha vida. Não ressone; não acorde. Eu suplicava no mesmo instante em que tentava remover meu corpo da cama, e ele não saia do lugar com o peso da minha culpa e do meu remorso a quadruplicar os meus 80 kgs.
No quarto ao lado nossos filhos dormiam, e, antes de me mover na cama pensei em todos os nossos planos pra eles, nos nossos sonhos pra reforma da casa, trocar o carro, e pensei em como burocratizamos e institucionalizamos o nosso amor. Era uma questão de nós, e eu não sabia onde ficava o “eu” dentro disso. Tinha medo de pegar minha identidade e ver uma foto andrógena, uma mistura da minha figura agigantada com seus traços diminutos. Eu não sabia mais que cara eu tinha, e não tinha cara de nada.
Não pense você que tirei aquelas fotos por paixão ela moça ou por vaidade. Era puramente covardia. Deixar um celular estourando de fotos comprometedoras, de números comprometedores e de SMS comprometedoras era minha maneira de impor a você uma decisão que eu fui covarde demais pra tomar. Então era fácil demais deixar você ver o que no fundo já sabia: Que fidelidade ficou uns 10 anos pra trás na nossa história. Mas se me perguntasse hoje se troquei por outra mulher, eu te diria que te troquei por mim. Talvez na época eu soubesse disso apenas de maneira subjetiva.
Então, quando cheguei em casa dias antes com a cueca do avesso, não pense que foi sem querer. Eu premeditei tudo nesse homicídio. Eu pensei em cada detalhe que te deixaria no limite, a ponto de tomar a sua decisão. A decisão que já era minha e que eu não tinha coragem. Cueca do avesso pode ser golpe baixo, mas no meu caso eu pensava que seria golpe de misericórdia. Mas você viu, olhou, fez que não viu e desviou os olhos pra revista. Tem coisas que era melhor não notar, né? E então eu tive que usar o estratagema das fotos.
Matei nosso casamento. Foi um crime qualificado e com intenção, mas foi um crime onde eu fui agente passivo. Deixei em suas mãos a competência de arrancar nossas alianças e atirá-las pela janela. Deixei para seu gênio fêmeo todo o drama e te deixei uma imagem minha que eu não queria que ninguém tivesse.
Fosse eu mais homem e podia ter dignidade, mas covardia só se alia com amor próprio, e preferi por muito tempo cantar o mantra de que você bem que merecia aquelas coisas todas. Fosse eu mais homem, e terminaríamos como tudo começou: com a certeza de fazer a coisa certa.
De consolo me resta o fato de que você sempre foi mais gente do que eu, e que amor pra você era coisa séria. Eu disse consolo? Perdoe. Essa é a dor.
Hoje tenho outra casa, outra mulher, outro corpo deitado ao lado do meu. Outra vontade de sair correndo, outra necessidade de encontrar coragem pra fazer diferente. E outra certeza de que vou acabar fazendo tudo igual.
O problema não era você, a institucionalização, a globalização. O problema era eu. E esse problema continua sem solução.
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
Não era amor de estação; era chuva de verão
Eu nunca quis te espremer. Nunca achei que ia chegar a seu sumo, sua essência te apertando, balançando as mãos e estendendo uma coleirinha dourada com um ‘F’ lustroso. Eu sei que amor é liberdade e nunca estive disposta a gastar a minha para tornar alguém meu refém. Sei que quem aprisiona, torna-se algoz de si, e transforma sua própria vida num cárcere. Eu sou de amar livremente, mas sou de amar. Entendeu?
De imperdoáveis ficarão a sua benquerença pelo cara da Tropicália ao invés do rapaz de olhos azuis; sua alma taciturna e seus anos que pesavam em dobro. Às vezes acho que você tem a alma mais velha que o corpo. Sua falta de imprevisibilidade, sua necessidade de ter rota certa; que contrastavam tão grandemente com meus 24 anos e minha necessidade de surpresa e chocolate em horas inesperadas. Eu quero muito o inesperado. De imperdoáveis ficarão as palavras não ditas e o bis daquela canção que você tocou pra mim e não me deu o gosto de ouvir uma segunda vez. Mas nossa vida é cheia de promessas não cumpridas, e não vou manchar a capa com detalhes do capítulo final.
