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segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Um pouco da minha vitrine

Hoje eu estava andando comigo mesma na rua, Brontë na bolsa, meu rímel favorito nos olhos e meu sorriso de praxe nos lábios. A cabeça cheia das habituais caraminholas e questionamentos. Meus defeitos expostos na minha vitrine, para que eu visse, tomasse nota do preço de cada um e fosse obrigada a carregá-los todos.


Com minha já conhecida falta de jeito, escrúpulos e vergonha, ostentava minha felicidade em cada um dos 40 dentes que apareciam entre meu lábio superior, que é ligeiramente mais fino que o inferior, e não queria, mas assim, troçava da tristeza das pessoas que passavam ao meu lado e eram menos Samba rock do que eu.

Mas a questão é que morro de medo dos meus defeitos, principalmente os que me pegam se surpresa numa segunda-feira qualquer, fazendo ares de pôr de sol. Que se mostram pequenos como a lua minguante. Mas acabam desaguando tal como um rio que, não vendo outro curso, deságua no mar.

Nem amor ele sabia o que era

De noite antes de dormir, enquanto o mundo choraminga do lado de fora da janela lembrando o dia chuvoso que chegou para encerrar a semana igualmente chuvosa que passou, eu sinto a falta dele de forma tateável.


É uma saudade sem cor de algo que não cheguei a saber o sabor que tinha,o gosto que tem. Nem sei bem quais os planos que ele tinha pra amanhã, mas eu pensava que amanhecer e olhar em suas pupilas já era o bastante, e seu sorriso tinha o dom de iluminar todo o meu mundo.

Ele não tinha o que me oferecer. Nem amor ele sabia bem o que era. Parecia-lhe algo fantástico que se comprava em lojas elegantes num shopping qualquer. E eu fui brincando de usar minha pena para escrever a história dele grudada na minha, e entrelaçando os vês e os is, surgiu um amor, que de tão bonito, nem mesmo aconteceu. Ficou preso entre a vontade e a impossibilidade.

Era algo de fábulas e histórias, não tinha forma ou jeito e entre todos os meus defeitos e as coisas que ele não conhecia do meu mundo, o que sentíamos se perdeu sem ter ao menos acontecido. Nosso enredo não se estendeu além do “era uma vez”.

Hoje vejo pelas ruas as folhas secas que se vão, carregadas pelo vento e que levam consigo o tom amarelado do seu cabelo rebelde. E na imensidão dos destinos paralelos que não aconteceram, o sorriso dele ainda brilha seu branco metálico próximo ao meu riso amarelo, num reflexo obtuso de uma felicidade que não nos pertenceu.

O pequeno principe disse certa vez que olharia os campos de trigo e se lembraria da raposa por causa de sua cor. A flor envolta na redoma também o havia cativado e seria para sempre sua. E lendo as palavras dele eu me pego pensando que, olhando as folhas secas do fim de estação, eu sempre lembrarei dele.

domingo, 18 de setembro de 2011

O peso do Talvez

O problema é que você não me diz nem sim, nem não, me embriaga com seu ‘talvez’. E eu que não sou mulher de meios termos, me encorajo com suas meias palavras e uma vontade de SER que inebria toda a certeza do É.


A confusão é que não existe nem deixa de existir. É que não é, nem deixa de ser. Me sinto no purgatório, no limbo – algum estágio entre o céu e o inferno – entre a certeza absoluta e a dúvida mais atroz.

Não gosto de nada morno, mas me mantenho entre o calor e o frio – frio da tua ausência afetiva, calor das tuas promessas dúbias. Vou contra o que acredito, contra mim, contra você. Não encontro a ponta do novelo e não sei tecer peça alguma para proteger meu orgulho do frio das incertezas. Eu nem tenho mais orgulho, já cansei de te ligar às duas da manhã e sentir o contraste sonoro entre meu “Perhaps love” e a cacofonia de uma festa qualquer que você esteja.

