O céu daquela noite era cinzento e inóspito. O brilho da lua sob o capô do Dodge era a melhor fonte de luz daquela rua escura. A jovem encostada no carro ouvia a música que saia pelos vidros entreabertos do carro, em um volume baixo demais para que qualquer outra pessoa que passasse por ali ouvisse.
O jeans rasgado de sua calça preta deixava transparecer a pele alva, e a blusa preta de gola alta era encimada por um rosto bonito e no momento inexpressivo. Aparentava 20 e poucos anos,embora seus olhos mostrassem a verdade.
Os olhos da jovem, negros como o céu de uma noite sem estrelas varreram o escuro a sua frente e identificaram uma forma na escuridão. Era humanamente impossível ver qualquer coisa a um palmo do nariz, mas Alice podia ver perfeitamente o homem a sua frente. Claro que era simples afinal, ela era uma criatura da noite.
- Você era mais pontual no século passado – brincou a jovem com um sorriso jocoso no rosto de porcelana.
Albuquerque olhou a pequena a sua frente. Não fosse conhecê-la a séculos, poderia pensar que ela era realmente a mulher indefesa que a aparentava ser.
- No século passado você não estaria tão apressada- O homem alto, de sobretudo preto e chapéu respondeu em tom de brincadeira – Não posso dizer que consegui o que você queria. Afinal, não pude abrir a caixa.
Esticando a pequena mão, ela recebeu a diminuta caixa que o vampiro entregava-lhe. Séculos e séculos atrás daquela preciosidade, e ela não podia sequer acreditar que enfim havia conseguido-a.
- Isso – disso apontando para a caixa – Ficará absolutamente entre nós. Você sabe muito bem qual a moeda paga por aqueles que me são desleais.
O vampiro de mais de 300 anos teve que abaixar a cabeça, erguer levemente o chapéu a pequena, e lhe sorrir. A custo. Não gostava de negociar nestes termos. Sempre foi fiel a Alice e seus planos incompreensíveis, e não era o tipo que receberia ordens.
Mas, por outro lado, Sandro Albuquerque era extremamente inteligente. Sabia que não poderia enfrentá-la, e que era sempre melhor ficar do lado vencedor. Embora ele fosse mais alto e aparentasse ser mais forte que a pequena mulher a sua frente, nunca seria mais forte ou rápido que ela.
O homem por fim se virou e voltou andando pela rua. Ainda era cedo, e a noite era da caça.
Alice fechou a mão envolvendo a caixa e enfiou-a no bolso do jeans. Observou o homem afastar-se e sumir na escuridão. Passou a mão pelos longos cabelos ondulados e colocou-os atrás da orelha. Lembranças inundaram sua mente, e o motivo para procurar tão avidamente aquela caixinha sobrepôs-se a todos os demais pensamentos. Dentro, um segredo que poderia salvá-la do absurdo que vivia a mais de 8 séculos.
Este texto foge um pouco da proposta do blog, mas é algo para o qual tenho dedicado tempo e carinho :) Espero que consiga continuar rs.