Amores de verão são como canções inacabadas: sempre falta alguma coisa, e isso é literal. No nosso caso faltou vontade. Vontade de ter coragem, vontade de querer mais. Eu não quis, você não quis, e fizemos um acordo mudo de não nos querermos mais.
Faltou vontade de mais torradas e chá, chorinho. Faltou seu medo ser menor e meu desejo de fazer dar certo ultrapassar a minha apatia por romances mornos. Eu te disse que não sou de purgatório e você quis me entregar uma passagem só de ida pra lá. E se você é bom em se esquivar de substantivos, eu sou ótima em fugir da falta completa deles.
Nossas afinidades são imensas, mas nossas diferenças são apoteóticas também. Minha melhor amiga senta na frente no táxi, eu estico a mão e peço o garçom outra cerveja. Eu não me indigno com essas coisas, eu acho normal. E você se choca tanto com pequenos detalhes! E assim, de certa forma, sua letra muito rebuscada não coube bem na minha melodia cheirando a samba.
Você gastou muito tempo e energia em me manter a distância do seu coração, e não percebeu que pouco a pouco perdeu o espaço que tinha ganhado no meu. ‘Querer’ precisa ser regado para florescer, e você se preocupou em colocar cerca antes da semente germinar, matando qualquer chance de ir além do que para você era seguro e palpável.
Não se zangue por eu querer bem mais que uma estação chuvosa. Eu tenho tempo, mas não estou disposta a gastar com amores que não cheguem a virar letras de manhã, poemas de tarde ou sussurros de madrugada.
De imperdoáveis ficarão a sua benquerença pelo cara da Tropicália ao invés do rapaz de olhos azuis; sua alma taciturna e seus anos que pesavam em dobro. Às vezes acho que você tem a alma mais velha que o corpo. Sua falta de imprevisibilidade, sua necessidade de ter rota certa; que contrastavam tão grandemente com meus 24 anos e minha necessidade de surpresa e chocolate em horas inesperadas. Eu quero muito o inesperado. De imperdoáveis ficarão as palavras não ditas e o bis daquela canção que você tocou pra mim e não me deu o gosto de ouvir uma segunda vez. Mas nossa vida é cheia de promessas não cumpridas, e não vou manchar a capa com detalhes do capítulo final.
Amores de verão são como canções inacabadas: sempre falta alguma coisa, e isso é literal. No nosso caso faltou vontade. Vontade de ter coragem, vontade de querer mais. Eu não quis, você não quis, e fizemos um acordo mudo de não nos querermos mais.
Faltou vontade de mais torradas e chá, chorinho. Faltou seu medo ser menor e meu desejo de fazer dar certo ultrapassar a minha apatia por romances mornos. Eu te disse que não sou de purgatório e você quis me entregar uma passagem só de ida pra lá. E se você é bom em se esquivar de substantivos, eu sou ótima em fugir da falta completa deles.
Nossas afinidades são imensas, mas nossas diferenças são apoteóticas também. Minha melhor amiga senta na frente no táxi, eu estico a mão e peço o garçom outra cerveja. Eu não me indigno com essas coisas, eu acho normal. E você se choca tanto com pequenos detalhes! E assim, de certa forma, sua letra muito rebuscada não coube bem na minha melodia cheirando a samba.
Você gastou muito tempo e energia em me manter a distância do seu coração, e não percebeu que pouco a pouco perdeu o espaço que tinha ganhado no meu. ‘Querer’ precisa ser regado para florescer, e você se preocupou em colocar cerca antes da semente germinar, matando qualquer chance de ir além do que para você era seguro e palpável.