Você me diz que o amor está fora de moda. Que nada é certo neste mundo absurdo e eu me olho no espelho, achando um contra-senso a todas as besteiras que você diz, o brilho de quasar de meus olhos castanhos.

sábado, 17 de setembro de 2011

Tá tudo Nebuloso

O dia amanheceu nublado e na minha cama os lençois nebulosos ainda guardam o aroma e o sabor do seu corpo curvilíneo sobre o meu. Não me levanto da cama desde sábado e na minha frágil imitação de Lennon, falta uma Yoko e vontade para transformar o que sinto em música.


Já tentei me erguer e soterrar sobre o peso da ‘vida-pra-levar’ este nó que está no meu peito e tem a força de empurrar minha cabeça ao travesseiro. Mas não há empuxo no oxigênio ao meu redor que consiga exercer poder o bastante para levantar a mim, minha alma e esse outro sentimento que entrou sem ser convidado, mas que não conserva mais ares de visita.

Eu andei procurando mil motivos para te ter entre minhas vontades e para largar sua perna direita afastanda da esquerda - qualquer motivo que não fosse aquele substantivo inominável de quatro letras e muitas faces, mas perdi meu equilíbrio e esse cara velho de guerra, escolado da vida – ao inclinar o corpo para o seu, sentiu que tinha dois corações no peito ao invés de um. Pronto, bagunça feita.

O que me prende ao travesseiro é a coragem – ou melhor, a falta dela. Esta força que não tenho de bater na sua porta e dizer de cara limpa o que a minha cara suja no espelho ao pé da cama não se cansa de me gritar: Ok seu grande babaca, você se apaixonou por ela.

Agora ando de controle remoto na mão. Por uma questão de gênero eu preciso ter controle sobre algo, nem que seja a tv desligada e que não tenho pique se quer de ligar – Mudar qualquer coisa arruinaria a atmosfera que criei e que chega perto de ser alguma ordem em todo este caos. Apertar um botão poderia me levar a apertar os 8 dígitos que compoem seu número e eu falaria com voz trêmula e rouca que tentei de tudo, mas você grudou em mim como chicletes e que preciso ter de volta aquele sorriso perigoso e a mecha que cai do seu cabelo e que me faz refém.

domingo, 4 de setembro de 2011

A ponte

Queria ter te visto na rua hoje. O céu não tinha uma só nuvem - era claro que não ia chover - e eu sei que seu humor e sua coragem se escondem quando o céu fecha. Por ironia tocou até aquela música que você vivia cantarolando – ou pelo menos na minha memória você cantarolava.


Outro dia passei na sua rua – que nem sei se é sua ainda – e encontrei a farmácia perdida. Acho que ela não se perdeu, nós é que não nos achávamos. E no meio da certeza de que ela de fato existia, senhora de sí e prova de nossa falta de bom senso e localização, eu me peguei pensando em você. Não no que não disse, ou no que poderia ter sido - pensei simplesmente no que foi.

Divisor de águas, ponto de partida, reencontro comigo mesma. Você me entregou de volta a mim e se hoje me percebo entre minha mão direita e minha mão esquerda é porque um dia suas mãos serviram de ponte entre um lado e o outro.

Não discuto mais sobre Chico e Caetano, aprendi a gostar da tropicália da mesma forma que gosto do canto arcano de meu padrinho musical, aquele me ensinou a viver as melodias – o mesmo que você pode culpar pelas minhas altas expectativas amorosas.

E se hoje já não choro pelo que não tenho, é fato que não me entrego tão facilmente frente ao que possuo. E vou levando essa dança, num compasso entre o samba e a bossa, um equilíbrio tenro e necessário que você me ensinou a pesar na balança. Chamam de maturidade, mas para mim é um pós-você.

Foram mudanças demais, eu sei. E talvez não haja um caminho de volta entre minha pureza e esta sabedoria que me seca lágrimas e me torna mais apurada para o que me destinam as Moiras e seus enormes novelos de lã.

Eu só queria ter te visto. Montado em suas fracas certezas e seus muitos rodeios, para te dizer que estava certo. Para te dizer que sua passagem pelo meu palco mudou profundamente este meu Eu mulher: Hoje já não espero tanto, eu tenho muito mais.

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