“Eu
não gosto mais dela” – Não acreditei na minha voz dizendo aquilo, com meu tom
decidido e desbotado, tentei dar algum crédito à voz que falava através de mim.
Categórica em deixar minha menina do lado de fora dessa galáxia, deste planeta
que gira como satélite dela.
Todo
mundo na mesa acreditou piamente nas minhas pálidas palavras, mas eu sabia que
ia sair dali correndo e parar na porta do prédio dela. Ligo, o telefone toca e
ela atende com voz de sono – O que é? – Deve ser saudade, vício – respondo sem
conseguir esconder a ansiedade nestas poucas palavras. Ela abre, eu entro. O
Problema existencial é que ela sempre abre e eu sempre entro.
Ela
me faz um café e eu sento em sua cadeira preferida, boto banca de melhor amigo,
censuro o velho pijama de ursinhos que ela usa e os óculos – Quase ninguém te
viu de óculos, virada do avesso, por dentro - Eu estou ali tocando todos os
pontos delicados, enfiando os dedos nas feridas entreabertas e vendo sangrar.
Implicar com você é minha forma de dizer o que venho calando nesta falsa
indiferença. E ai falo que se fosse eu o cara da tua vida, não te deixava toda
linda de pijamas na sexta a noite, sozinha comendo miojo – vão se embora todas
as minhas tentativas de fugir dela.
Cruel
e categórica, diz que eu cheguei tarde – 3 da manhã marca o relógio – e que lá
se foi a sexta e o macarrão instantaneo. E olhando seus olhos escuros, começa
minha cena de sempre.
Eu não quero ir embora, mas me faço de melodramático, uso
todo meu falso charme aprendido na sessão da tarde que assisto todo dia entre o
estágio e a faculdade, pedindo na negativa que a garota abra espaço no
travesseiro e me realoque entre seus cobertores.
Mas ela nega. Não cai no meu papo de caixa de cereal. Nada
de quebra cabeças de brinde. Ela só não me quer no seu espaço. Faz o discurso.
É o momento. E lá estou eu tentando ter ela pra mim. Mesmo que na manhã
seguinte ela fale a velha frase de sempre “não acho que foi certo” e eu saia
correndo com medo de me afogar no café frio que bebo no batente da porta,
querendo ficar e querendo correr. É que teu sorriso de manhã se apaga e fica
aquela culpa receosa de quem mistura amizade e amor.