Não se zangue por eu querer bem mais que uma estação chuvosa. Eu tenho tempo, mas não estou disposta a gastar com amores que não cheguem a virar letras de manhã, poemas de tarde ou sussurros de madrugada.
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
Transgressões
Sentada sob o encosto do banco naquele parque, apoiando os pés no verdadeiro assento, eu me sinto transgredindo regras. O ipê, antes amarelo, me parece pálido e distante. Suas flores, de cor viva, me são tão apáticas quanto seu tronco. E transgrido seu espaço, gosto e meu tempo.
Eu preciso de alguma transgressão. Preciso de uma insubordinação possível para dosar minha vontade de cometer absurdos, com minha razão atrapalhada. Para me servir de válvula de escape, na impossibilidade de escapar de me perder mais profundamente em tudo que realmente me tem valor. E olha, eu sou daquelas que não vê problema algum em ficar “fora de si” de vez em quando.
É certo que algumas pessoas pensam que as regras foram feitas para serem cumpridas, mas estou quase certa de que elas existem para serem quebradas, não é mesmo? Eu não mereço fugir dos padrões algumas vezes?
Eu tenho que percorrer meus dedos sobre sua pele para te arrepiar. Você me arrepia só com sua presença. Perturbador. Você bagunça meu ciclo lunar, me causa tsunamis, derruba encostas e destrói algo em mim no caminho pelo qual passa. E se eu tivesse juízo, dava as costas e sairia correndo, mas quem disse que tenho?
Eu preciso de alguma transgressão. Preciso de uma insubordinação possível para dosar minha vontade de cometer absurdos, com minha razão atrapalhada. Para me servir de válvula de escape, na impossibilidade de escapar de me perder mais profundamente em tudo que realmente me tem valor. E olha, eu sou daquelas que não vê problema algum em ficar “fora de si” de vez em quando.
É certo que algumas pessoas pensam que as regras foram feitas para serem cumpridas, mas estou quase certa de que elas existem para serem quebradas, não é mesmo? Eu não mereço fugir dos padrões algumas vezes?
Eu tenho que percorrer meus dedos sobre sua pele para te arrepiar. Você me arrepia só com sua presença. Perturbador. Você bagunça meu ciclo lunar, me causa tsunamis, derruba encostas e destrói algo em mim no caminho pelo qual passa. E se eu tivesse juízo, dava as costas e sairia correndo, mas quem disse que tenho?
sexta-feira, 3 de dezembro de 2010
O mundo é tão complicado
Quando você me disse o nome daquela banda completamente desconhecida, eu juro, minha órbita foi alterada. Não poderia existir no planeta inteiro um único individuo que gostasse das mesmas coisas que eu, tivesse lido os mesmos livros, gostasse do mesmo doce e, por um descuido do destino, cruzasse o meu caminho. Eu, que jogava sempre nos números de azar recebi a maior bolada da sorte quando conheci você.
Sei que as aparências enganam, sei que é dificílimo acertar em todas as escolhas e imagino que o preço de tanta afinidade seja alto. Mas eu fiz várias reservas nesta minha vida, e agora estou disposto a colocar as cartas na mesa e jogar do seu jeito, mesmo que para isso precise aprender regras novas (ou até esquecê-las por completo).
Eu já te disse tudo que eu podia te falar, mas é estranho que este nó na minha garganta continue seco e apertado cada vez que engulo a saliva não gasta em um beijo que não te dei. E molho meus lábios ressecados com esta língua amolecida e dormente que não é usada para formar aquelas duas palavrinhas que eu queria te falar todas as vezes que nossos olhos se cruzam e meu nariz gelado encosta-se a suas bochechas quentes.
