Minha loucura nunca me cega, mas me faz achar que a lucidez é uma companheira tão indesejada quanto a ressaca.
Minha lucidez nunca me deixa completamente triste, mas a felicidade que ela trás é banhada por juízo demais para ser plena.
Minha loucura quase sempre me deixa livre, mas às vezes me aprisiona em sua suave dança do ‘tudo-pode’.
Minha lucidez me endurece, mas torna válidas todas as minhas cicatrizes.
Minha lucidez não nasceu velha, mas tornei-a amadurecida dia após dia, em cada vez que meu lado adulto tinha que tomar conta da criança medrosa que eu ainda era.
Minha loucura nem sempre é genial, é muitas vezes simplória demais para entender a plenitude das coisas, mas é sempre tão deliciosa quanto tudo que é realmente bom pode ser.
A lucidez que possuo não me torna menos eu, e a loucura que eu mantenho nunca é demais para meu equilíbrio.
Minha loucura é uma bailarina, mas também advoga por algumas causas.
Minha lucidez é uma advogada, mas dança algumas vezes com a vida.
Eu sou loucura e lucidez, e são as duas que me formam, me transformam, me reformam e me transmutam. A cada dia me reinvento na minha receita de dois ingredientes, que ora tende a um, ora tende a outro.
Não tenho medo de mudanças, esta é minha constante. O que temo são escolhas. Escolher entre a lucidez sensata e a loucura inata me corroem e me tira a linha tênue que equilibra as duas parte do que sou.
Mas minha lucidez não é tão velha e nem minha loucura é tão insensata a ponto de não ponderarem sobre medidas e porções. E me percebo dividida entre o que é certo e o que é bom, e nenhuma das duas me parece uma má escolha.