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segunda-feira, 15 de julho de 2013

Incerto

Eu quero me amarrar a você, mas agora não sei se devo
É que apareceu aquele, que me sorriu tão leve doutra vez
E assim eu já não sei, se maio ou setembro,
Se vestido branco ou a cor da tez

Eu quero sim, acordar do teu lado,
Todo dia ter você aqui,
De fala rouca, ao pé do ouvido
Mas me diz homem, será que já vivi o que era pra ser vivido?

Você me fala de talvez, é concreto, é inquieto
Sobre essa coisa de ventre, incerto
Tanto direto, como quieto,
E esse é o sonho que eu sei sonhar

Eu quero sim, ouvir a música que a gente escolheu
Deitar nos lençóis que sua vó nos deu,
Mas quero meu direito a acreditar
Que o que cada um escolhe, tem chance de realizar

Então o outro chegou tão risonho
Não viveu nada do que eu também não vi
E agora diz, moreno, dá pra arriscar
A chance de felicidade?
É que na minha idade
Tudo ainda é urgência
Demência

Me dá uma luz por ai
me faz de novo
Eu só quero ser amada.

domingo, 14 de julho de 2013

Estou opaca demais

Eu não li o horoscopo. Se for para fazer diferente, começar um ano novo, que tudo se inicie comigo tomando as rédeas das coisas por aqui. Não vou mais deixar que a inclinação da lua em relação a saturno ou mercúrio me digam se devo ter sucesso no amor ou nos negócios. Quero ser feliz nos dois, e não me dou direito a menos do que isso.

Ando cavoucando coisas nos meus velhos escritos, tô terminando o que mal comecei e sinto que tem muita história pra ser escrita por aqui. Dentro de mim. Do meu lado direito e do meu avesso. Eu toco minhas mãos procurando o que se encontra entre elas, um coração que erra, uma mente que sonha e uma mulher completa em si.

Onde guardei aquele desejo de sempre mais? Me disseram que não era certo ser eternamente descontente e eu me contentei em ser inteiramente complacente com o que viesse.

Pego minha mais afiada faca e vou cortando. Vou abrindo caminho ao centro de mim. E pra isso volto. Volto atrás, no meio, na frente. Me deparo comigo mesma refletida em mil espelhos com a idade que não tenho. As vezes muito nova, outras velha demais.


Estou em algum ponto entre gêmeos e leão, entre meu ascendente virgem e minha realidade opaca.

Meu outono

As histórias de amor são como ponto e vírgula em textos densos; fazem a estória fazer sentido e mudam a rota dos acontecimentos.

Não são eternas como pontos finais, nem dúbias como interrogações. São a incerteza da continuidade, são o medo do não, do sim. Medo de mim e de você.
Meu outono chegou mais cedo este ano.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Gandarela

Abri uma gaveta velha,
Dessas emperradas pelo mofo
Amarelada, suja e fosca lá estava ela
A foto na serra do gandarela
Você olhava o horizonte com olhos de porvir
Eu nem entendia bem o que eu fazia ali
Minha face perdida gritava o que eu não quis ver
A vida de comercial de margarina, só era bonita na tevê
Com teus olhos pretos de um escuro sem fim,
Você olhava a lente
Que um estranho apontava para nós
A minha escuridão saia no sorriso amarelo de clichê
Que sorri mais para o estranho que pra você
E embora nossos rostos se alinhassem num encontro amplo
Eu estava em Marte e não ali
Na serra do Gandarela

E num retrato 15 x 21

dois eram menos que um
Eu era menos você

E era muito menos eu.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Tá sempre por aqui, mas não é daqui.


Ela me ligava quando ele a magoava. Eu era um tipo de vingança e subterfúgio, uma vingança de suor, línguas molhadas e olhares tenros, mas sim, vingança e fuga.
No fim ela saia se odiando por ter entrado no ciclo de novo e eu torcendo todos os dedos para que eles brigassem outra vez, que brigassem pra sempre. Quero ela só pra mim.

Ela sempre bate na minha porta as 11, quando bate um friozinho da serra e quando não passa nada de bom na Tv. Chega rindo torto como quem pede desculpa de tocar minha campainha e por todo meu mundo em corrida: me sinto o Bolt quando ela toca meu interfone.

Do sorriso de desculpa ela fala meu nome me chamando de Senhor. Faz a sua cena e eu rio dela e a puxo pelo braço. Beijo sua boca antes que ela tenha desculpa pra falar.Ela diz que não deve, cora as bochechas e eu falo que deve, deve morena, me deve esse e mais uma tonelada de beijos molhados e apreensivos.

Abro um vinho e ela relaxa. Me fala do trabalho, dos sonhos, me fala dela, da amiga. Me fala do sujeito e eu simulo bem que não estou com raiva e troco de assunto assim que posso. Eu tento fingir que ela não é dele e naquelas horas ela acaba sendo minha.

A gente discute por vinte mil assuntos diferentes, não concordamos em nada. Sabemos bem que nosso samba já sambô. Mas eu gosto assim! É que o impossível tem gosto de raridade quando acontece por instantes no descuido das horas.

Ultimamente ele anda magoando-a muito. Ela tá sempre por aqui.

Espero e calo


Ele me acha profunda, mas sou rasa
Crosta fina e sem pudor
Falo, amo, mordo e beijo
Não filosofo pelo que não vejo
Sou pura, crua e puro ardor

Não tenho nada que não se veja
Com um relance de olhar qualquer
Por tê-lo, vê-lo e crê-lo
É o teu zelo meu bem me quer

Despetalada, não me desespero.
Calo e espero

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