Não sei te dizer como a vida anda meu bem. Mas eu tô indo e
ela também.
A gente dorme junto, acorda junto, mas cada vez mais estamos separados. Porque não é só de eu-te-amo-eu-também que vivem as histórias de amor. E porque há muito tempo atrás, um amor que tive me falou que tudo tem data de validade. As coisas vencem e a gente perde.
Já não vejo certo ou errado. Talvez seus erros e suas
bobagens fossem menores e insignificantes, mas eu me cansei de tentar
aceita-las e entende-las. Não acabou o amor. Acabou a paciência.
Vai ver que é aquilo que o cara falou, seja eterno enquanto
dure. E igual a algodão doce muito grande, nosso amor tamanho família, edição
extra, enjoou. Porque o que buscamos com tanto afinco, no final nos soterrou e
nem chegou a ser o que precisávamos.
Eu já separei minhas coisas nos armários e você acaba de
ganhar duas portas e 5 gavetas. É a troca justa do universo. Vão embora algumas
rusgas e feridas mal curadas, os 4 ou 5 quilos que você vai perder e sobra espaço
para os vestidos novos, dois tamanhos menores que comprará.
Chega dessa baboseira de que poderia ter dado certo. Deu
certo, até por tempo demais para manter intacta nossa sanidade. Eu só me cansei
de lembrar de colocar a toalha molhada para secar e você esqueceu o que era ser
você pra mim. Andou se escondendo nos meus antigos gostos e por se parecer
tanto comigo, realizei meu sonho dourado e estou me separando de mim. Eu não
consigo ver dois de mim no espelho do corredor – aquele meio hippie comprado na
feira e que tem formato de sol. Eu não consigo olhar suas havaianas, cor lilás,
do lado da minha cama toda manhã, é um incomodo grande demais em comparação a
pés tão pequenos.
Pode ficar com o livro do Sartre que você gostou, leva
minhas camisetas velhas do Nirvana que você usa pra dormir. Só quero de volta o
meu sossego e a certeza de que amanhã eu não sei nada. Vai ser tudo obtuso sem
rotina, eu sei. Mas eu nunca fui bom com planos.