O mundo é tão complicado, e nós dois conseguimos fugir de alguns parâmetros e complicar ainda mais algumas coisas. Você parece que usa camuflagem nesse seu coração, eu nunca o encontro embaixo de sua armadura fria. E eu nem saberia por qual palavra começar se precisasse te falar o que se passa nesse meu músculo bombeador de sangue. Não sei ser distante, eu quero tudo ao alcance dos meus olhos e dos meus sentidos
Você me espanta com suas palavras, que muitas vezes não condizem com gestos. Me desnorteia ao ponto de não possuir mais um pólo magnético nesse meu planeta, e algumas vezes me tira o brilho de Sirius, os faróis que são seus olhos. Falta-me coragem para arriscar, e para desistir: entrego-me a inércia de esperar pelo seu primeiro passo. E me deixo corroer na ansiedade de que esse primo-passo nunca venha.
Antes de você eu tinha um plano bem traçado e pontuado. Que pretensão a sua, chegar e bagunçar todos os meus cronogramas, gráficos e mapas!
Quando foi, que sem perceber, abri a porta para o tufão devastador que é aquele ventinho quente que sai de seus lábios entreabertos enquanto você ressona dormindo?
Recostando-me em sua cama, escuto a água do seu chuveiro que brinca no seu corpo da mesma maneira que eu gostaria de brincar. Sou feliz só por compartilhar, mesmo que apenas auditivamente desse momento com você. Mas porque tanta reserva? Deixe-me entrar nessa sua vida e bagunçar tudo do mesmo jeito que você fez comigo!
Arrisque-se a perder a simetria complexa de suas linhas, e misture-se nas minhas cores.
Sei que as aparências enganam, sei que é dificílimo acertar em todas as escolhas e imagino que o preço de tanta afinidade seja alto. Mas eu fiz várias reservas nesta minha vida, e agora estou disposto a colocar as cartas na mesa e jogar do seu jeito, mesmo que para isso precise aprender regras novas (ou até esquecê-las por completo).
Eu já te disse tudo que eu podia te falar, mas é estranho que este nó na minha garganta continue seco e apertado cada vez que engulo a saliva não gasta em um beijo que não te dei. E molho meus lábios ressecados com esta língua amolecida e dormente que não é usada para formar aquelas duas palavrinhas que eu queria te falar todas as vezes que nossos olhos se cruzam e meu nariz gelado encosta-se a suas bochechas quentes.
O mundo é tão complicado, e nós dois conseguimos fugir de alguns parâmetros e complicar ainda mais algumas coisas. Você parece que usa camuflagem nesse seu coração, eu nunca o encontro embaixo de sua armadura fria. E eu nem saberia por qual palavra começar se precisasse te falar o que se passa nesse meu músculo bombeador de sangue. Não sei ser distante, eu quero tudo ao alcance dos meus olhos e dos meus sentidos
Você me espanta com suas palavras, que muitas vezes não condizem com gestos. Me desnorteia ao ponto de não possuir mais um pólo magnético nesse meu planeta, e algumas vezes me tira o brilho de Sirius, os faróis que são seus olhos. Falta-me coragem para arriscar, e para desistir: entrego-me a inércia de esperar pelo seu primeiro passo. E me deixo corroer na ansiedade de que esse primo-passo nunca venha.
Antes de você eu tinha um plano bem traçado e pontuado. Que pretensão a sua, chegar e bagunçar todos os meus cronogramas, gráficos e mapas!
Quando foi, que sem perceber, abri a porta para o tufão devastador que é aquele ventinho quente que sai de seus lábios entreabertos enquanto você ressona dormindo?
Recostando-me em sua cama, escuto a água do seu chuveiro que brinca no seu corpo da mesma maneira que eu gostaria de brincar. Sou feliz só por compartilhar, mesmo que apenas auditivamente desse momento com você. Mas porque tanta reserva? Deixe-me entrar nessa sua vida e bagunçar tudo do mesmo jeito que você fez comigo!
Arrisque-se a perder a simetria complexa de suas linhas, e misture-se nas minhas cores.
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